Com vasta experiência em casos de alta complexidade da uro-oncologia e com uma sólida formação técnica, acadêmica e humanística, o médico Fernando Zapparoli Gonçalves, 43 anos, tem sido um exemplo bem-sucedido de como a telemedicina está revolucionado o atendimento de rotina nos consultórios nesta pandemia do novo coronavírus. Trata-se de um recurso que avança não só em razão da necessidade de distanciamento social, mas também por ser um caminho inexorável da prestação de serviços da medicina, uma profissão essencial e que tem sido bastante exigida nesta grave crise sanitária em todo o mundo. Dr. Fernando Zapparoli Gonçalves, MD, PhD, tem cada vez mais atuado fora de sua base principal de trabalho, Barretos e São José do Rio Preto, Interior de São Paulo. O membro titular da Sociedade Brasileira de Cancerologia e da Sociedade Brasileira de Urologia tem atendido em Campinas também, solicitado para agir na oncologia cirúrgica por conta de casos difíceis.
Nesta entrevista ao Hora Campinas, o uro-oncologista, que já teve Covid no ano passado, faz um panorama do impacto da doença em sua área, comenta sobre as sequelas mais comuns que tem observado nos pacientes, reforça a necessidade das medidas de prevenção e destaca a força da fé. Além disso, salienta como a tecnologia, efetivamente, trabalha a favor da cirurgia e do cirurgião. O médico também falou sobre o trabalho que apresentou à Prefeitura de Barretos e ao Ministério Público na busca de um protocolo eficiente de prevenção primária e secundária.
Hora Campinas – O sr. poderia fazer uma apresentação pessoal?
Dr. Fernando – Obrigado pela oportunidade da entrevista e sucesso ao projeto do Hora Campinas. O Brasil precisa de veículos sérios, que façam um jornalismo independente e analítico. Conheço parte do time de vocês e posso atestar que formam uma equipe muito muito competente. Sobre o meu currículo, sou doutor em Urologia pela Universidade de São Paulo (USP) e membro titular da Sociedade Brasileira de Cancerologia e da Sociedade Brasileira de Urologia (SBU). Tenho amplo conhecimento cirúrgico laparoscópico e tradicional para tumores de próstata, rins, bexiga, ureteres e pênis por ter sido titular do Departamento de Uro-oncologia do Hospital de Amor/Hospital de Câncer de Barretos (2010-2016), unidade que é referência nacional em câncer. Ensinei durante este período Uro-oncologia a dezenas de urologistas e cirurgiões oncológicos de todo Brasil que procuram esta instituição para fazer Residência Médica e Fellow. Também atendo e trato casos urológicos gerais como cálculos renais, hiperplasia prostática benigna, infecções urinárias, disfunção erétil, vasectomia, dentre outros. Sou graduado em Medicina pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo em 2002. Concluí a Residência Médica em Cirurgia Geral pela Universidade Federal de Uberlândia-UFU (2004-2005), Residência Médica em Cancerologia Cirúrgica pelo Hospital A.C. Camargo/ Fundação Antônio Prudente (2006-2007) e Residência Médica de Urologia na Universidade Federal de Uberlândia-UFU (2008-2010). Foram 7 anos de Residência Médica em diferentes e renomadas instituições de ensino. Todas através de concurso público de difícil aprovação. Além dos 5 anos de Doutorado em Urologia (Cirurgia) na Universidade de São Paulo – USP, concluído com sucesso e aprovação. Temho Título de Especialista em Cirurgia Geral pelo Colégio Brasileiro de Cirurgiões (RQE nº 24.822), Título de Especialista em Cancerologia Cirúrgica pela Sociedade Brasileira de Cancerologia (RQE nº 35.829) e Título de Especialista em Urologia pela Sociedade Brasileira de Urologia (RQE nº 50.211). Foram títulos conferidos após aprovação em avaliação/prova das respectivas sociedades. Atualmente trabalho como Urologista, Cirurgião Oncológico e Uro-oncologista em meu consultório particular em Barretos e em São José do Rio Preto no Instituto do Câncer Rio Preto. Atuo como Uro-oncologista na Santa Casa de São José de Rio Preto, Hospital São Jorge e Santa Casa de Barretos-SP. Faço parte do Corpo Clínico de diversos bons hospitais.
HC – Onde o sr. realiza as cirurgias?
Dr. Fernando – Posso operar com minha equipe cirúrgica em Barretos-SP (Hospital São Jorge, Santa Casa de Barretos e Hospital de Amor Nossa Senhora), São José do Rio Preto-SP (Hospital Austa, Hospital Santa Helena, Hospital Beneficência Portuguesa e Santa Casa de Rio Preto), Campinas-SP (Hospital Vera Cruz), Uberlândia-MG (Hospital Santa Genoveva e Madrecor) e São Paulo-SP (Hospital Nove de Julho).
