Pelo menos 1.386 pessoas foram detidas na Rússia nos protestos realizados nesta quarta-feira (21) contra a mobilização parcial de cidadãos decretada pelo presidente russo, Vladimir Putin, para combaterem na guerra na Ucrânia, declarou a organização não-governamental OVD-Info. “Pelo menos 1.386 pessoas foram detidas em 38 cidades”, afirmou na rede social Telegram a organização independente, que rastreia as detenções e já foi declarada “agente estrangeiro” pelas autoridades russas.
Na tarde de quarta-feira, a OVD-Info havia informado que mais de 1.113 pessoas já tinha sido detidas em protestos em 38 cidades russas.
A organização de direitos humanos relatou detidos em Moscou, São Petersburgo, Ecaterimburgo, Perm, Ufa, Krasnoyarsk, Chelyabinsk, Irkutsk, Novosibirsk, Yakutsk, Ulan-Ude, Arkhangelsk, Korolev, Voronezh, Zheleznogorsk, Izhevsk, Tomsk, Salavat, Tyumen, Volgogrado, Petrozavodsk, Samara, Surgut, Smolensk, Belgorod e outras cidades.
Segundo a OVD-Info, a polícia agiu com violência contra os manifestantes e entre os detidos estão vários jornalistas.
O Ministério Público de Moscou advertiu de que punirá com até 15 anos de prisão a organização e participação em ações ilegais. Também será punida administrativa ou criminalmente a difusão de convocatórias para participar em ações ilegais ou para realizar outros atos ilegais nas redes sociais, bem como fazer apelos a menores de idade para participarem em atos ilegais.
De acordo com os últimos dados da OVD-Info, 509 pessoas foram detidas em Moscou e pelo menos 541 em São Petersburgo, a segunda maior cidade do país.
Na quarta-feira, o presidente russo declarou que o número de pessoas convocadas para o serviço militar ativo seria determinado pelo Ministério da Defesa, e o ministro da Defesa, Sergei Shoigu, disse numa entrevista televisiva que 300 mil reservistas com experiência relevante de combate e serviço serão inicialmente mobilizados.
Além da convocação de protestos, a Rússia tem também assistido a um acentuado êxodo de cidadãos desde que Putin ordenou que o exército invadisse a Ucrânia, há quase sete meses.
No discurso que proferiu na quarta-feira ao país, em que anunciou uma mobilização parcial dos reservistas, Vladimir Putin também fez uma ameaça nuclear velada aos inimigos russos do Ocidente.
A ofensiva militar lançada a 24 de fevereiro pela Rússia na Ucrânia causou a fuga de mais de 13 milhões de pessoas – mais de seis milhões de deslocados internos e mais de 7,4 milhões para os países europeus -, de acordo com os mais recentes dados da ONU, que classifica esta crise de refugiados como a pior na Europa desde a Segunda Guerra Mundial (1939-1945).
A invasão russa – justificada pelo presidente russo, Vladimir Putin, com a necessidade de “desnazificar” e desmilitarizar a Ucrânia para segurança da Rússia – foi condenada pela comunidade internacional, que tem respondido com envio de armamento para a Ucrânia e imposição à Rússia de sanções políticas e económicas.
A ONU apresentou como confirmados desde o início da guerra 5.916 civis mortos e 8.616 feridos, sublinhando que estes números estão muito aquém dos reais.
Kremlin vê exagero
O Kremlin considerou que as notícias sobre a existência de filas para sair do país após a entrada em vigor da mobilização parcial ordenada pelo presidente russo, Vladimir Putin, são exageradas. “Os relatos de que há um certo burburinho nos aeroportos são muito exagerados”, disse o porta-voz presidencial russo, Dmitri Peskov, durante uma conferência de imprensa, alertando para a existência de “muita informação falsa”.
Peskov respondia a uma pergunta sobre as notícias divulgadas em vários meios de comunicação sobre as filas de pessoas nos postos fronteiriços, tentando abandonar a Rússia, bem sobre a compra intensiva de passagens aéreas para destinos onde os russos não precisam de visto de entrada.
A mobilização parcial ordenada por Putin, na quarta-feira, para enfrentar os reveses militares na Ucrânia, provocou uma onda de protestos nas principais cidades russas, que resultaram em mais de 1.300 detidos.
O movimento pacifista Vesná (Primavera) convocou para sábado um novo protesto nacional contra a mobilização parcial.
“A mobilização já está a ocorrer ativamente em todo o País. Em breve, milhares dos nossos homens serão enviados para a frente de batalha. Podemos e devemos manifestar-nos contra isso!”, disse o movimento na conta da rede social Telegram.
(Agência Lusa News)