O consumo de bebidas alcoólicas por mulheres tem crescido tanto em quantidade como em frequência na última década. Esse é um fenômeno mundial e no Brasil não é diferente. Mas será que as mulheres, especialmente as mais jovens, têm consciência de como o álcool age em seu organismo e, sobretudo, o impacto que a ingestão exagerada provoca em sua saúde?
Parece que não. Pelo menos foi o que indicou pesquisa feita pelo Ipec com homens e mulheres entre 18 e 34 anos. A maioria dos participantes – tanto homens quanto mulheres – não só desconhecem a maior vulnerabilidade fisiológica do organismo feminino aos danos provocados pelo álcool, como demonstram grande resistência a essa realidade.
Mas, vamos aos fatos: por que, então, o corpo feminino é mais suscetível aos efeitos do álcool? Biologicamente, temos menor quantidade de água em nosso organismo e menores níveis de enzimas que metabolizam o álcool, fazendo com que a substância fique mais concentrada e demore mais a ser eliminada.
Com isso, os problemas relacionados ao álcool tendem a surgir mais rápido e são progressivamente mais acentuados nas mulheres, em comparação aos homens.
Existe mais uma particularidade, menos conhecida ainda: o consumo de álcool pelas mulheres pode mudar dependendo da fase do ciclo menstrual. As variações dos hormônios femininos estrogênio e progesterona deixam as mulheres mais vulneráveis a sintomas depressivos e ansiosos nas etapas pré-menstrual e menstrual, o que pode estar relacionado ao aumento do consumo nessas fases. Sabia?
A desinformação atrapalha a prevenção. O álcool aumenta o risco de vários problemas e desconhecer seus impactos interfere na qualidade de vida da mulher. Fico imaginando quantas mulheres não sabem, por exemplo, que o álcool é um dos principais fatores de risco ambiental para o câncer de mama. E isso não vale apenas para aquelas que são alcoolistas.
Segundo a Agência Internacional para Pesquisa sobre o Câncer (IARC), o risco de desenvolver o câncer de mama aumenta de 7% a 10% a cada dose de álcool consumida diariamente.
Lembrando que uma dose de álcool equivale aproximadamente a uma lata de cerveja, uma taça de vinho e uma dose de destilado (tequila, cachaça, vodca etc).
Ainda sobre a incidência de câncer de mama, há evidências de que mulheres que fazem reposição hormonal e bebem são ainda mais vulneráveis à doença.
Um estudo publicado há mais de uma década na revista Annals of Internal Medicine mostrou que o grupo que fazia reposição hormonal e que consumia diariamente 20 g ou mais de álcool (cerca uma dose ou mais) teve risco de câncer de mama quase duas vezes maior comparado a mulheres que não faziam reposição hormonal e não bebiam.
Há ainda outros danos do álcool na saúde da mulher, como a redução da fertilidade feminina decorrente da ingestão exagerada e crônica de bebida alcoólica. E, quando a gestante bebe, mesmo que poucas doses eventualmente, coloca em risco a saúde do bebê. O consumo de álcool na gestação é a principal causa de deficiência mental não congênita, sendo a Síndrome Alcoólica Fetal (SAF) a forma mais grave, e pode trazer diversos danos à saúde do feto, como complicações cardíacas e distúrbios de comportamento.
Informar mais mulheres sobre como o álcool age em seu organismo e os prejuízos que ele pode causar à sua saúde é um passo importante para a prevenção de doenças e consequências que são evitáveis.
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Mariana Thibes é socióloga e coordenadora do CISA – Centro de Informações sobre Saúde e Álcool. Possui doutorado em Sociologia pela USP e pós-doutorado em Ciências Sociais pela PUC-SP.