HC – O sr. tem um excelente currículo e uma formação cirúrgica bastante sólida.
Dr. Fernando – Muito esforço e dedicação, apoio de colegas, e a inspiração do meu pai, Dr. Miguel Gonçalves, um dos precursores do Hospital de Amor, em Barretos. Ao lado de outros renomados cancerologistas, meu pai ajudou a qualificar o ensino e o tratamento do câncer, além do acolhimento aos pacientes. Tive o privilégio de construir uma larga experiência por meio de centenas de cirurgias muito bem-sucedidas e da atividade de docência/preceptoria médica. Além disso, seja no meu consultório ou no relacionamento com os pacientes e suas famílias, busco exercitar na prática o atendimento humanizado.
HC – O sr. tem sido também muito procurado para dar a chamada “segunda opinião” sobre casos complexos. É isso mesmo?
Dr. Fernando – É isso mesmo. Tenho sido procurado para discutir casos difíceis, como cirurgião, nos mais concorridos centros urbanos brasileiros.
HC – De que forma a Covid-19 afetou a rotina no consultório?
Muitas consultas passaram a ser realizadas de forma remota (por telemedicina), com grande conforto e comodidade para o paciente. Exames são encaminhados de forma on-line antes da consulta para serem avaliados previamente. Por videochamada realizamos a anamnese e história da doença. Exames complementares e consulta presencial podem ser necessárias, porém desta forma minimiza bastante a exposição do paciente a um eventual contágio por Covid-19. Principalmente no meu caso, que sou especializado em casos oncológicos, uma vez que sou oncologista cirúrgico e urologista, tenho realizado inúmeras consultas para segunda opinião por via remota. Também vejo que alguns pacientes ficaram com medo de procurar assistência médica por motivos que julgassem menores, para realizar prevenção e exames de rotina. Isto pode levar a uma “retenção de casos oncológicos” ou de outras patologias, que podem determinar futuramente muitos óbitos potencialmente evitáveis, em um período de pós-pandemia.
HC – Durante este pico de Covid-19, as cirurgias continuam sendo realizadas normalmente?
Atualmente nesta fase de aumento do número de casos Covid-19 as cirurgias consideradas eletivas estão suspensas em muitos municípios. Os casos oncológicos, onde o retardo no tratamento pode piorar os resultados, também estão sendo suspensos devido à falta de leitos de UTI ou por falta de medicamentos anestésicos utilizados durante cirurgia.
Muito esforço e dedicação, apoio de colegas, e a inspiração do meu pai, Dr. Miguel Gonçalves, um dos precursores do Hospital de Amor, em Barretos. Ao lado de outros renomados cancerologistas, meu pai ajudou a qualificar o ensino e o tratamento do câncer, além do acolhimento aos pacientes. Tive o privilégio de construir uma larga experiência por meio de centenas de cirurgias muito bem-sucedidas e da atividade de docência/preceptoria médica. Além disso, seja no meu consultório ou no relacionamento com os pacientes e suas famílias, busco exercitar na prática o atendimento humanizado.
HC – Há relatos de quais possíveis sequelas a Covid-19 deixará nos pacientes que foram infectados? E no tocante aos pacientes da urologia, a sua especialidade?
Dr Fernando – As principais sequelas são as pulmonares: fibrose pulmonar crônica, limitação para realizar atividades físicas ou até mesmo as atividades habituais do paciente. Também temos observado perda de memória e da boa cognição, principalmente em idosos. Alguns pacientes que tiveram acometimento cardíaco pelo vírus podem desenvolver algum grau de cardiopatias e arritmias. Em relação a minha especialidade muitos pacientes que tiveram Covid-19 tem procurado atendimento por dores lombares e cálculos. Muitos cálculos pouco sintomáticos foram descobertos durante exames de imagem realizados por causa do Covid-19. Muito ainda se tem para aprender sobre o vírus e suas sequelas por se tratar de uma doença relativamente nova para medicina.
Muitas consultas passaram a ser realizadas de forma remota (por telemedicina), com grande conforto e comodidade para o paciente. Exames são encaminhados de forma on-line antes da consulta para serem avaliados previamente. Por videochamada realizamos a anamnese e história da doença. Exames complementares e consulta presencial podem ser necessárias, porém desta forma minimiza bastante a exposição do paciente a um eventual contágio por Covid-19.
HC – Quais as orientações que o sr. tem dado aos seus pacientes sobre a pandemia?
Dr. Fernando – Não deixar de se prevenir, principalmente da parte oncológica e cardiológica, uma vez que, estas patologias não esperarão a pandemia acabar! Usar máscaras, lavar as mãos, tirar sapatos antes de entrar em casa, evitar aglomerações, tomar as vacinas quando chegar a vez. E nunca deixar de ter fé!!
