Caminhamos nós para uma era narcisista? Uma era onde olhamos apenas para nós mesmos onde tudo tenha que fazer sentido para nós e o mundo em torno de nós deva girar? A reflexão de hoje é sobre esse tema: o narcisismo. Gostaria de convidar você a refletir comigo sobre esse Fato Social Patológico, como diria o grande sociólogo francês Émille Durkheim, você me acompanha? Ótimo, sua companhia aqui é fundamental.
Pois bem, se nos retirarmos do “campo desse jogo da vida”, tal como sugere a sociologia de Durkheim, percebemos que estamos adentrando de cabeça em uma era onde as pessoas estão cada vez mais necessitando de atenção, principalmente de modo virtual.
A essa tendência a psicanálise dá o nome de Narcisismo (termo adotado por Freud). Tal “diagnóstico” psicológico e psicanalítico advém de um mito, o mito de Narciso, lá atrás na Grécia Antiga.
A versão literária mais conhecida é a que se encontra em As Metamorfoses. Segue um trecho do original: “… um menino tão lindo que as Ninfas já eram apaixonadas por ele desde pequeno. Narciso era seu nome. Perto dali no jardim onde ele sempre frequentava para caçar havia uma fonte cuja água era pura, prateada, desconhecida dos pastores. Foi ali que, cansado da caça e do calor do dia, Narciso foi se sentar, atraído pela beleza, o frescor e o silêncio do lugar. Mas, enquanto saciava a sede que o devorava, sentiu nascer outra sede, mais devoradora ainda. Seduzido por sua imagem refletida na superfície, ele apaixonou-se por sua própria imagem. Ele confere corpo à sombra que ama: admira-se, fica tão imóvel a olhar que parecia uma estátua de mármore. Ele admira enfim a beleza que o leva a admirar. Imprudente! Ele se apaixona por si mesmo: ele é, ao mesmo tempo, amante e objeto amado; chora emocionado com tal beleza e na água se joga, buscando a beleza de si assim morrendo afogado.”
Partindo do exposto acima, Narciso é o símbolo da busca de si mesmo. Para compreender a importância dessa personagem na Grécia Antiga, é preciso lembrar que lá ainda não se compreendia o exercício da introspecção no sentido que se dá ao termo hoje. Para os helenos, filósofos na Grécia, ao buscar a si mesmo, o indivíduo procura-se e encontra-se no outro.
Feita a cama, lhe convido a refletir sobre esse mito da Grécia Antiga aplicada em nossa atualidade, em um mundo onde tudo gira em torno de redes sociais, engajamento, curtidas, likes, seguidores, um mundo onde não há mais tempo para ser, mas apenas para parecer.
Parecer! É apenas isso que importa. Tomo aqui a liberdade de parafrasear o grande dramaturgo William Shaksepeare: “Ser ou parecer; eis a questão!”.
Crítica essa feita pelo filósofo grego Starobinsk, em sua obra Transparência e Obstáculo. Uma crítica semelhante fora feita pelo grande sociólogo polonês Bauman, onde este constata que nessa geração nada fora feito para durar, e me parece que ele tem razão, pois não basta uma foto, não basta uma self, é necessário duas, três, quatro, uma em cada lugar, mostrando o que se come, o que se bebe, o que se veste, os lugares que frequenta, quem se é, ou melhor: quem parece-se ser!
Você se identifica como sendo uma pessoa narcisista? Uma pessoa que espera que todos olhem para você, que necessita ser o centro das atenções, que quer o reconhecimento e aprovação seja se mostrando, seja gritando, se vitimizando, competindo para ser sempre o melhor?
Não tenho eu autonomia para dar diagnósticos, mas fica a sugestão para você que lê esse artigo a parar e refletir sobre esse tema. Creio que isso, em médio prazo possa acarretar sérios problemas psicossociais e socioemocionais. Um grande abraço.
Thiago Pontes é filósofo e neurolinguista (PNL) – Instagram @institutopontes_oficial