Titular absoluto e peça fundamental para o Guarani do ano de 1986 até o começo de 1989, Marco Antônio Boiadeiro viveu momentos históricos da carreira em Campinas e deixou saudades em grande parte da torcida bugrina. Nascido em Américo de Campos, município localizado na região Noroeste do estado de São Paulo, o ex-meia atualmente está com 58 anos e se dedica ao agronegócio, bem longe da cidade grande, na pequena e humilde Onda Verde.
“Hoje eu moro na fazenda, na cidade de Onda Verde, município próximo a São José do Rio Preto, no Interior de São Paulo. Tenho essa propriedade em Onda Verde e também tenho uma casa em Rio Preto. Tenho plantação de cana-de-açúcar na fazenda, também tenho gado e vou tocando a minha vida por aqui”, destaca Boiadeiro.
“Tenho duas filhas. A Natália é médica oftalmologista, faz plástica ocular e cirurgia de estrabismo. A minha outra filha é formada em Direito. Graças a Deus está todo mundo bem, com saúde, trabalhando e com tudo em ordem. O mais importante é estar com saúde e pedir a Deus para prolongar a nossa vida, sempre com muita saúde”, acrescenta o atleta, que deixa claro estar “feliz da vida”.
Nascido no dia 13 de junho de 1965, Marco Antônio Boiadeiro foi contratado pelo Guarani em 1986, quando tinha 21 anos, logo depois de vestir a camisa do Botafogo-SP e atuar ao lado de Raí. Em Campinas chegou desconhecido, mas rapidamente caiu nas graças da torcida bugrina, como um meia-direita que fez a diferença na emblemática campanha que levou o Alviverde ao vice-campeonato do Brasileirão.
“Passa um filme pela minha cabeça. Para mim, é uma lembrança das melhores [a passagem pelo Guarani]. Parece que foi ontem que eu cheguei ao Guarani vindo do Botafogo-SP. Na época, o presidente do Guarani era o Leonel [Almeida Martins de Oliveira], ele que me contratou. Lembro que o clube já tinha jogadores como João Paulo, Evair, Ricardo Rocha, Zé Mário, Barbieri, Tosin, e eu cheguei logo depois. Ninguém era conhecido na época, nós não tínhamos experiência, mas tínhamos uma enorme alegria de menino e muita vontade de jogar bem no Guarani. Para mim é uma das melhores lembranças que tenho”, recorda o ex-jogador.
Boiadeiro relembra detalhes da histórica campanha do Guarani no Brasileirão de 1986 e contesta até hoje a polêmica arbitragem de José de Assis Aragão na segunda partida da final diante do São Paulo, no Brinco de Ouro da Princesa, quando deixou de marcar pênalti claro no atacante João Paulo. Em 120 minutos, a partida terminou empatada por 3 a 3, com direito a gol do ídolo bugrino Careca, para o Tricolor, aos 14 minutos do segundo tempo da prorrogação. A decisão foi para os pênaltis e o time campineiro acabou com o vice-campeonato.
“Eu guardo muitas coisas boas e algumas coisas ruins, pois infelizmente não vieram os títulos. O primeiro título que nós disputamos foi o Campeonato Brasileiro. Nosso time era muito competente, chegamos na final e essa decisão teve um resultado muito injusto por conta do que o Aragão fez com a gente. Ele deixou de marcar um pênalti claro no João Paulo. O que mais me entristece é isso que ele fez conosco, me deixou muito triste, mas eu tenho as lembranças gostosas do Guarani. O Guarani me deu muitas alegrias”, recorda o ex-meia.
Além da campanha espetacular no Campeonato Brasileiro de 1986, Boiadeiro também foi titular absoluto do Guarani durante o Campeonato Paulista de 1988, na campanha histórica que levou o Bugre ao vice-campeonato. No primeiro jogo da decisão, a equipe campineira empatou por 1 a 1 com o Corinthians, no Morumbi. No jogo de volta, em Campinas, acabou derrotada por 1 a 0, com um gol do centroavante Viola na prorrogação, que até hoje é difícil de digerir.
“Outra final que nós chegamos foi a do Campeonato Paulista de 1988. Nosso time estava muito bem, na prorrogação estávamos bem e parece que o Viola estava predestinado a marcar aquele gol para o Corinthians. O Wilson Mano errou aquele chute, e o Viola fez o gol de carrinho. Talvez se o Wilson Mano não tivesse errado o chute daquela forma, nós poderíamos ter conquistado o título”, pontua.
“O mais importante para mim é que essa passagem pelo Guarani, os três anos que fiquei no clube, foram muito positivos. O torcedor do Guarani sempre ia ao estádio com confiança e isso marcou muito. Tivemos a infelicidade de não conquistarmos os títulos, mas jogamos sempre com muita raça e determinação. A torcida ia para o campo com a confiança e a segurança que tinha coisa boa prestes a acontecer e todo o apoio que recebemos foi muito importante para nós”, complementa.
