Todo bom empreendedor nasce imaginando e construindo histórias. Um bom sistema para passar adiante algo interessante e útil para a sociedade, deve terminar num livro.
Em minha vida, nunca imaginei ser um escritor e viver dessa linda profissão, mas as dificuldades e desafios que enfrentei sempre foram mostrando o caminho da leitura e da escrita como um mapa da rota certa. E daí, foi um pulinho para acreditar que somente os livros podem construir uma sociedade mais adulta e capaz.
Muita gente me pergunta por que que resolvemos começar uma Fundação voltada para a educação e quanto ganhamos fazendo milhões de livros distribuídos gratuitamente? Digo que muito, muito mesmo, pois cada criança que começa a ler nunca mais vai parar e isso é o maior valor que podemos deixar para a novas gerações.
Através de nossos livros, mudamos escolas inteiras que com um projeto de protagonismo, consegue despertar nos pequeninos, nos pais e professores fórmulas de transformar crianças em leitores capazes de construir suas próprias experiências de vida.
Quando eu era pequeno, minha mãe pegava no meu pé para ler. Ela lia, meu pai lia muito e meu irmão, um gênio que lia de tudo. Eu, moleque travesso tinha minhas leituras lúdicas, mas pouco intelectuais. Demorei a conquistar essas delícias. Hoje, não vivo sem livros.
Quando estamos lendo e divagando, não envelhecemos, não sofremos, ao contrário, criamos um estado de espírito muito bom para nosso bem-estar. Toda vez que releio um livro interessante, parece que estou lendo outro livro. Na minha cabeceira, há livros de arte e medicina, que adoro ler repetidamente e cada vez mais aprecio o que estou lendo.
Não posso deixar de agradecer aos mestres-professores que me motivaram para fazer os livros dedicados às crianças e jovens. E desses livros nasceram vários projetos sociais que hoje são ainda mais importantes. A leitura tem o dom de humanizar e fazer enxergar o outro.
Ao longo da minha vida tive que fazer coisas que não queria ou imaginava serem necessárias. Para aprender rapidamente, estudava e perguntava muito. Uma curiosidade enorme. Para memorizar esses fatos novos, escrevia rascunhos. Um desses casos foi um material sobre café. Ao final, uma escritora amiga me disse: ‘transforma num livro, Luis, eu te ajudo’.
O Museu da Café, em Santos, me convidou para lançá-lo na sala do café com uma palestra. Ao estacionar nas ruas do porto, já meio tarde, eu e minha mulher vimos uma jovem de 12 ou 13 anos sentada na calçada onde iríamos estacionar. Ela se levantou e veio pedir um trocado. Obviamente sua vida era um desastre, sem saída. Ainda mais no cais do porto. Falamos com ela uns minutos e dissemos: “tenho uns livrinhos no porta-malas e se você quiser uns dois ou 3 para você ler, quando voltar te ajudo’. Foi uma forma de não dar esmola, mas construir uma ponte para ajudá-la.
Ao sairmos do museu, lá estava ela em pé. Veio em nossa direção e disse obrigado pelos livros que havíamos ‘emprestado’. Contou que não sabia ler, mas conseguiu entender o que a história dizia. E realmente pelas imagens ela contou as histórias. Eu e minha esposa ficamos surpresos porque queria devolver os livros e não aceitou o dinheiro. Insisti e ela disse: “eu fui respeitada por vocês, os livros me encantaram, e eu consegui me ver como gente, dinheiro nem pensar”.
Caminhando pela rua acenando com as mãos, eu não acreditava no que tinha visto. Refletimos: que mundo é esse? Que lição tivemos? Do medo inicial para uma demonstração de carinho e respeito que as vezes falta entre nossos amigos. E de uma jovem em extrema vulnerabilidade, abandonada pela sociedade, um puxão de orelha que nunca vou esquecer. Não me lembro do que falei e quem estava no lançamento do livro, mas me lembro de cada palavra e cada minuto com essa menina. Ela me colocou uma responsabilidade incalculável. Daí, ampliamos muito nosso projeto da fundação e passei a apoiar o projeto Childhood que ajuda essas meninas que sofrem abuso em todo o Brasil.
Nesse dia, percebi que havia nascido para fazer pontes. Sinto que a nossa Fundação Educar com seus milhões de livros, nada mais fez senão construir pontes com pequenos leitores e escolas. É bonito ver o que essas crianças e jovens fazem ao atravessar essa ponte através da leitura.
Livros para mim, não são presentes, mas agradecimentos, lembranças que possam ser comemoradas. Uma boa leitura e reflexão sobre amizade vale ouro. Livros abrem cabeças e enterram burrices crônicas. Livros gritam sobre o passado e sobre o presente. Alguns, até sobre o futuro.
Limpo todo ano, minhas estantes abarrotadas de livros. E depois o difícil é escolher quem para presentear, alguém que possa tirar mais proveito. Outros, não consigo me desfazer.
Ha livros que não posso assistir num filme, pois sempre me decepciono. Mas há alguns que depois do filme, leio novamente e vejo outros detalhes muito importantes. Cada filme é um livro e cada livro pode virar um filme, em nossa cabeça.
E cada um de nós é um livro. Para crescer, é preciso saber ler, principalmente livros que nos ofereçam orientação, que nos expliquem a razão e os porquês e principalmente entender a história de como chegamos até aqui de forma profunda e objetiva. Livros me salvam. E hoje, a Wikipédia também.
E já que dia 29 de outubro é celebrado o Dia Nacional do Livro convido a todos a mergulharem numa leitura gostosa!
Luis Norberto Pascoal é empresário, empreendedor e incentivador de projetos ligados à educação e à sustentabilidade. A Fundação Educar Dpaschoal é um dos pilares de seu trabalho voltado ao desenvolvimento humano e social