Ana Maria Melo Negrão
Academia Campinense de Letras
Desde pequena, era frequente ouvir minhas tias cantarolarem a modinha: “Tão longe de mim distante, onde irá, onde irá meu pensamento”… E elas me diziam que era uma romântica canção de Carlos Gomes, o que me incentivou, ainda menina, a buscar saber mais sobre o grande compositor e maestro.
Campinas viu nascer Antônio Carlos Gomes, o Tonico, em 11 de julho de 1836, na Rua Matriz Nova, depois denominada Rua Regente Feijó, em uma humilde casa, onde hoje ergue-se um prédio de escritórios de número 1251.
Seu pai, o severo Manoel José Gomes, o “Maneco Músico”, percebendo desde cedo, o interesse e o talento de seu filho Tonico pela música, iniciou-o no piano e na Banda Musical de Campinas. As apresentações da Banda ajudavam Maneco no sustento dos seus 26 filhos. Em 1846, Tonico teve a oportunidade de tocar com o pai diante de D. Pedro II, por ocasião da sua visita à cidade de Campinas.
Aos 15 anos, Tonico lecionava piano e canto em casas de famílias de Campinas e em fazendas patriarcais dos arredores. Dedicava-se ao estudo de óperas e compunha polcas, valsas, quadrilhas. Aos 23 anos, lá pelos idos de 1859, Carlos Gomes foi atraído pelo amigo músico, Henrique Luís Levy, a frequentar o ambiente estudantil
da Faculdade de Direito de São Paulo. Hospedaram-se em uma república de alunos do curso de Direito e tornaram-se próximos de Campos Sales, Prudente de Morais e tantos outros. Em retribuição, Carlos Gomes compôs o Hino Acadêmico com a letra do estudante e poeta Francisco Leite de Bittencourt Sampaio.
Tornaram-se comuns as serestas e, por esse tempo, Carlos Gomes sofria de amores pela bela Ambrosina Corrêa do Lago que vivia na fazenda de seus pais em Mogi Mirim, os quais proibiram qualquer aproximação dos enamorados.
Carlos Gomes confidenciou a sua angústia amorosa e a saudade de sua Ambrosina ao amigo Bittencourt Camargo, autor dos versos do poema “Tão longe de mim distante”… Carlos Gomes, com extrema sensibilidade, compôs a música para o poema, nascendo assim a modinha “Quem Sabe”, dedicada à Ambrosina e interpretada através de anos, décadas por grandes cantores líricos, até hoje a encantar pessoas e a preencher corações apaixonados.
Ana Maria Melo Negrão é acadêmica. Ocupa a cadeira 8 da ACL