Conversava, em entrevista semana passada para uma rádio, sobre saúde emocional, tema ainda vinculado ao Janeiro Branco, sendo esta a última semana destinada pelo marketing a essa temática. Aliás, me aproveito dessa palavra: Marketing. É através dela que irei conduzir nossa reflexão de hoje, ela nos guiará a outra palavra-chave: Psiquiatria. Aceita me fazer companhia nessa jornada filosófica? Então vamos lá.
O mundo tem sofrido uma mudança muito drástica e rápida nos últimos anos, com inversão de princípios, ideais, valores, com reestruturação de regras, nos obrigando a entrar nessa “dança da era digital”, era na qual o marketing dita as regras e as normas que, de antemão lhe adianto, nos guiarão, sem medo de errar, a uma geração extremamente dependente de remédios psiquiátricos.
É possível constatar essa referência e imposição do marketing digital de como devemos pensar, como devemos agir, como devemos nos vestir, como devemos ser para que sejamos felizes e tenhamos uma vida perfeita! Você já parou para prestar atenção no que lhe é oferecido 24 horas por dia nas redes sociais?
É como se estivéssemos adentrando na era da mentira, associada ao marketing; ou seja: “Faça assim e se dê bem na vida! Basta pagar $ e logo você irá se beneficiar do que comprou e investiu; não se preocupe!” Dia após dia essas falsas referências midiáticas estão guiando a sociedade, como se fôssemos gado, podemos até fazer menção à novela daquela emissora de TV que está sendo reprisada ao final das tardes…
Seríamos nós um rebanho de gado? Se não de gado, então de quê?
Trago a vocês, minha querida leitora, meu caro leitor, trechos de um poema que tenho enorme estima, escrito por Fernando Pessoa, poeta português, intitulado “Poema em linha reta”:
“Nunca conheci quem tivesse levado porrada, Todos os meus conhecidos têm sido campeões em tudo, E eu, tantas vezes reles, tantas vezes porco, tantas vezes vil,
Eu, que quando a hora do soco surgiu, me tenho agachado, Pra fora da possibilidade do soco, Eu, que tenho sofrido a angústia das pequenas coisas ridículas,
Eu verifico que não tenho par nisto tudo neste mundo, Toda a gente que eu conheço e que fala comigo, Nunca teve um ato ridículo, nunca sofreu enxovalho,
Nunca foi senão príncipe – todos eles príncipes – na vida, Quem me dera ouvir de alguém a voz humana, Que confessasse não um pecado, mas uma infâmia, Ó príncipes, meus irmãos, Eu, que venho sido vil, literalmente vil, Vil no sentido mesquinho e infame da vileza, Argh!
Estou farto de semideuses, Argh! Onde é que há gente? Onde é que há gente no mundo?”.
O poeta português Fernando Pessoa me parece ter sido um visionário lá em 1914 ao expor tamanha hipocrisia social.
É como se ele pressentisse que fôssemos adentrar na era do marketing atrelado a mentira social que por sua vez teria como destino a área da psiquiatria e da indústria farmacêutica para suportar, no sentido de dar suporte, amparo, para a sociedade usuária de redes sociais, reféns da era digital, da era da competitividade, do espelhamento e comparações onde lá, por detrás da tela do celular, há pessoas felizes, mundos perfeitos, onde todos vivem felizes para sempre…
Seríamos nós regidos por quem? Há quem interessa tal manipulação? Você se deixa manipular ou tem seu senso crítico aguçado? Convido você a prestar mais atenção do que estão nos oferecendo os algoritmos midiáticos, produtos, serviços, estilo de vida e avalie tudo isso, sem pressa para tentar ir na contramão!
Thiago Pontes é filósofo e neurolinguista (PNL) – Instagram @institutopontes_oficial