A coluna de hoje começa com um texto indignado, que foi enviado pelo empresário Luis Norberto Pascoal. É uma mensagem sobre o conceito central da sustentabilidade, que é, ou deveria ser, “qual o futuro que a nossa sociedade deseja” e o seu complemento “estamos fazendo algo de fato para que haja um futuro para nossas crianças e para nós mesmos?” O artigo do Luis Norberto foi apropriadamente intitulado “Assassinos do futuro”. É bom ler com atenção:
“Assassinos do futuro
As mudanças climáticas estão se tornando preocupantes e chegam a soar como um antecipado apocalipse que ameaça a continuidade da vida no planeta.
Mesmo assim, nos comportamos como surdos, sem entender ou nem sequer perceber que o horror que se avizinha é consequência de uma burrice sem precedentes que nos torna insensíveis até àquilo que é visível a olho nu.
Em edição recente, no jornal Estadão, temos destacado o desmatamento do cerrado. Incrível burrice. Deveriam ser presos todos os mandantes.
A elevação da temperatura dos mares e o derretimento das geleiras não são mentiras, mas a pura verdade. E nós somente olhamos o mundo ruir, como quando tive a oportunidade muito triste de ao vivo presenciar uma super geleira se romper e criar ondas enormes balançando nosso pequeno navio de forma assustadora.
Ali estava uma advertência sobre o efeito estufa, que cresceu assustadoramente nas últimas décadas em razão do estilo de vida da sociedade de consumo, com a expansão do seu capitalismo mais que predatório, desumano.
E parece que não adianta somente dar publicidade, mas devemos criar uma advertência inédita e mais contundente.
Nos últimos dez anos, a taxa de aumento médio do nível dos mares duplicou-se por causa do derretimento das geleiras da Groenlândia e da Antártida.
Os mares se comportam como uma espécie de termômetro de captação do calor do planeta e, com isso, alivia os efeitos catastróficos do efeito estufa. Entretanto, geram efeitos em cadeia ao ameaçar os ecossistemas marinhos, e com isso, riscos mais graves a olhos vistos.
Aí estão, perto de nós, as recentes secas na Amazônia, onde antes chovia praticamente todos os dias (quase à hora certa).
Na Sibéria fez calor em pleno final de outono e início de inverno.
Os nossos dias de calor ou frio, ano a ano, têm sido mais estranhos.
E nós, que nos achamos inteligentes, continuamos surdos e mudos,
Continuamos destruindo o ar de nossos netos e colocando suas vidas em perigo. Não adianta comprar carro elétrico e dizer que agora você é bonzinho. O que você consome à toa pode poluir muito.
Pouco nos valemos ou aproveitamos da energia eólica, como se não tivéssemos bons ventos. Ao invés de desmatar, vamos usar energia fotovoltaica para recuperar as florestas e os bosques e vendermos os créditos de carbono que a natureza nos continua dando. Vamos parar de vez de destruir o verde da Amazônia e do Cerrado.
Vamos usar a água para salvar o planeta bloqueando a mineração permitida que contamina os rios e nossas cidades.
Hoje, esbanjamos água e acentuamos o desperdício daquilo que é mais precioso para a vida e para a floresta.
As mudanças climáticas são a base na produção agrícola moderna.
Ou cuidamos do clima ou seremos assassinos do futuro”.
Para mim é muito claro. Este desabafo do Luis Norberto não diz respeito somente às tragédias ambientais que estão acontecendo com frequência cada vez maior, e potencializadas pela maior delas, a emergência climática global.
O que ele está dizendo é que o futuro está em xeque e que não podemos ter o direito de sermos assassinos desse futuro. É preciso cuidar do futuro, já e agora, cada um da melhor forma que puder.
O principal jeito (são muitos!) que o Luis tem cuidado do futuro é valorizar cada vez mais a educação como o único e mais eficiente caminho para a transformação, social e coletiva. A Fundação Educar, liderada por ele, tem contribuído de modo excepcional para dar um futuro melhor para milhares de jovens.
Com 34 anos de atividades, a organização já viabilizou a produção e distribuição de 40 milhões de livros por todos os cantos do Brasil. Já são mais de 22 mil mediadores de leitura capacitados para estimular o maravilhoso gosto por ler. São mais de 16 mil instituições sem fins lucrativos que receberam os livros distribuídos, todos eles com temáticas baseadas em valores, em ética, em cidadania ativa, em promoção do voluntariado.
O lema da Fundação Educar diz tudo: “Os incomodados que mudem o mundo”. É a síntese de um convite à ação, o mesmo que o Luis faz nesse texto inspirado. Então, mãos à obra para permitir um futuro nesse belo planeta!
José Pedro Martins é jornalista, escritor e consultor de comunicação. Com premiações nacionais e internacionais, é um dos profissionais especializados em meio ambiente mais prestigiados do País. E-mail: [email protected]