São cada vez mais evidentes os indícios de que as grandes negociações voltadas para responder à emergência climática global não estão funcionando. O ano de 2023 foi o mais quente da história, com o El Niño potencializando os impactos das mudanças climáticas.
Nos dias 17 e 18 de novembro de 2023, pela primeira vez a temperatura média da Terra superou temporariamente a marca de dois graus acima dos níveis pré-industriais, segundo o Centro Europeu de Previsões Meteorológicas de Médio Prazo.
As estimativas são de que 2024 deve ser ainda mais quente, com novo ciclo de fortes ondas de calor, seca e grandes enchentes.
A questão é que os interesses dos gigantes dos combustíveis fósseis continuam protegidos, o que ficou claro na COP-28 de Dubai, no final de 2023. O evento foi presidido pelo CEO da poderosa empresa estatal de energia dos Emirados Árabes, grande produtor de petróleo.
Pois o cenário se repetirá na COP-29, no final de 2024 no Azerbaijão. A Conferência será presidida pelo atual ministro de Ecologia do país e que durante anos foi alto funcionário da Socar, a estatal petrolífera do Azerbaijão. O país é considerado o berço da moderna indústria petrolífera e mais de 80% de suas receitas derivam da exploração de petróleo.
Com esse panorama nada animador, no âmbito das negociações de alto nível (sic), é cada vez mais relevante que as comunidades locais e a sociedade civil planetária intensifiquem suas próprias ações direcionadas para um modelo de desenvolvimento menos insustentável.
Neste contexto, são expressões de esperança as iniciativas que vêm sendo implementadas em Campinas, por um conjunto de atores.
A Unicamp, por exemplo, tem ampliado as suas ações, tendo como grande símbolo a estruturação do Hub Internacional de Desenvolvimento Sustentável (HIDS), na Fazenda Argentina. A Universidade responsável por 15% das pesquisas no Brasil já instalou (em parceria com a CPFL e BYD) uma usina de energia solar em seu campus e esteve pela primeira vez oficialmente em uma Conferência do Clima na COP-28 em Dubai.
O HIDS, por sua vez, está na área de abrangência do Polo de Inovação para o Desenvolvimento Sustentável (PIDS) que a Prefeitura pretende viabilizar no distrito de Barão Geraldo, onde estão os grandes centros pesquisa e desenvolvimento da cidade. O Projeto de Lei Complementar do PIDS chegou em dezembro de 2023 à Câmara Municipal. Ainda no âmbito público, é sempre relevante citar o trabalho da Sanasa, referência em saneamento básico no Brasil.
Esforços significativos também são observados na esfera do setor privado. Entre outras ações em sustentabilidade, o Colégio Notre Dame, da Congregação de Santa Cruz, instalou uma usina de energia solar fotovoltaica. A Unimed Campinas, por sua vez, também tem ampliado ações sustentáveis, como o plantio de uma floresta em Sousas, dentro da Área de Proteção Ambiental (APA) de Campinas.
Ações pelo fortalecimento da APA de Campinas vêm sendo realizadas há anos pelo Movimento Reviva o Rio Atibaia, iniciativa em parceria entre Jaguatibaia, Associação de Remo e a empresa Merck, depois Organon.
No outro lado da cidade, o Swiss Park foi além do que pedia a legislação, na implantação e proteção de áreas verdes e proteção dos recursos hídricos. Na área social, organizações como Fundação FEAC e Fundação Educar têm buscado ampliar parcerias para a superação dos enormes desafios ainda existentes, derivados da insistente e estrutural desigualdade.
De fato, como tudo no Brasil, há enormes contradições em Campinas, com situações nada sustentáveis. Mas os sinais de novos (e melhores) tempos estão no ar. Talvez falte uma forma de articulação entre as múltiplas ações em curso.
De qualquer modo, a cidade não está parada, atenta ao agravamento das condições socioambientais globais e procurando fazer o possível.
José Pedro Martins é jornalista, escritor e consultor de comunicação. Com premiações nacionais e internacionais, é um dos profissionais especializados em meio ambiente mais prestigiados do País. E-mail: [email protected]