O produtor cultural Arthur Magalhães Santana Domingos, 27 anos, encontrou na receita do pão da sua avó uma maneira de se reinventar e sobreviver na pandemia. Mineiro de nascimento, produtor cultural e artista por vocação e ‘padeiro’ por amor ao alimento e aos frutos que a terra dá, o jovem tem feito diversos tipos de pães para vender. Tem pão recheado, tradicional, integral, vegano, doce ou salgado, rosca. Mas, independentemente da receita, a base do pão é sempre um convite para olhar para o simples da vida pois traz a mistura da água, trigo, fermento e sal.
E quem não se encanta com o cheiro de um pão recém-saído do forno?
Mas, a ideia de fazer pães para sobreviver partiu da lembrança do sabor do pão da vó Dalira, que fazia uma rosca trançada de leite condensado, consumida pura ou com uma camada generosa de manteiga, acompanhada de chá, café, ou qualquer outra bebida. Por gostar de cozinhar para outras pessoas, Arthur enxergou na arte de fazer pão um novo ofício. “Os amigos foram encomendando, contando para as outras pessoas e vi que fazer pão poderia ser uma opção de renda e trabalho, principalmente porque a pandemia acabou inviabilizando muitos eventos culturais, artísticos”, conta.
Arthur lembra que o pão é um alimento comum a todas as culturas e povos, e é também um produto básico consumido diariamente. “Geralmente, as pessoas consomem pão no café da manhã, no café da tarde ou ainda durante as principais refeições. Para mim é uma honra saber que um pão que eu fiz fará companhia para várias pessoas nos mais diferentes momentos da vida”, diz.
O jovem lembra que descobriu a gastronomia quando se mudou para o interior, logo após passar três anos trabalhando em São Paulo com produção de moda.
“Passei seis meses morando em uma área rural de São Luís de Paraitinga. Por lá plantávamos o que precisávamos para o consumo e até vendíamos o que sobrava. Plantamos e colhemos mandioca, almeirão, alface, acelga, tomate, temperos variados. Nessa fase aprendi a respeitar o tempo das coisas, a olhar para a natureza e transformar o alimento em comida. Acabei me conectando com a cozinha e com a alegria de cozinhar para o outro. O pão me ensina todos os dias sobre respeitar o tempo, a temperatura e a ter paciência. O pão me ensina também que nem sempre estamos no comando de tudo”, conta.
De volta a São Paulo, ele começou a trabalhar com produção de comida orgânica. “Passei três anos fazendo e vendendo alimentos na rua. As tortas e brownies fizeram sucesso e depois passei a fazer comida para eventos, festas”, lembra. E antes de se mudar para Campinas, o jovem também morou um período em Juquitiba, aprendendo sobre a permacultura.
“Todo esse contato com a terra, com a produção de alimentos orgânicos e sustentáveis transformou o meu olhar para o mundo”, diz.
Hoje o jovem produtor cultural é também produtor de pães. “Vejo que ser produtor cultural e fazer pães têm muito em comum, pois alimentam o corpo e a alma. É um símbolo da criação e transformação nossa e do outro”, lembra.
Afinal, o pão do Arthur traz ingredientes como tempo, atenção, sensibilidade, afeto e principalmente respeito pela história da humanidade que, há 14 mil anos, começou a assar em pedras o pão de cada dia.
Quem quiser provar os pães do Arthur o telefone de contato dele é (11) 99273-9417
Kátia Camargo é jornalista e se lembrou da letra da canção Cio da Terra, de Milton Nascimento, quando ouviu as histórias das andanças de Arthur e sua conexão com a terra e o alimento.
“Debulhar o trigo / Recolher cada bago do trigo / Forjar no trigo o milagre do pão / E se fartar de pão…
Quem quiser ouvir a música na íntegra”
https://www.youtube.com/watch?v=qevMiA2KU3w