Todo mundo – ou grande parte dele – tem como objetivo de vida ser feliz. Está, mais do que comprovado, inclusive cientificamente, que as pessoas que levam a vida numa boa têm maior propensão a viver por mais tempo, de forma mais saudável e satisfatória.
Acontece que, nos últimos anos, o projeto de ser feliz passou de um plano a longo prazo, construído diariamente, para algo que precisa ser sentido e vivenciado 24 horas por dia, 7 dias por semana. Basta dar uma passada de olho na timeline do seu Instagram para perceber que não existe tristeza.
Aí que a coisa fica séria.
Não tem nada de errado. Nada mesmo. Sentir-se triste é algo normal. Do cotidiano. Porém, tem um pessoal empenhado em vender um estilo de vida perfeito, sem defeitos, que vem fazendo um estrago sem precedentes na vida das pessoas. Estamos falando de um fenômeno atual chamado de positividade tóxica.
Trocando em miúdos, é quando as pessoas não encaram o lado ruim de uma situação, buscando sempre o lado positivo de um acontecimento, seja ele qual for.
Se você perdeu o emprego, com certeza tem algo melhor te esperando. Se você foi “apenas” assaltado, tem que agradecer por nada de grave ter acontecido. E, por aí vai. Uma lista infindável.
Num primeiro momento, o fato de ver sempre o lado bom das coisas deveria, em tese, deixar as pessoas mais felizes. Porém, o que tem se observado é um efeito inverso. Afinal, é impossível – I-M-P-O-S-S-Í-V-E-L – ser feliz o tempo todo. E, pasme, o inverso também é verdadeiro.
Estudos indicam que as pessoas que buscam a felicidade a qualquer preço, são as que tendem a ser mais infelizes. O motivo é simples: essa turma enxerga os momentos de tristeza como falhas pessoais, aumentando ainda mais a carga de estresse para se ver livre deste sentimento. E, quando estão felizes, não se sentem felizes por completo, já que valorizam o sentimento – de estarem felizes – em excesso.
Diante deste dilema, saí em busca de uma explicação que pudesse amenizar esse anseio que toma conta, mesmo que inconscientemente, de uma boa parte da população. Não achei.
Porém, encontrei uma provocação que me fez sentido: como diferenciar a tal positividade tóxica de uma abordagem otimista da vida?
Longe de ser simples, mas quando estabelecemos uma postura positiva em relação aos acontecimentos que a vida nos impõe, aceitamos os momentos ruins sabendo que eles passarão num futuro próximo. E, depois destes períodos não tão legais, virão as boas oportunidades de se viver algo maravilhoso.
É o ciclo da vida. Devemos aceitar.
Flávio Benetti é professor, palestrante, publicitário e especialista em Comunicação interna e endomarketing. Considera-se um cara apaixonado pela vida, curioso por natureza, fã de tecnologia, design e fotografia