HC – O sr. teve Covid no ano passado. Pode contar como foi essa experiência?
Dr. Fernando – Foi período muito difícil, quando a falta de ar chegou e meus exames laboratoriais indicavam uma piora no meu quadro clínico. Graças a Deus e aos bons médicos que me assistiram de forma presencial e remota estou aqui podendo dar meu relato.
HC – O sr. está participando de um trabalho junto ao Ministério Público e Prefeitura de Barretos relacionado à pandemia de Covid-19. Poderia falar um pouco sobre isso?
Dr. Fernando – Tive a oportunidade de expor minhas ideias. A prefeita (Paula Lemos) e o promotor de Barretos foram duas pessoas incríveis porque deram oportunidade a um cidadão de bem dar sua opinião. Ambos me ouviram em reunião. Como fiquei 13 dias trancado no meu quarto em quarentena pude estudar, com o auxílio da internet, bastante sobre o tema e sobre o que era realizado em vários países desenvolvidos. O que tinha dado certo e o que tinha alcançado poucos resultados. Pensei em ajudar nem que fosse só um pouquinho os cidadãos barretenses e coloquei no papel as ideias sobre prevenção primária/secundária e adaptá-las para nossa realidade local.
HC – O senhor pode detalhar um pouco mais sobre esse protocolo de prevenção primária e secundária que fora apresentado para a Prefeitura de Barretos e Ministério Público?
Dr. Fernando – De uma forma simples eu expliquei o que era realizado atualmente na maioria dos municípios de pequeno e médio porte e de que forma poderia ser melhorado. Pacientes contraem a doença dentro da área onde residem, ou seja, em nossa comunidade. Este paciente quando sintomático, procura atendimento presencial na UPA pelo SUS ou Santa Casa/ Hospital Municipal se possuir convênio. Também pode realizar exames nos laboratórios de análises clínicas privados da cidade. Estes resultados de confirmação da infecção do Covid-19 muitas vezes não são realizados, muitas vezes demoram dias para sair na rede pública. Pacientes sem a confirmação da portabilidade do vírus ao sentirem melhora clínica poderiam transitar pela cidade nos mercados, farmácias, bancos, transporte coletivo, cultos e igrejas, aumentando de forma exponencial a transmissão da doença.
Qual foi a proposta de melhoria que o sr. apresentou?
Dr. Fernando – Fazer ampla divulgação pelos meios de comunicação sobre a Covid-19, seus sintomas, onde e como ter acesso a testagem para Covid-19 por PCR (diagnóstico precoce). Garantir resultado no mesmo dia, bem como assistência e monitoramento adequado. Caso o município não tenha condições de realizar a testagem, ele poderia colher o material todos os dias pela manhã em local pré-determinado no estilo drive-thru (diminuindo o “transitar deste paciente”) e encaminhar material para cidades maiores próximas (cidade-sede DRS), acessando resultado on-line como ocorre na rede privada. Análise dos casos novos dia a dia poderia desenhar quase que em tempo real o “Mapa Covid”. O que seria fundamental para a estratégia de combate à pandemia. Ajudaria a poupar vidas, recursos públicos e traria sentimento no cidadão de cuidado por parte do Estado. A utilização de monitoramento com equipe multidisciplinar de médicos e paramédicos, além de equipe de apoio para estratégias de telemedicina, impactaria sobremaneira de forma positiva. Diminuindo a insegurança da população. Os recursos economizados com a diminuição no número de casos, utilizando-se a melhoria da prevenção primária e secundária, poderia ser utilizado na compra dos “kits de PCR” e criação de um “ambulatório virtual” com médicos e enfermeiros, além de uma equipe de apoio para analisar os dados e planejar as estratégias de atendimento domiciliar presencial ou internação hospitalar se necessário. Também poderia estar engajada a Polícia Militar para fazer cumprir-se a determinação de quarentena compulsória para caso confirmado e seus contatos familiares. Atestados para trabalho, remédios e exames complementares estariam, quando necessários, garantidos. Da mesma forma os casos considerados negativos também poderiam mais rapidamente voltar às suas atividades, o que diminuiria o impacto na economia de nossa cidade. Tirando de circulação na cidade os casos confirmados e seus contatos, o que diminuiria a transmissão, o número de casos totais e por consequência o número de casos graves, internações e óbitos.
Não deixar de se prevenir, principalmente da parte oncológica e cardiológica, uma vez que, estas patologias não esperarão a pandemia acabar! Usar máscaras, lavar as mãos, tirar sapatos antes de entrar em casa, evitar aglomerações, tomar as vacinas quando chegar a vez. E nunca deixar de ter fé!!
