A Reitoria da Universidade Estadual Paulista (Unicamp) divulgou nesta terça-feira (22) nota de repúdio pelo conteúdo das declarações do estudante do curso de Filosofia da PUC-Campinas, que aparece em vídeo com falas polêmicas durante o evento Portas Abertas da Unicamp (UPA), realizado no último sábado (19), no qual os participantes integram visitas guiadas pela universidade. A Unicamp tem hoje 460 estudantes indígenas.
“A Universidade Estadual de Campinas vem a público repudiar as falas de conteúdo racista proferidas por um estudante de outra instituição de ensino, durante apresentação do Grupo de Estudos de Filosofia Indígena realizada no dia 19 de agosto, no Instituto de Filosofia e Ciências Humanas, no âmbito das atividades do evento Unicamp de Portas Abertas (UPA)”, diz o comunicado.
A Unicamp, ressalta a nota da Reitoria, “reforça o seu compromisso com o processo de inclusão dos povos e pessoas indígenas em sua comunidade, já expressos em suas políticas de acesso e permanência, assim como na busca incessante pela ampliação e pelo aperfeiçoamento destes mecanismos”.
A Diretoria Executiva de Direitos Humanos (DeDH) da universidade, em conjunto com a Comissão Assessora para a Inclusão Acadêmica e Participação dos Povos Indígenas (Caiapi), também se manifestou sobre o episódio na “carta em resposta aos acontecimentos do dia 19”.
“As falas se enquadram claramente no crime de racismo (ofensas proferidas contra um grupo de pessoas de uma mesma raça/de um mesmo grupo étnico) e evidenciam também a ignorância e má-fé da pessoa em questão. Havia pessoas indígenas presentes na sala, mas elas não foram as únicas atingidas diretamente. As ofensas atingem os demais estudantes indígenas da Unicamp e outras pessoas indígenas do país, além de toda a comunidade da Unicamp e todos os que se preocupam com construir uma sociedade livre de atitudes racistas como essa. Ao ser questionada sobre suas falas, a pessoa disse que apenas havia exercido seu “direito de expressão”. O direito individual de expressar opiniões divergentes não deve, no entanto, jamais justificar uma ofensa contra a dignidade humana”, diz o documento.
A Diretoria Executiva de Direitos Humanos (DeDH), por meio de sua Comissão Assessora para a Inclusão Acadêmica e Participação dos Povos Indígenas (Caiapi), “manifesta seu completo repúdio ao ocorrido e informar que está apoiando a tomada de providências legais para que haja a punição exemplar do responsável e para que sejam realizadas todas as demais medidas cabíveis frente ao crime cometido”.
Por fim, diz a carta, “queremos reiterar que acreditamos na importância da presença, em nossa Universidade, de pessoas pertencentes a povos tradicionais, com seus saberes, justamente no sentido de ampliar as possibilidades de abertura da sociedade brasileira a todas as formas de conhecimento”.
Instituto de Filosofia e Ciências Humanas
“Mais do que emitir meras opiniões infundadas, sua fala demonstra preconceito e ignorância, desrespeita a diversidade de saberes e culturas, expressa e promove a violência contra os povos indígenas, manifestando um profundo desrespeito aos direitos humanos e incorrendo no crime de racismo”, diz trecho de nota do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas (IFCH) sobre o ocorrido.
Ainda na nota, o IFCH, destaca que “é preciso enfrentar o racismo, a violência e a intolerância. Assim, a direção do IFCH manifesta seu total apoio aos/às estudantes reunidos/as em torno do Coletivo dos Acadêmicos e ao Coletivo das Acadêmicas Uirapuru, cuja nota endossamos plenamente. Por fim, tomaremos as ações cabíveis junto às representações dos/as estudantes indígenas e as demais instâncias responsáveis da Unicamp.
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