Jorge Alves de Lima
Academia Campinense de Letras
Em 1890, logo após a Proclamação da República, em 15 de novembro de 1889, Carlos Gomes estava sofrendo muito em Milão, na Itália. Quase sem recursos financeiros junto com os seus três filhos pequenos, sendo que um deles, Carlos André, estava muito doente, a família enfrentava um Inverno rigoroso. Situação dramática, quando recebeu um inesperado aviso do Banco Ultramarino, um depósito de 20 contos, ouro colocado ao seu dispor por ordem do governo do Marechal Deodoro da Fonseca.
Ao mesmo tempo vinha-lhe a encomenda urgente do Governo Republicano para compor o novo Hino da República.
Porém, Carlos Gomes sempre recebeu ajuda financeira e muita amizade do velho Imperador Dom Pedro II, que já estava à beira da morte em Paris. Aquele convite parecia antes uma ironia. O maestro Carlos Gomes era pobre!
Duas grandes virtudes, todavia, dominavam a natureza do Tonico de Campinas: a gratidão e o perdão das injúrias. A sua recusa foi categórica:
– Não posso! Seria aceitar uma tremenda ingratidão ao meu Imperador Dom Pedro II.
Imediatamente ordenou ao Banco que devolvesse o dinheiro ao governo do Brasil. Quanta dignidade, quanta nobreza de caráter, quanto patriotismo e sentimento de civismo. A gratidão era um traço marcante de seu caráter, um verdadeiro princípio de honra. Carlos Gomes sempre afirmava:
– Eu, Carlos Gomes, sou de uma raça bárbara, mas reconhecida e agradecida até a morte a quem se digne apreciar-me, principalmente, como homem.
O gesto corajoso de Carlos Gomes foi e ainda é no presente um exemplo marcante aos brasileiros, principalmente, agora, na nossa cruel realidade em que a honestidade, a decência não fazem
mais parte do cotidiano dos políticos brasileiros.
Campinas tem um dever de honra de prestar homenagem ao seu filho mais ilustre: Carlos Gomes!
Jorge Alves de Lima é acadêmico. Ocupa a cadeira 2 da ACL