A Revolução Sexual da metade do século passado ainda não terminou. Segue espocando em vários cantos, incomodando conservadores moralistas e atiçando bons e maus inovadores.
Sexualidade é assunto muito amplo e complexo, mas tem alguns aspectos simples que se sustentam mais significativos do que outros bem labirínticos.
As zonas erógenas, exceção dos genitais, são muito discutíveis, por vezes bem pessoais, implicando detalhes específicos da orientação sexual e da experiência íntima de cada um.
Um heterossexual pode achar delicioso que a parceira toque seu ânus, mas bloqueará esse entusiasmo sensorial se desconfiar que ela especule sobre experiências homossexuais dele.
Os genitais, logicamente, seguem concentrando a potencialidade erótica, são os maiores focos essenciais e naturais do prazer.
Todo esse vigor sexual proporciona, no entanto, uma enorme complexidade de valores enredados, com pressões morais, políticas, éticas, históricas e sociais.
A Revolução Sexual ainda não aliviou a barra dos genitais. Para a grande maioria das pessoas, em pleno III milênio, eles seguem perigosos, pecaminosos, sujos. E, infelizmente, podem mesmo até ser criminosos.
Convivemos com essa maioria cristã (católica, evangélica) e muçulmana que esconde, blinda e censura os genitais e com os arroubos da minoria inovadora que libera a sexualidade.
Entre muitas inovações, desde os primeiros efeitos da Revolução Sexual, vieram o casamento aberto, o gay power, a bissexualidade, os vai e vem do feminismo, a condenação do machismo, a equivalência de gêneros, o casal homossexual com filhos, as tentativas tolerantes de incluir na sociedade quaisquer grupos, tais como os travestis, transexuais e outras novidades e modismos.
A malícia imoral ainda ronda a vida da maior parte das pessoas, mantendo a maldição pecaminosa dos genitais, entendendo-os como desrespeitosos.
Menos Genital e Mais Sexo. No plano íntimo, quando se quer favorecer o clima erótico, precisamos de participação menos focalizada nos genitais e de uma amplificação do sexo para todo corpo.
A melhor relação sexual possível é aquela em que a pessoa mais se dedica a visitar quem está a seu lado, sair bastante de si, esquecer-se de si mesma e ir ao outro, para captá-lo em toda sensorialidade, em todo setor corporal (tocar, cheirar, ouvir, saborear, olhar) e, então, vivenciar a participação genital.
Moça solteira, bem cuidada, esculpida em academias, queixava-se de “certa frigidez” com os parceiros. Ocorre que ela permanecia muito tempo se medindo nos espelhos do motel, ao invés de experimentar aquele que estava ali, do seu ladinho…
Moço, recentemente divorciado, procurou prostituta. Ansioso, queria a penetração genital imediatamente. Ela lhe deu uma lição, mostrando que a casa de massagens tinha que fazer jus ao nome. Manipulou o corpo do cliente o maior tempo que conseguiu, adiando o intercurso genital.
Mais Genitais e Menos Sexos. O genital masculino é o que ainda mais sofre e sente a pressão moralista.
Entre os estudos de anatomia de Cláudio Galeno, falecido no século 3, e a retomada de Mondino de Liuzzi, morto no século 14, foram mais de mil anos de censura rígida e controle rigoroso da religião sobre a sexualidade. Nem dissecção de corpos poderia ser exposta.
A carga histórica deste sufoco moralista foi muito pesada, há reservas disto até hoje.
O genital masculino ainda assusta, nem sempre pode ser apresentado, reconhecido e/ou recebido como um “pênis cortês”…
Se o genital estivesse liberado, inocentado de malícia, dispensaríamos a polêmica sobre o uso de banheiros para homens e para mulheres.
Os que frequentam com inspiração genuína um campo de nudismo podem manter a distinção genital sem maiores dificuldades. Escolheriam separar ou não os banheiros em masculino e feminino.
Nos EUA, recentemente, o estado de Idaho aprovou projeto que determina que as pessoas devem usar os banheiros conforme o sexo do nascimento.
Por enquanto, por ora, esfriando um pouco os anseios modistas e a exploração midiática do problema, é melhor que o genital decida mesmo a frequência dos banheiros. Isso pode parecer freudiano demais, mas vamos lá: quem possui pênis siga para o masculino; quem não o possui achegue-se no feminino…
Joaquim Z. Motta é psiquiatra, sexólogo e escritor