Eu estou contribuindo para esta destruição inédita ou posso fazer alguma coisa para mudar a situação? Que mundo ajudarei a deixar para as gerações futuras? Haverá algo o que deixar?
Estas perguntas nada simpáticas têm povoado a mente de um número cada vez maior de pessoas em todo planeta, tamanha a escala de devastação a que estamos assistindo. Os resultados estão aí.
A semana passada foi a mais quente da história humana, desde que as temperaturas começaram a ser registradas, segundo a Organização Meteorológica Mundial. Ondas de calor inéditas atacam a Europa e os Estados Unidos. No Japão, chuvas nunca vistas atingem todo o país.
Esses fenômenos extremos, segundo os cientistas, são manifestações das profundas transformações que vêm ocorrendo na nossa casa, a Terra, por culpa dos seus moradores, os seres humanos. Ações humanas romperam o equilíbrio natural que existia há milhares de anos.
Muitos estudiosos afirmam que, com esses impactos gigantescos provocados pelas mãos humanas, o planeta entrou em uma nova era geológica. Era geológica é o período de tempo, medido em milhões ou bilhões de anos, em que ocorrem transformações profundas na própria estrutura do planeta e na vida em geral.
As estimativas mais aceitas são as de que a Terra tem 4,5 bilhões de anos. A primeira grande era geológica é o Pré-Cambriano e que durou cerca de 4 bilhões de anos. Foi quando o planeta se formou e quando ocorreram atividades vulcânicas intensas.
Depois veio a era geológica Paleozóica, que durou mais ou menos 200 milhões de anos. Começaram a surgir os peixes, os anfíbios, os répteis. Também aparecem florestas.
Em seguida veio a era Mezozóica, com 250 milhões de anos. Nesse período surgiram os dinossauros, aquelas colossais criaturas dos filmes, dos sonhos e muitos pesadelos. Nesse período houve a divisão da grande massa de terra que existia, a Pangeia, dando origem aos continentes como conhecemos hoje.
E veio depois a era Cenozoica, dos últimos 65 milhões, como todas as anteriores com as suas sub-eras. A mais recente é a do Holoceno, o período de 11 mil anos de certa estabilidade no planeta. O ser humano da espécie Homo Sapiens teria surgido há mais ou menos 250 mil anos.
Pois o ser humano, tão novo na Terra, tem causado mudanças cada vez mais radicais no planeta, alterando completamente os seus ciclos naturais. Tanto que aparece então uma nova era geológica, que foi batizada de Antropoceno. Palavra derivada do grego Anthropos, que quer dizer ser humano. Antropoceno é então a era do ser humano, em que ele reina absoluto na Terra.
Esse conceito de era dos humanos é proposto desde o início do século 21 por cientistas como Paul Crutzen, Prêmio Nobel de Química. Desde 2009, um grupo de pesquisadores vem então estudando e investigando quando teria de fato ocorrido o início do Antropoceno e se de fato está pode ser considerada uma nova era geológica.
Um grande passo nessa pesquisa acaba de ser dado com a definição do local na Terra que pode ser considerado a prova desse impacto definitivo do ser humano em sua casa. O local escolhido, entre vários pesquisados, é um lago no Canadá, o Crawford Lake.
O Grupo de Trabalho do Antropoceno escolheu este lugar por terem sido encontrados, em suas profundezas, partículas de plutônio resultantes de testes atmosféricos de bombas de hidrogênio no início dos anos 1950. No lago também estão vestígios da queima de combustíveis fósseis que estão impulsionando as mudanças climáticas com manifestações extremas como as citadas no início do artigo.
As conclusões dos cientistas serão revisadas por outros grupos e em agosto do próximo ano, provavelmente, se houver um consenso, será então declarada formalmente a nova era, o Antropoceno.
Assustador ou inspirador? Ainda podemos fazer algo para mudar?
O ser humano acaba de dar mais uma prova de seu potencial, com o desenvolvimento de vacinas em tempo recorde contra a Covid-19 e evitando milhões de mortes. Continuará usando para que o Antropoceno não seja o seu último momento na Terra?
José Pedro Martins é jornalista, escritor e consultor de comunicação. Com premiações nacionais e internacionais, é um dos profissionais especializados em meio ambiente mais prestigiados do País. E-mail: [email protected]