O ano de 2024 será, sob vários pontos de vista, decisivo para a agenda socioambiental planetária. Serão vários eventos e movimentos que poderão definir o futuro, rumo a uma sociedade mais sustentável ou não.
A perspectiva é a de que a emergência climática continue dominando as conversas, as negociações e ações, no sentido de viabilização de uma transição energética, com a eliminação progressiva dos combustíveis fósseis.
Esse roteiro será escrito por múltiplas mãos, em um ano em que o limite de elevação da temperatura média global pode ultrapassar pela primeira vez o 1,5 grau, em relação ao período pré-industrial. Esta é a previsão do Met Office, agência do governo do Reino Unido.
O limite de 1,5 grau havia sido estabelecido no Acordo de Paris, de 2015, como aquele considerado ideal a ser atingido. Mais do que isso e o planeta chegaria a um ponto de não-retorno, com consequências irreversíveis.
Os cientistas acreditam que esse limite já possa ser ultrapassado em 2024, ainda que momentaneamente, em razão do impacto do intenso El Niño em curso.
De qualquer modo, os episódios climáticos extremos verificados em 2023 em todo mundo, inclusive no Brasil, não deixam dúvidas em termos de que o ponto de não-retorno está próximo de ser atingido, se é que já não foi.
A dúvida é se o cenário verificado até o momento vai continuar ou não. Até agora, foram vitoriosos os interesses dos países produtores e grandes corporações dos combustíveis fósseis.
A realização da última Conferência do Clima, a COP 28, em Dubai, em um dos maiores produtores de petróleo, confirmou o poder do setor dos combustíveis fósseis. Pois a COP 29, de 2024, será em outro grande produtor de petróleo, o Azerbaijão. Não dá para continuar esperando grandes mudanças nos atuais, e gravíssimos, rumos da questão climática, com escolhas como essa.
Aliás, os petroestados estão dominando a agenda socioambiental nas Nações Unidas em outras áreas. A Arábia Saudita será o país anfitrião do Dia Mundial do Meio Ambiente em 2024, lembrado a 5 de junho.
A Arábia Saudita que já recebeu várias vezes, em edições das Conferências do Clima, o Prêmio Fóssil do Dia, por suas posições contrárias a uma urgente transição energética rumo a fontes renováveis. A Arábia Saudita que está projetando uma “cidade de arranha-céus” em uma área de 16.500 km2, e para 9 milhões de pessoas, em um território onde ocorre anualmente uma alta densidade de migração de aves entre a África e a Europa. Claro que este projeto vem sendo muito criticado por cientistas e ambientalistas.
Por outro lado, em 2024 a Colômbia, um dos países megadiversos, vai sediar COP 16 da Convenção da Diversidade Biológica. Momento de o conjunto das nações aprofundar esforços concretos pela conservação da biodiversidade, agora que o planeta passa pela sexta megaextinção de espécies.
País com a maior biodiversidade planetária, o Brasil tem responsabilidade especial nesse tema.
A expectativa é a de que em 2024 continuem e sejam aprofundados os esforços pela redução do desmatamento, na Amazônia e também no Cerrado. E vai continuar a polêmica sobre a continuidade dos investimentos em exploração do petróleo no país, em contradição com a urgência de transição para as energias limpas, de fato renováveis. Mas o Brasil não é o país campeão em contradições?
José Pedro Martins é jornalista, escritor e consultor de comunicação. Com premiações nacionais e internacionais, é um dos profissionais especializados em meio ambiente mais prestigiados do País. E-mail: [email protected]