Não faço coisa nenhuma com a minha vida. Sempre achei que a vida tem de ser levada com a brincadeira de uma criança. E a vida de uma criança tem de ser levada a sério. Entenda quem quiser. Faça o que quiser com a sua vida, mas, por favor, deixe a vida dos outros seguir seu curso no Tempo, nos seus caminhos, nas suas calçadas.
Não faço nada para atrapalhar a vida ninguém, seja lá quem for, quem atravessa a minha calçada – ou mesmo que me dá um sorriso de bom dia, um olhar de comprometimento, um querer de companheirismo, de uma amizade rápida entre um atravessar uma rua, de recolher os ombros para não atrapalhar quem vem vindo mais apressado.
A chuva cai mansa e vou dançando pela calçada. É um pouco de dançar na chuva, como naquele filme de Gene Kelli, magistral, ensopando os sapatos em uma enxurrada. Quem ainda se lembra? Não, não vou perguntar ao Bolsonaro. Aliás, não tenho nada a perguntar a ele. Ele que se faça presidente de coisa alguma.
Ele que siga a sua vida por aí, se achando o rei da cocada preta, o senhor de todos os infernos políticos. Eu tenho outras coisas para fazer. Embora não faço merda nenhuma para resolver as coisas da minha vida. E também não estou preocupado em resolver merda nenhuma. Cada um tem de resolver o que deseja e até me proponho a ajudar no propósito de cada um.
Estou no início do meu limite existencial. Já ando pensando em comprar uma bicicleta e sair pedalando pelas estradas brasileiras. O problema são os setenta e cinco outonos no lombo e um joelho avariado por um zagueiro de pelada. Não foi culpa do rapaz. Eu é que entrei afoito demais na jogada. E assim estou estatelado até hoje. Mas o joelho ainda me leva a passear pelas ruas do Bosque dos Jequitibás.
O que machuca mesmo é terceira via. Tanto falam nela e ela não existe. Terceira via é formada pelo Lula, que nos deixou 10 milhões de desempregados; a Dilma que foi cassada por conta de mais 11 milhões de desempregados; e, agora, o Messias Bolsonaro com 13 milhões de desempregados. Eis aí a terceira via.
E o Sergio Moro é apenas um mamulengo da Justiça. E quando ele prendeu Lula da Silva ele estava elegendo Jair Messias Bolsonaro. Acho Lula um canalha populista. Mas nunca houve prova material para que ele fosse preso. Li todo o processo e não achei nada que o incriminasse. Sei bem do que falo. E não faço isso por porra nenhuma. Minha vida não é nada de merda nenhuma. E bem sei dos quase cinco anos que militei no PT – ou melhor, na prosa do Lula da Silva.
Tô fora. Sou um merda na vida. Não tenho na vida. Nem um carro fora de linha e muito menos um telhado para cobrir minha cabeça. Lula tá de bem com a vida; Bolsonaro tá bem com as suas coisas; Dilma está no conforto do seu lar; e milhões de brasileiros estão desempregados.
Bolsonaro segue o messianismo do seu nome e eu tento entender a minha velhice.
A calçada me olha e vamos assim caminhando. Olho no semáforo e nos cocos da cachorrada. Não penso em política e sequer no prefeito da cidade. Nem nos edis. Apenas sigo o meu caminho e tento não atrapalhar ninguém. Nem os buracos que se me apresentam pelos meus caminhos. E assim a vida segue e um aposentado é apenas mais um merda na vida. E assim é e a vida seguirá.
Zeza Amaral é jornalista, escritor e músico