Quem matou Toninho? A pergunta sem resposta completa hoje 20 anos. Duas décadas de investigações fracassadas, especulações e nenhuma certeza. A autoria e a motivação do crime que encerrou precocemente a vida do prefeito de Campinas permanecem incógnitas para a cidade e sobretudo para a esposa Roseana e a filha Marina.
Lembro como se fosse hoje daquele fatídico dia seguinte ao assassinato, 11 de setembro de 2001. O prefeito morreu à noite, alvejado por um disparo de pistola 9mm quando dirigia seu carro pela avenida Mackenzie.
Enquanto o mundo estava diante de uma catástrofe coletiva, os ataques terroristas em Nova York, Campinas vivia uma tragédia singular, convergida ao velório de Toninho no Paço Municipal. A multidão, na avenida Anchieta, clamava por justiça enquanto a fila para o último adeus era organizada. Como repórter do Correio Popular, participei intensamente daquela triste cobertura.
Mas quero aqui deixar outra lembrança, que acredito revelar aos que não conheceram, um pouco da personalidade do prefeito Antonio da Costa Santos.
Certa vez, da noite para o dia, integrantes do movimento sem-teto instalaram dezenas de barracos num terreno que deveria ser a área de lazer da Vila Georgina, bairro da região sul de Campinas.
Fui lá na cara e na coragem junto com o repórter fotográfico Augusto de Paiva, o sempre companheiro e divertido Gutão.
Claro que fomos hostilizados, e ameaçados pelas lideranças do movimento. Queriam que a gente fosse embora… e eu, do alto da minha soberba, disse que não iria de jeito nenhum, que estava ali fazendo meu trabalho, que tínhamos que ser respeitados.
Cochichando no meu ouvido, Gutão tentava me convencer a acatar a ordem, ponderava que aquele pessoal poderia ser “perigoso”.
Até que, de repente, aparece lá de surpresa para negociar com os invasores e dirigindo seu próprio carro, o prefeito Toninho. Chamava a atenção o fato de não haver seguranças ou assessores acompanhando o chefe do executivo.
Apenas o padre Nelson estava junto com ele no Fiat Palio, religioso que atuava na pastoral dos sem-teto.
Aquela ousada atitude acalmou os ânimos de imediato. Fiquei de queixo caído. Dias depois, o terreno foi devolvido ao poder público. Ainda hoje continuo surpreso: o próprio prefeito, da maior metrópole do interior do Brasil, negociando diretamente com invasores de área pública no local da ocupação, sem assessores e seguranças.
Impensável nos dias atuais. Assim era Toninho.
Surpreendente.
Marcelo Villa é jornalista