Vinte e três anos depois de atravessar o mundo para competir nos Jogos Olímpicos de Sydney, sob o comando do lendário técnico campineiro Zé Duarte, a Seleção Brasileira de Futebol Feminino está de volta à Austrália para disputar outra competição de primeira grandeza, desta vez a Copa do Mundo, onde busca inédito título de expressão. A competição começou na última quinta-feira(20) e também está sendo sediada na Nova Zelândia.
Comandada pela treinadora sueca Pia Sundhage, as atletas brasileiras estreiam no Mundial contra o Panamá, em duelo que acontece nesta próxima segunda-feira (24), às 8h (horário de Brasília), no Hindmarsh Stadium, em Adelaide, no estado da Austrália Meridional. O grupo F também conta com outra seleção da América Central, a Jamaica, mas a grande favorita da chave é a França, que sediou a última edição da Copa, em 2019, tendo inclusive eliminado o Brasil nas oitavas de final.
Seguindo a tradição quase centenária do futebol masculino, que esteve presente em todas as edições da Copa do Mundo, de 1930 até 2022, a Seleção Brasileira Feminina também jamais ficou de fora do campeonato mundial da categoria, disputado desde 1991, e o mesmo vale para a competição olímpica.
O futebol feminino entrou no programa olímpico apenas em 1996, exatamente 100 anos depois da primeira Olimpíada da Era Moderna, realizada em 1896, em Atenas, na Grécia. Nos Jogos de Atlanta, em 1996, a primeira de duas edições olímpicas com o técnico Zé Duarte, a Seleção Brasileira superou todas as expectativas e ficou muito perto de subir ao pódio logo em sua participação de estreia.
Terminou em um honroso quarto lugar, perdendo a semifinal para a China e a disputa pela medalha de bronze para a Noruega, então campeã mundial. A revanche veio na Copa do Mundo de 1999, nos Estados Unidos, onde as brasileiras derrotaram as norueguesas nos pênaltis e ficaram com o terceiro lugar do torneio.
Já na disputa dos Jogos Olímpicos de 2000, em Sydney, a equipe de Zé Duarte eliminou a anfitriã Austrália na primeira fase, com uma vitória por 2 a 1 na última rodada, mas terminou batendo novamente na trave em termos de medalhas. Na ocasião, a Seleção Brasileira ficou em quarto lugar, após perder a semifinal para os Estados Unidos, então detentor dos títulos olímpico e mundial, e depois a disputa do terceiro lugar para a Alemanha, nada menos do que bicampeã europeia na época – a hegemonia alemã chegaria a seis títulos continentais consecutivos.
Em 2001, em um de seus últimos trabalhos no futebol, Zé Duarte comandou a equipe feminina da Ponte Preta, após um trabalho de sucesso com o time feminino do São Paulo, onde conquistou vários títulos em 1997.
Embora não tenha conseguido levar a equipe ao tão sonhado pódio olímpico, Zé Duarte pavimentou o caminho para a Seleção Brasileira Feminina colher frutos neste século. A galeria conta com duas medalhas de prata – conquistadas nas Olimpíadas de 2004, em Atenas, e 2008, em Pequim, além do vice-campeonato mundial em 2007, também na China.
Posteriormente à fase com Zé Duarte, o futebol feminino brasileiro também faturou três medalhas de ouro nos Jogos Pan-Americanos de 2003, em Santo Domingo, de 2007, no Rio de Janeiro (com goleada por 5 a 0 sobre os Estados Unidos, no Maracanã lotado com quase 80 mil pessoas) e de 2015, em Toronto. Além disso, entre 2006 e 2009, a craque Marta foi eleita quatro vezes a melhor jogadora do mundo pela FIFA.
Zé Duarte não teve a oportunidade de acompanhar quase nenhum desses grandes feitos, resultado do trabalho iniciado por ele, pois faleceu aos 68 anos, em Campinas, no dia 23 de julho de 2004, data que completa exatamente 19 anos neste domingo (23).
Abaixo, confira depoimentos de Cláudia Duarte, filha de Zé Duarte, concedidos exclusivamente ao Hora Campinas, sobre a história do pai com o futebol feminino, em especial nas Olimpíadas de 2000, em Sydney:
História no futebol campineiro
Muito tempo antes de rodar o mundo com o futebol feminino, Zé Duarte escreveu capítulos importantes no futebol de sua terra natal, ao longo de suas inúmeras passagens tanto pelo Guarani quanto pela Ponte Preta, sendo inclusive o único treinador que se sagrou campeão pelos dois clubes rivais de Campinas.
Zé Duarte é o treinador com mais jogos à frente do Guarani, com 404 partidas, e também o que por mais tempo dirigiu a equipe alviverde de forma ininterrupta, entre 1971 e 1975. Ele também é o terceiro técnico que mais vezes comandou a Ponte Preta, com 245 jogos, atrás apenas de Cilinho e Nico.
Zé Duarte é o técnico que mais venceu Dérbis Campineiros em toda a história de 110 anos do confronto. Ele possui 12 vitórias em 28 clássicos disputados, sendo 17 pelo Guarani e 11 pela Ponte Preta, com seis triunfos para cada lado. O retrospecto geral do treinador no enfrentamento local também aponta 13 empates e apenas três derrotas, mas ele nunca perdeu comandando a Macaca.
À frente da Macaca, Zé Duarte conquistou o título estadual da Divisão de Acesso, em 1969, além dos vice-campeonatos paulistas de 1977 e 1979. Depois, do outro lado da avenida, o treinador campineiro conduziu o Bugre ao título da Taça de Prata de 1981, equivalente à Série B do Campeonato Brasileiro, e depois à semifinal da Taça de Ouro de 1982, que correspondia à elite nacional, com o recorde de média de gols do campeonato: 2,65 por partida. Foram incríveis 62 gols em 20 jogos.