Já fazia alguns meses que estava me preparando para ter uma conversa com um dos idealizadores da Fundação FEAC (Federação de Entidades Assistenciais de Campinas), Darcy Paz de Pádua, que também em sua longa vida foi advogado, professor e secretário municipal de Promoção Social.
Tinha lido sobre ele, conversado com algumas pessoas e entrado em contato com sua filha, Carmen Lúcia, para marcar nosso encontro. Mas a conversa não ocorreu. Darcy morreu, na última sexta-feira, 23 de julho, num dia de céu bem azul e ensolarado. Ele tinha 99 anos e em 16 de outubro se tornaria um centenário.
Aliás, a questão da longevidade era uma das minhas perguntas e curiosidades. Qual o segredo para chegar tão bem e lúcido nessa idade? Como nossa conversa não ocorreu, arrisco aqui alguns palpites que foram relatados no decorrer da minha pesquisa por alguns amigos próximos:
“Darcy tinha um bom humor que contagiava a todos. E até pouco antes de morrer seguia ativo e participava das reuniões de conselho da FEAC”, me contou o empresário Luis Norberto Pascoal.
A jornalista e amiga da família Angela Kuhlmann também confirma essa característica. “Era muito afetuoso com as crianças e sempre tinha tiradas muito engraçadas. Foi meu segundo pai”, relata.
Luis Norberto sempre teve uma relação muito próxima com ele. Os laços e admiração se estreitaram também na FEAC, entidade que Darcy idealizou e ajudou a fundar. Já Angela, desde a infância frequentava a casa dele como amiga de sua filha Carmen Lúcia.
“Uma das melhores lembranças que tenho da convivência com a família era quando, aos finais de semana, a Kombi saía lotada de filhos e seus amigos e primos para passar os finais de semana na fazenda de um parente em Joaquim Egídio”, diz Angela.
Darcy amava a natureza, tanto que morava em uma casa que mais parecia uma chácara. “Além das árvores, plantas e passarinhos, o local era também um ponto de encontro para comidas feita no fogão a lenha”, conta Luis Norberto.
Darcy não nasceu em Campinas, mas em 1944 veio para a cidade onde, durante um trajeto no bonde, conheceu Lúcia, que se tornou sua esposa em 1948. O casal teve seis filhos.
O advogado Darcy sempre teve uma preocupação com os menos favorecidos e, morando em Campinas, começou a se envolver em diversas causas sociais.
“Nossas conversas sempre giravam em torno de como achar soluções para as questões tão desafiadoras que a humanidade estava enfrentando, como pobreza, desemprego, fome. Ele era um inconformado!”, conta Luis Norberto.
Angela também relatou que, por passar muitos dias na casa da família, lembra que o ‘Tio Darcy’ chegava do trabalho, jantava e logo saía com uma pasta para reuniões sobre projetos sociais”. Lembra ainda sobre a última passagem que teve com ele e que foi uma grande honra para ela.
“Em 2019, a convite dele participei de um encontro com o padre Haroldo ,que preparava um livro sobre as pessoas que participaram da fundação da FEAC e queria conhecer em detalhes todo o processo de criação da entidade assistencialista”, diz. Ela passou horas conversando com eles e produziu um texto histórico do encontro desses dois homens que tanto fizeram pela cidade.
Não conversei e não conheci o Darcy Paes de Pádua, mas nos últimos meses tenho conhecido mais de perto projetos em que a FEAC atua. Percebo, em cada um desses projetos, a semente e frutos que o Dr. Darcy, como era chamado, ajudou a plantar, ao participar da idealização da FEAC.
Cito alguns que tive o privilégio de conhecer. O trabalho da Casa da Gestante, do instituto Padre Haroldo, que acolhe mulheres gestantes que moram na rua. Por lá, a FEAC apoia um programa em que o lúdico e a própria ação de brincar ajudam a conectar mãe e filhos.
A Casa de Apoio Santa Clara, que acolhe mulheres em situação de vulnerabilidade social, a FEAC trabalha com um projeto para capacitar essas mulheres como manicures e pedicures.
No projeto Agricultura Urbana, os moradores são convidados a criar uma horta comunitária, e isso impacta não só na saúde, qualidade de vida, mas no fortalecimento de laços da vizinhança. E tem até um projeto chamado ASAS, no qual as famílias são convidadas a pensar em como estruturar a vida dos filhos com alguma deficiência, quando elas não estiverem mais por aqui.
Esses são só alguns exemplos dos projetos em que a FEAC atua. Então, apesar de eu não ter conversado com o Dr. Darcy, senti que seu legado seguirá vivo e firme por aqui. Concluo que, mesmo sem nossa conversa, foi um prazer conhecê-lo, Dr. Darcy!