HC – Afora a pandemia, em suas áreas de especialidade (urologia e oncologia), quais são as principais enfermidades que os pacientes que o procuram apresentam?
Dr. Fernando – A principal demanda são os casos de câncer de próstata, câncer de bexiga e câncer de rim, pelo fato de eu ser especializado em oncologia e urologia (dupla formação). Acredito que especialista em Oncologia Cirúrgica e Urologia, com formação formal de residência médica em locais de ponta, sejam pouquíssimos profissionais no Brasil. Os cálculos renais são os grandes vilões neste tempo de pandemia. A dor de “cólica de rins” é uma coisa terrível e faz o paciente procurar atendimento médico. Muitas vezes a cirurgia se torna necessária. Técnicas minimamente invasivas de endoscopia podem desfazer o cálculo com uso de energia a laser. Também realizo a parte clínica da Urologia, como o tratamento das infecções urinárias recorrentes, incontinência urinária, impotência sexual e dificuldade para urinar. A urologia é bastante ampla e atende homens, mulheres e crianças.
HC – Quais são as técnicas mais atuais de tratamento em seu segmento de atuação na medicina? A cirurgia robótica é uma delas?
Dr. Fernando – A medicina avançou muito nas últimas décadas. Novas tecnologias foram sendo incorporadas à cirurgia urológica. Endourologia para tratamento de cálculos renais e laparoscopia e cirurgia robótica para cânceres de próstata e rins. Veja, por exemplo, a cirurgia videolaparoscópica. É um procedimento minimamente invasivo que possibilita a abordagem dos órgãos internos por meio de pequenas incisões. É realizada com o auxílio de uma câmera conectada a uma ótica que é introduzida através da parede abdominal, sendo as estruturas manipuladas com auxílio de pinças. Hoje em dia, praticamente não há contraindicações para a realização desta técnica. Na urologia e na cirurgia oncológica ela pode ser utilizada em uma grande variedade de procedimentos, trazendo benefícios aos pacientes como: menor tempo de hospitalização, retorno mais rápido às atividades profissionais, menos dor e chance de infecção de ferida operatória com um excelente resultado estético. O procedimento é realizado sob anestesia geral, em seguida são introduzidos os trocateres, por onde é insuflado com gás carbônico, a câmera e as pinças. Com isso se ganha espaço na cavidade para poder realizar o procedimento. Um exemplo de uma cirurgia por videolaparoscopia é a Prostatectomia Radical, que consiste na remoção cirúrgica da próstata devido a câncer de próstata. Outro procedimento muito realizado é a Nefrectomia radical e parcial, ou seja, remoção do rim ou parte dele por técnica minimamente invasiva. A cirurgia Robótica é um refinamento da cirurgia videolaparoscópica, onde um robô auxilia no procedimento. A máquina é comandada totalmente pelo médico, ou seja, ela reproduz os movimentos do cirurgião, que comanda todo o procedimento em um console próximo à mesa cirúrgica onde está o paciente. Ao lado do paciente fica o cirurgião auxiliar que introduz e troca as pinças através dos trocateres. A tecnologia trabalha a favor da cirurgia e do cirurgião. Vários estudos demonstram que cirurgiões laparoscópicos experientes com centenas de cirurgias realizadas com sucesso adaptam-se à tecnologia robótica com extrema facilidade e rapidez. Diferentemente do cirurgião que não sabe realizar a cirurgia laparoscópica e vai iniciar na técnica minimamente invasiva, onde os tempos cirúrgicos são bastante diferentes dos da técnica aberta.
HC – O sr realiza consultas para segunda opinião (por telemedicina) para pacientes com indicação de prostatectomia para câncer de próstata e nefrectomia para câncer de rim?
Dr. Fernando – Sempre muito importante, assim como tudo na vida, escutar uma segunda ou terceira opinião de um especialista sobre determinado assunto. Em medicina não seria diferente!! Ainda mais se tratando de tema tão relevante. Muitas consultas por telemedicina são de pacientes distantes das duas cidades que tenho consultório (São José do Rio Preto e Barretos), que buscam uma segunda opinião para seus problemas. Exames são analisados e acessados direto das clinicas de radiologia, que disponibilizam imagens on-line. Tudo isso por “vídeo consulta” em plataformas seguras e com a grande comodidade de não ter que esperar ou viajar até a clínica. Caso haja necessidade de consulta presencial, pode ser agendada de forma rápida. As cirurgias dos meus casos podem ser realizadas tanto em São José do Rio Preto-SP, Campinas-SP, São Paulo-SP ou Uberlândia-MG, locais onde faço parte do corpo clínico de excelentes hospitais e equipes cirúrgicas. Tudo isso para proporcionar maior conforto para meus pacientes de operarem próximos aos seus lares.