Resiliência, superação, força, fé, vida nova, emprego, retomada dos estudos. E razão para acreditar que sim, tudo passa. É preciso confiar – e agradecer. É assim que a técnica de enfermagem Talita Cristina Joaquim da Silva, de 25 anos, define o seu momento. É assim, de olho no futuro, que ela quer seguir em frente.
Talita, moradora em Campinas, conseguiu juntar R$ 30 mil em doações para a compra de uma prótese que vai devolver sua mobilidade e independência. Ela passou por uma amputação de parte da perna direita, em fevereiro deste ano, após a descoberta de um tumor. A história foi contada pelo Hora Campinas e teve grande repercussão.
Talita tinha dois orçamentos. Uma prótese mais básica, de R$ 30 mil e outra um pouco mais sofisticado, de R$ 48 mil. Por isso, começou uma campanha de divulgação para tentar arrecadar a quantia.
Com o financiamento coletivo ela tinha conseguido arrecadar R$ 20 mil. Para completar o valor, planejou um bingo beneficente, que aconteceu no dia 24 de abril. O evento contou com apresentações musicais e comida, quase tudo doação.
“Um pouco antes do evento, o chefe da minha mãe doou R$ 8 mil. No evento, eu consegui mais R$ 5 mil, paguei algumas despesas que somaram R$ 1 mil, e sobraram R$ 32 mil, o valor exato que eu precisava. São duas próteses, uma para andar e outra para tomar banho, isso deu R$ 30 mil, e R$ 1 mil cada uma das capas que vão nas próteses para não ficar aparecendo o ferro”, conta.
“Eu consegui tudo em um mês de campanha, eu não sei nem como agradecer as pessoas. Eu estou muito feliz”, diz, agradecida.
A prótese já está paga, mas Talita só deve sair de vez com ela no próximo mês. Isso porque a fisioterapia necessária teve de ser adiada por conta de um acidente doméstico. “Um pouco antes do evento, eu estava sozinha em casa, fui fazer almoço, mas o andador tombou para a frente, ele é muito leve, e eu desequilibrei porque não consigo ficar em pé com uma perna só. Caí em cima do meu coto, abriu, ficou horrível, agora que está fechando”, explica.
Mas nem esse contratempo tira o sorriso do rosto de Talita. “Eu estou me recuperando. No final do mês eu volto para a fisioterapia para logo conseguir usar a prótese. Eu creio que mês que vem eu estou com a prótese porque agora só depende de mim, da recuperação, não depende de dinheiro porque graças às doações eu já atingi, então só depende da minha recuperação mesmo”, conta ansiosa.
Entenda
A técnica de enfermagem descobriu um tumor na perna direita, depois de escorregar no trabalho e precisar de atendimento médico, em 2018. Mesmo com o tratamento e diversas cirurgias, a moradora do Parque Itajaí teve a perna amputada. A vida de Talita seguia normal e ela trabalhava em uma ambulância particular. Até que sofreu um acidente de trabalho, segundo ela, quando escorregou em uma fronha e torceu o tornozelo, que demandou atendimento médico.
“Fui para o hospital e lá foi feito um exame de Raio X. A médica disse que estava tudo bem com a entorse, que era só cuidar e ficar em casa, mas que eu tinha um tumor na perna. Eu fui embora e não acreditei. Coloquei gelo quando cheguei em casa, mas aquilo ficou martelando na minha cabeça”, conta Talita.
Naquele mesmo dia, ela saiu de casa e foi ao Hospital Mário Gatti em busca de respostas.
“Fiquei no ambulatório do Mário Gatti. Foram feitos vários exames, o tumor foi confirmado e era benigno. É um tumor dentro do osso, na tíbia direita. Eu não ia sentir nada. Conforme o tempo fosse passando, eu ia quebrar a perna e só assim eu descobriria, mas isso poderia demorar muito, lá pelos 50 anos. Mas como era benigno tinha solução, e graças a Deus não precisei fazer quimioterapia nem radioterapia”, lembra.
Na sequência, Talita conseguiu uma vaga na Unicamp, onde iniciou o tratamento, no começo de 2019. A primeira cirurgia a que foi submetida ocorreu em janeiro de 2019.
“Eles abriram o osso, fizeram a raspagem do tumor e colocaram o osso de volta. Só que meu osso deu rejeição. Fiquei sem uma parte do osso da tíbia e não podia encostar o pé no chão. Em outra cirurgia, colocaram uma placa, mas eu peguei uma infecção hospitalar nessa placa. Fiquei 45 dias internada tomando antibiótico, e precisei de outra cirurgia para limpar a infecção que eu tive. Foram várias cirurgias para salvar a perna”, relata.
Nesse período, surgiu a pandemia, que atrapalhou ainda mais o tratamento. De acordo com Talita, o uso do antibiótico afetou a eficácia do anticoncepcional, e ela engravidou. Por conta de tudo isso, o tratamento ficou mais de um ano suspenso.
Ao voltar para o hospital, o médico explicou que o tratamento teria de ser recomeçado do zero, com a limpeza da infecção, igual em 2019, a recuperação seria lenta e sem garantia de que seria bem-sucedida.
“A outra opção seria a amputação, que me daria mais qualidade de vida e recuperação rápida porque eu tenho uma filha para criar, queria voltar a trabalhar, estudar. Eu não consigo ficar nesse ritmo, parada, sem fazer nada da vida. Eu optei pela amputação e estou super bem psicologicamente, até melhor que antes, porque eu sei que daqui uns três meses eu vou estar andando, trabalhando e vivendo minha vida. Se eu tivesse escolhido voltar para a cirurgia eu estaria acamada, esperando a recuperação”, contou, à época, com otimismo.
Hoje, aquilo que ela projetou, está se materializando.
REVEJA A PRIMEIRA REPORTAGEM
Um tombo, o diagnóstico e uma nova vida: “Eu optei pela amputação e estou bem”