Como atrair e manter os jovens em projetos ou cursos que possam ser sementes para despertá-los ou prepará-los para o mundo do trabalho? Esse sempre foi um dos questionamentos e desafios da equipe que atua no Centro Comunitário Jardim Santa Lúcia, que funciona desde 1985 em Campinas.
“Já fazia algum tempo que nós estávamos buscando emplacar projetos que conquistassem a atenção dos jovens. Chegamos até a fazer uma pesquisa entre os adolescentes para saber sobre os sonhos e desejos deles. Em 2018, a FEAC (Federação das Entidades Assistenciais de Campinas) nos indicou para o empresário Sergio Sapia, proprietário de uma empresa de drones que sonhava em fazer um projeto social com jovens da periferia de Campinas e prontamente acolhemos a ideia dele”, conta Ricardo Leite de Moraes, coordenador do Centro Comunitário Jardim Santa Lúcia.
Foi aí que nasceu o projeto-piloto intitulado Drone Para Todos, que depois se tornou o Câmera na Mão Ideia na Cabeça, em 2018. O nome é inspirado na famosa frase-conceito do cineasta Glauber Rocha para falar do Cinema Novo brasileiro.
O objetivo inicial do Drone Para Todos era ensinar a pilotar drones para desenvolver diferentes potencialidades nesses garotos e garotas, mostrando, a partir do território deles, um novo olhar do mundo. No curso, eles aprendiam a operação básica de um drone, mapeamentos, fazer fotos e vídeo. “Percebíamos que as aulas despertavam nesse público o interesse para novas profissões que têm surgido e que agora foram até aceleradas por conta da pandemia do coronavírus. No projeto-piloto já começamos a incluir noções de vídeo, gravação e edição”, destaca Ricardo.
Com a semente que esse empresário plantou na cabeça e no coração desses jovens, o projeto foi sendo ampliado e, além do drone, os adolescentes começaram a aprender sobre o funcionamento de câmeras, a ter aulas de produção de vídeo, desenvolviam roteiros, captavam as imagens, editavam os vídeos, possibilitando que esses jovens tivessem acesso à inclusão digital e social. “As aulas eram disputadas e aguardadas por esses jovens que se encantaram com o que podiam fazer com uma câmera na mão”, lembra Ricardo.
O empresário que trouxe a ideia teve que se afastar do projeto por conta de outros compromissos de trabalho, mas é um grande entusiasta do Câmera na Mão Ideia na Cabeça, que promove a formação teórica e técnica de 40 adolescentes e jovens de 15 a 25 anos, por ano. “O intuito é contribuir para ampliação do universo informacional, cultural e tecnológico desses jovens”, conta Ricardo.
“Em 2019, o projeto foi selecionado para receber patrocínio do Instituto EPTV e também do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) do Jardim Santa Lúcia. Com isso, conseguimos comprar todos os equipamentos necessários para o curso, entre eles drone, câmeras, computador e ilha de edição”, conta Ricardo.
O roteiro do projeto também traz cenas de transformação de vidas para o futuro. “Acompanhando as turmas que passaram pelo curso percebemos uma grande motivação e sede de aprender nesses jovens. Muitos se encantam com o aprendizado e querem seguir carreira. Outros sonham com outras profissões e pretendem usar o aprendizado da produção de vídeos para potencializar seus futuros ofícios”, destaca Ricardo.
Novas possibilidades
Outro fruto gerado pelo Câmera na Mão Ideia na Cabeça foi a consolidação de uma produtora de vídeo. “Vimos o potencial e a empolgação desses jovens e, com os equipamentos em mãos, estamos abrindo uma produtora. Para isso estamos aproveitando o talento dos jovens com as câmeras e já temos documentários de empresas em processo de finalização e outros que estão em produção. O mercado audiovisual traz um grande leque de possibilidades nas profissões atuais e também do futuro”, conta o coordenador.
Ricardo acredita que o projeto Câmera na Mão Ideia na Cabeça contribui com a promoção do senso de igualdade e convida os jovens a desenvolverem o pensamento crítico.
“Percebemos em cada turma que passa pelo projeto que estamos ajudando a plantar esperança de um futuro melhor por meio do estímulo da criatividade infinita que o universo tecnológico pode oferecer”, diz.
Centro Comunitário Jardim Santa Lúcia
O Centro Comunitário do Jardim Santa Lúcia é uma Organização da Sociedade Civil, fundada em 1985, com caráter beneficente e de assistência social, sem fins econômicos e cuja missão é promover a defesa dos direitos e o exercício da cidadania.
A Organização atua na área da Assistência Social, executando Serviços de Proteção Social Básica e de Proteção Social Especial de Média Complexidade, mantendo um total de 420 participantes e 120 famílias, além de projetos socioeducativos diversos com apoio de parceiros, financiadores e patrocinadores.
Kátia Camargo é jornalista e achou linda a forma de contar e eternizar diferentes histórias por meio do projeto Câmera na Mão Ideia na Cabeça. Glauber Rocha tinha uma frase que conversa muito com esse projeto: “A arte não é só talento, mas sobretudo coragem”. E nesses jovens são plantadas sementes de agir com o coração!