No último dia 17 de março participei a convite da presidência do Conselho de Desenvolvimento de Região Metropolitana de Campinas e em conjunto com o Instituto “Movimento Cidades Inteligentes” do evento “Infratech – Gestão Pública Inteligentes”. A iniciativa contou com a presença de várias autoridades locais, regionais, estaduais e federais e tinha como objetivo discutir o tema da Saúde, sempre desafiante e multifacetado.
Foram muito importantes as apresentações e os debates sobre a atualização do planejamento estratégico da saúde na RMC sob as óticas da academia, do setor produtivo e dos poderes instituídos, tanto municipais como estadual. Foi debatido e apresentado o projeto de construção de um novo Hospital Metropolitano no sentido de desafogar a pletora do cuidado aos cidadãos feitos pelo Hospital das Clínicas da Unicamp no campus universitário da universidade com o apoio material e logístico do Governo do Estado de São Paulo.
Tive a oportunidade de apresentar e destacar a importância do planejamento de saúde pós-pandemia que foi desenvolvido e apresentado em artigo anterior desta coluna (1) e detalhado em livro publicado ao final de 2022 (2). Neste evento pude reforçar ações que julgo fundamentais ao futuro da saúde pública, não só em nossa região como em nosso estado e país.
Coloquei a importância da manutenção de conselhos superiores e gestores assessorando as Secretarias de Saúde, tanto estaduais como municipais, para que, de maneira transversal e continua, ofereçam dados técnicos e científicos que ajudem as autoridades nas tomadas de decisão. Certamente, as melhores decisões são aquelas lastreadas na ciência e nas melhores evidências.
No trabalho feito na (Secretaria de Ciência, Pesquisa e Desenvolvimento em Saúde) SCPDS-SP onze grupos temáticos, com centenas de colegas, cientistas, médicos, profissionais de saúde e de outras áreas do conhecimento, trabalharam intensamente na finalização de projetos que pudessem auxiliar os novos governos em suas ações futuras. É claro que nem todas as áreas foram abrangidas, seria humanamente impossível com o tempo que tivemos (oito meses), mas muito foi feito e deixado como legado.
Eu gostaria de destacar neste texto três temas que são fundamentais a nossa região e ao Estado de São Paulo: 1- construirmos centros monotemáticos de atendimentos integrados especializados: Oncologia/Hematologia, Cardiovascular, Pediatria e Centro de Trauma; mas outros poderiam ser pensados e implantados na mesma infraestrutura; 2- A Indústria da Saúde de São Paulo com base no Instituto Butantan e na FURP (fundação para o remédio popular), com o apoio da Fundação Butantan, para a produção de fármacos e imunobiológicos e 3- Implantarmos com base no que já temos em nossas Secretarias, Universidades, Institutos etc. algo semelhante a uma CDC (Center of Control Diseases).
Estas ideais são absolutamente factíveis e necessárias ao Estado de São Paulo e ao país para que possamos estar organizados e estruturados aos desafios do presente e do futuro.
Com um Centro estratégico aos desafios do futuro poderíamos enfrentar novas epidemias e pandemias, desenvolver novas ações contra o câncer e doenças cardiovasculares (que matam um enorme contingente de cidadãos) e tomarmos as melhores decisões a tempo e a hora quando os problemas surgirem. Além disto, estaríamos aptos a articular cooperações fundamentais com órgãos de fomento às pesquisas e à inovação tanto o âmbito público como privado. Poderíamos estar atentos e rapidamente assimilarmos novas tecnologias desenvolvidas no país ou “importadas” de países parceiros e instituições parceiras.
Neste evento apresentei superficialmente duas absolutas novidades em nossa região e Estado que são a implantação do CEPID (Centro de Pesquisa, Inovação e Difusão) na abordagem teranóstica do Câncer, decisivamente apoiado pela Fapesp e sobre as possibilidades de implantação da terapêutica com as Car-T Cells no âmbito do SUS e da academia em nosso Estado com a participação da USP, Unicamp, Butantan, dentre outras.
Sinceramente, não podemos mais ser surpreendidos por “tragédias” na saúde. Devemos e podemos nos preparar de maneira adequada e com excelência.
Basta que estejamos juntos e com projetos responsáveis e consequentes. As iniciativas como da RMC em colocar todos juntos, pensando, debatendo e sinalizando para as melhores soluções, são muito importantes. Vamos fazer das diferenças a nossa riqueza e nossas oportunidades.
(1)- Carmino De Souza: Resultados Fundamentais da Secretaria de Ciência, Pesquisa e Desenvolvimento em Saúde de São Paulo – Hora Campinas – 09/01/2023.
(2)- David Uip e Rodrigo Garcia: Diagnóstico e Diretrizes – Secretaria de Ciência, Pesquisa e Desenvolvimento em Saúde. CaravelasLab, páginas 1-168, 2022.
Carmino Antônio De Souza é professor titular da Unicamp. Foi secretário de saúde do estado de São Paulo na década de 1990 (1993-1994), da cidade de Campinas entre 2013 e 2020 e Secretário-executivo da secretaria extraordinária de ciência, pesquisa e desenvolvimento em saúde do governo do estado de São Paulo em 2022. Atual presidente do Conselho de Curadores da Fundação Butantan.