Paixões são sinônimos de alegria ou sofrimento? Falta ou posse? Nos faz bem ou pelo contrário, nos faz mal? É justamente nessa linha de raciocínio que iremos refletir juntos essa semana minha querida leitora, meu caro leitor, posso contar com sua companhia? Espero que sim, pois então, não percamos mais tempo.
Pois bem, é partir dessas inquietações e provocações expostas acima que inicio trazendo como ponto de partida um grande nome da filosofia grega: Platão, discípulo de Sócrates, um grande pensador e escritor, didático que expôs num livro chamado O Banquete o significado da palavra amor. Este filósofo definiu amor como sendo sinônimo de desejo e desejo está associado a uma paixão. Desejamos aquilo que não temos.
Segundo Platão, em sua proposta filosófica, havia o chamado ‘Mundo das Ideias’, um mundo perfeito onde não se havia necessidade alguma, onde não se havia desejo, pois neste mundo ideal e perfeito estaríamos satisfeitos, seria tal como o céu do idealismo cristão.
Vale ressaltar que a ideia de Platão veio antes de Cristo, cerca de 500 anos, e o principal entendimento que se pode tirar disso é que desejamos o que ainda não temos, ou seja: o acesso ao mundo das idéias. Depois desse desejo metafísico adentraremos nos desejos corporais nos parágrafos que seguirão.
Pois bem, partindo dessa base, é possível estender o conceito de paixões, conceito este que vai muito além do convencional que ouvimos e utilizamos em nosso cotidiano, tal como fulano está apaixonado por tal pessoa, cicrano está apaixonada por beltrano… A paixão, aqui em Platão, está associada aos diversos desejos, prazeres e a satisfação dos mesmos, sendo eles desejos, que estão embasados na falta deles.
Paixão, segundo a filosofia grega, pode ser escrita como “pathos”. Palavra bonita, não é mesmo? O ponto aqui é: você já parou para pensar no termo em que a medicina se refere às doenças, as mais diversas possíveis? É familiar a palavra patologia? Pois bem, seria então paixão uma doença? Estar apaixonado é sinônimo de algo mal para quem o sente? Eis aí a proposta da filosofia raiz: a de provocar!
A partir do que fora exposto até o dado momento, paixão é o desejo por aquilo que não temos e se pensarmos que não ter algo nos faz correr atrás ardentemente por obter aquilo que não temos é o que nos motivará, até que ponto estaremos satisfeitos se obtivermos o que almejamos? Até que ponto iremos suportar a pressão externa e principalmente a interna para que consigamos conquistar aquilo que nos falta? É a partir do momento que temos essa base filosófica, que podemos então trazer a tona nossa realidade atual: a da transição de geração, a da mudança de era, a da abdicação da segurança em busca do desejo da liberdade.
Já parou para pensar que hoje em dia, cada vez mais estamos sendo como que encurralados a seguir os caminhos da era digital?! Tudo hoje em dia caminha para que eu e você tenhamos uma vida digital, a comunicação já não mais a mesma, a vida já não é mais a mesma, o que nos aguarda eu sinceramente não sei… É uma troca da segurança e conservadorismo para uma era onde a autonomia e a liberdade falam mais alto, mesmo que sem saber o desfecho e o destino dessa trajetória. O que posso aqui constatar é o desejo de ter e pior, o desejo de ser, seguindo grandes influencers das mídias digitais em geral.
O futuro me parece estar sendo direcionado para a era do marketing digital, onde tudo é business, onde tudo é venda, produto, investimento, lucro, onde inicia-se com um vídeo que viraliza (o termo vírus aqui já não lá dos mais otimistas, haja vista que um vírus, tal como o recente Covid não nada positivo…) .
A partir da viralização de um vídeo a pessoa que o postou é acessada rapidamente e da noite para o dia torna-se celebridade e sendo assim ela passa a ser seguida, e observada por grandes marcas que possam patrociná-las até que o investimento a tal pessoa destinada lhes sejam convenientes.
Amor segundo Platão é desejo, desejamos o que nos falta e isso está associado a paixão e a patologia(uma doença) e a pergunta que nos fica é: qual a linha tênue entre lutar para conquistar o que se deseja e se frustrar uma vez que não se consegue obter o que o influencer tem, ou o que a mídia vende e anuncia como sendo fácil? Como lidar com a vida perfeita que nos é oferecida pelas mídias digitais em geral?
Essas mídias nos vendem a ideia da vida perfeita, tal como grandes gurus da autoajuda que dão palestras motivacionais que mais desmotivam, pois você se enxerga um ser humano frágil e não de ferro, que luta, mas nem sempre vence e fica longe, bem longe, distante do ideal de vida que o palestrando expôs.
Cuidado com o que você ouve e vê por aí, principalmente nas redes sociais: há muitas máscaras midiáticas onde pessoas estão sempre bem, felizes, sorrindo, onde a vida perfeita, os relacionamentos perfeitos, os empregos ideais são expostos e ofertados em forma de cursos, treinamentos… Tudo para lucrar à custa dos seus sonhos, um sonho singelo de ter uma vida melhor. Nessa ocasião chega a ser positivo estar na sua zona de conforto, pois pelo menos assim você não deseja ter ou ser igual a ninguém!
Termino trazendo pela última vez, prometo, a exposição de Platão acerca do que seja amor, sinônimo de desejo, e que desejamos o que falta, aquilo que não temos ou quem ainda não somos e isso pode nos fazer perder o equilíbrio emocional, pode nos fazer perder o senso crítico nos fazendo cair de cabeça em algo que não depende de nós e que pode acarretar em doenças,patologias,tanto mentais como psicossomáticas.
Fica o alerta a você que me acompanhou nessa reflexão, lhe aguardo na próxima semana e espero de coração que você possa ter tirado algum proveito do que aqui escrevi, do que aqui refleti, pois isso é o que me motiva a escrever esses ensaios filosóficos. Até mais.
Thiago Pontes é filósofo e neurolinguista (PNL) – Instagram @institutopontes_oficial