O que você entende por caridade? Como a define? Pensando nela como um princípio do qual você poderia se utilizar; tem feito isso? Quando a fatura da vida chegar, o que nela esperar encontrar escrito a respeito desse tema? Esta coluna se dedicará a caridade e sua aplicação prática sendo também compreendida como uma prática moral. Me acompanha nessa reflexão?
Pois bem, estava dialogando com uma pessoa muito querida sobre esse tema, e percebendo que o “buraco é mais embaixo”, como falava minha saudosa avó dona Angelina, caridade não se resume a ir doar cestas básicas para famílias carentes. Fazer caridade não é dar esmola à quem lhe pede no semáforo. Insisto: o que você aí, antes de ler as demais linhas que escrevi, entende por caridade? E a partir do que você julga entender, tem praticado? Se não, o que lhe impede?
Penso que (apenas penso, não se trata de uma verdade, não sou nenhum guru que dita regras) caridade vai muito além de gestos de doação material.
Eu enquanto professor; enxergo como caridade o ato de ouvir meus alunos, principalmente na disciplina que leciono, a filosofia, que me possibilita maior diálogo dentro da sala de aula. Ouço alunos, ouço amigos que vêm até mim desabafar, pedir conselhos, buscar um ombro amigo no qual podem chorar, no qual podem se abrir, podem retirar as máscaras que acabam por utilizarem numa sociedade que infelizmente valoriza o sorriso,a felicidade, o status e a perfeição. Ao me procurarem me sinto bem, pois entendo que passo essa imagem de alguém confiável e entendo também que prestar essa atenção às pessoas que me procuram é sem dúvidas um grande gesto de caridade. Parece bobo eu sei, mas há quem pague para ser ouvido, por não terem a quem recorrer…
Caridade é sinônimo de doação, quando se pensa no verbo doar, logo me vem a mente que tal gesto esteja livre de toda e qualquer expectativa de retribuição, de retorno ou reconhecimento externo. Doar é também um gesto de amor, dos gregos veem a interpretação de que caridade esteja relacionado ao amor ágape, aquele praticado por Cristo. Um simples gesto físico também é sinônimo de caridade, pense você em um simples abraço. Simples, mas valoroso, um abraço poderoso, que não tem preço, um abraço sincero, um abraço doado à quem necessita, é se doar… É amar!
Quando a fatura da vida chegar lembre-se de que você irá colher aquilo que veio plantando nos últimos tempos, pense comigo, com que direito você pretende que lhe auxiliem com um gesto, com algo material, com um ombro amigo, ou um ouvido que seja isento de julgamentos se você sequer praticou isso em sua vida, em sua rotina?
Talvez você diga que leva uma vida corrida, que não tem tempo para o próximo, que a sociedade está perdida, que não pode mais confiar e nem depender de ninguém, pois bem, a partir dessa crença, saiba que não terá o direito de esperar caridade alguma de alguém. Sinta-se grato se você necessitar de caridade e consegui-la, mesmo sem tê-la praticado.
Convido você a fazer a seguinte reflexão: só será possível você identificar oportunidades sutis de caridade se você souber defini-las, concorda? Uma vez que você tenha em mente a definição de caridade você se torna competente para perceber quando agem para com você e será competente para agir para com os outros ao seu redor. Reflita sem pressa e pondere sobre a seguinte palavra final que lhe deixo: interpretar e praticar a caridade são coisas das quais deveríamos nos ocupar até o último suspiro de nossa vida. Faz sentido pra você?
Thiago Pontes é filósofo e neurolinguista (PNL)