Outro momento marcante que Boiadeiro viveu com a camisa do Guarani foi disputar a Taça Libertadores de 1987 e 1988 com a camisa do clube. O Bugre enfrentou adversários tradicionais do continente como São Paulo, Colo-Colo, Cobreloa, Alianza Lima, Universitário e Sport, não chegou longe nas disputas continentais, mas o elenco alviverde viveu experiências históricas de representar o clube fora do Brasil.
“Tinha tanta coisa do futebol que quando eu estava começando a jogar pelo Guarani eu nem sabia o que era. Hoje tudo está moderno e todo mundo sabe de tudo. Eu vim menino da fazenda, sem experiência de nada, e não tinha nem noção o que era disputar Campeonato Brasileiro”, conta Boiadeiro.
“Eu morava no mato, fui para Ribeirão Preto jogar no Botafogo-SP e logo depois vim para o Guarani. Eu não tinha nem noção que iria começar a viajar de avião, não tinha noção de nada. Em relação à Libertadores, eu conhecia menos ainda e essa experiência de jogar a primeira Libertadores da minha carreira pelo Guarani foi muito importante. Lembro que enfrentamos dois clubes chilenos em 1987 (Cobreloa e Colo-Colo) e dois peruanos (Alianza Lima e Universitário) em 1988. Fomos jogar duas vezes no Chile e foram as primeiras vezes que eu andei de avião e saí do Brasil. No ano seguinte, também fomos duas vezes ao Peru. Foi uma experiência única e foi muito importante. Depois lembro que também teve uma excursão para a Arábia Saudita, mas infelizmente não fui por não ter todos os documentos necessários para a viagem”, acrescenta.
Revelação do Guarani no Campeonato Brasileiro de 1986 e destaque até o final da temporada 1988, Boiadeiro deixou o clube em 1989 para atuar no Vasco. Depois acumulou passagens por Cruzeiro, Seleção Brasileira, Flamengo, Corinthians, Rio Branco de Americana e Anápolis, até encerrar a carreira no América-MG em 1999.
Apesar da saída do Guarani, o ex-meia faz questão de retornar a Campinas até hoje e guarda enorme carinho pelo clube. Boiadeiro tem amizade próxima com ídolos que atuaram ao seu lado no Bugre e também com atletas como Amoroso e Luizão, que despontaram para o futebol no início da década de 1990 e fizeram história no Brinco de Ouro da Princesa atuando com a camisa verde e branca.
“Tive a oportunidade de jogar com o Zenon no Guarani no final da carreira dele. Hoje jogamos juntos no time de másters do Corinthians e também na Seleção Brasileira de másters. Tenho muito contato com o João Paulo e com o Luizão. Tenho bastante contato com o Tozin também, jogamos juntos de vez em quando. Também converso bastante com o Amoroso. Encontrei o Evair e o Bozó algumas vezes também. Quando o Luizão era menino, eu já estava no futebol, no Guarani, e ele era meu fã. Ele nasceu em Rubinéia, aqui na região onde eu moro, e quando eu estava por aqui jogava com ele e com o Doriva. Tenho muita amizade com o Luizão, com o pai dele, com a mãe dele e com o irmão dele”, ressalta Boiadeiro.
“Nós fazemos uma família no futebol, uma irmandade. No futebol, jogamos juntos com diversos atletas por alguns anos e viramos irmãos. O bom é encontrar todo mundo, o carinho é enorme. O João Paulo, todo o pessoal do Projeto Bugrinho, o Amoroso e o Luizão sempre me convidam para participar de jogos beneficentes em Campinas e eu sou muito bem recebido pela torcida do Guarani em todas as oportunidades. Queria até encontrar mais esse pessoal. O Careca é mais um que sempre estou junto com ele, é meu irmão. Sempre pergunto do gol que ele marcou para o São Paulo no último lance do jogo na final do Brasileirão de 1986 contra o Guarani. O hino do Guarani já estava tocando no Brinco de Ouro (para comemorarmos o título), e o Careca fez o gol no último lance do jogo”, relembra.
Concentrado no trabalho na fazenda, no município de Onda Verde, Boiadeiro revela que atualmente não tem mais a mesma ligação que tinha com o futebol quando atuava profissionalmente. No entanto, confessa que tem saudades dos momentos da época de atleta, não deixa de acompanhar algumas partidas, faz questão de torcer para o Guarani e também para todos os outros clubes que vestiu a camisa durante a carreira.
“Eu não fico mais diretamente tão ligado ao futebol, mas gosto de dar uma olhada para entender e ver como estão os jogos. Sempre que ouço falar algo do Guarani, faço questão de acompanhar e torcer. Criei um amor grande pelos times que atuei durante a carreira. Primeiro eu torço pelos times por onde passei. Se dois times que joguei estão se enfrentando, vou torcer para quem estiver jogando melhor. Dá uma saudade do futebol, as lembranças são as melhores e isso que é gostoso. É muito bom”, finaliza Boiadeiro.