São interessantes os resultados do Ranking de Competitividade dos Municípios feito pelo Centro de Liderança Pública, cuja pesquisa completa pode ser acessada aqui: https://municipios.rankingdecompetitividade.org.br/.
No ranking, Campinas aparece em 4º lugar no estado e em 8º no país de 92 municípios paulistas avaliados. É uma medida interessante e que está tendo alguma repercussão. No entanto, vários parâmetros estudados sequer são abordados nos planos de pleiteantes à Prefeitura de Campinas, o que seria esperado, uma vez que ali se combina política com gestão.
Alguns estão avaliando o resultado para estabelecer a boa gestão de alguns municípios em relação a outros. Há alguns aspectos, porém, que precisam ser esclarecidos. Primeiramente, um dos principais financiadores de tal instituição que elaborou a pesquisa é o Banco Itaú, com interesses não necessariamente públicos.
Além disso, outro dia vimos em várias matérias e editoriais a decepção com a qualidade educacional em São Paulo, o estado mais rico da nação, o que é um contraponto com a boa avaliação agora apresentada por municípios paulistas. Isso traz o alerta de que é importante saber o que está sendo enfatizado em um ranking dessa natureza.
Por exemplo, a questão da especulação imobiliária associada à revisão de planos diretores não é matéria de análise no ranking. Em São Paulo, representantes do Conselho Municipal de Política Urbana têm publicado artigos corajosos, expondo o que, de fato, está acontecendo na capital com a revisão do Plano Direto, ou seja, a “falácia do adensamento urbano”.
A especulação imobiliária cria uma ilha de investimento em que os interessados e futuros beneficiados não residirão onde constroem. E todos os que se manifestam contrariamente são vistos como antiquados, contra o progresso e por aí vai. Esquecem que precisamos viver e conviver, não apenas sobreviver.
Vivemos, portanto, o urbanismo sem urbanidade, sendo que a cor das “verdinhas” fala mais alto do que o próprio verde da clorofila. E bancos não são exemplos ecológicos de equilíbrio.
Avaliações são necessárias, mas sempre serão falhas, ainda mais em questões complexas como o conjunto de ações de gestão pública. Que sirvam de parâmetros, até para os pleiteantes de cargos públicos, mas não de conclusões absolutas.
Adilson Roberto Gonçalves, pesquisador da Unesp, membro da Academia de Letras de Lorena, da Academia Campineira de Letras e Artes e do Instituto Histórico, Geográfico e Genealógico de Campinas.