Neste 1º de Maio, Dia do Trabalhador, há pouco o que comemorar, principalmente por conta da pandemia, que estagnou ainda mais a economia, ceifou empregos e causou arrocho na renda das famílias. De acordo com a economista Eliane Rosandiski, extensionista na área de Trabalho e Renda do Observatório da PUC-Campinas, a estimativa é que a taxa de desemprego esteja entre 10% e 12% na Região Metropolitana de Campinas (RMC).
“Isso corresponde a cerca de 270 mil pessoas na região procurando emprego. A gente faz a estimativa usando dados nacionais. Não existe uma pesquisa do desemprego na região, nem em Campinas. E desde a pandemia o IBGE não tem divulgado as taxas de desemprego nos estados, que a gente também usava”, explica a professora.
A análise foi feita com base nos dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) divulgados na última sexta-feira (29), referente ao mês de março.
No primeiro trimestre de 2022, a RMC gerou 17.341 novos empregos, sendo 5.106 no mês de março. O número representa 15% dos empregos gerados no Estado de São Paulo, que foi de 34.010, no mês.
“A região, de alguma forma, consegue encontrar estratégias para se recuperar dos efeitos ruins da economia. Em Campinas e região isso está muito ligado a serviços de tecnologia. São áreas, que geralmente, recruta profissionais com melhor perfil de escolaridade e salários mais elevados”, afirma a professora.
Contudo, Eliane Rosandiski ressalta que o setor do comércio e serviços que foi um dos mais devastados logo no começo da pandemia, não está conseguindo se recuperar com a intensidade que deveria.
“Isso, infelizmente, é esperado nessa conjuntura. A estrutura de custo está pressionada pela inflação, preço do alimento e do gás, por exemplo. E os consumidores remanejam o orçamento porque as contas estão pressionadas pela inflação e corta os supérfluos”, explica.
Para piorar, a economista aponta que muitos dos desempregados ao se recolocarem no mercado de trabalho estão recebendo salário menores.
“Além disso, o emprego gerado tem grande participação de jovens de 18 a 24 anos, com salário menor. Isso tira a potência de estimular o consumo, aliado ao aumento de preços é ainda pior”, afirma.
“O salário real diminuiu cerca de 8% em todas as ocupações. A queda no último ano foi de 10%. Isso leva a perda de renda e de potência de consumo, sem levar em conta a inflação”, diz a economista.
A economista ainda alerta que muitas pessoas estão em ocupações informais na RMC. “A RMC tem um crescimento maior de ocupações informais. Uma empregada doméstica que perdeu o emprego e agora é recolocada, não tem a carteira assinada e está com o salário menor, por exemplo”, aponta.
Eliane destaca também a insegurança alimentar. “É um cenário difícil e todos os sinais apontam para o aumento da pobreza em geral. As pessoas pensam que insegurança alimentar é não ter o que comer. Esse é o último grau da insegurança. Mas começa quando a pessoa deixa de comprar carne para comprar frango porque a carne já não cabe mais no orçamento. Depois passa a comer só uma vez por dia, até aqueles casos em que só come com doação”, comenta.
“Neste 1º de Maio tem muito pouco a comemorar e muito a lutar”, completa Eliane.
VIDA E TRABALHO
Ivonete Moraes está desempregada e tem feito cursos de qualificação para conseguir uma oportunidade de renda, principalmente para dar uma melhor qualidade de vida para a filha de 14 anos que tem paralisia tetraplégica espástica.
“Estou desempregada há alguns anos. Eu faço curso técnico para que no futuro eu venha ter outros meios para poder sustentar e dar uma vida melhor para ela porque o que o governo dá é muito pouco para manter uma criança com deficiência”, diz.
Carlos Aparecido da Silva, artista de rua nunca pensou que trabalharia dessa forma.
“Se eu falar que sempre almejei isso é mentira. Mas uma hora descobri isso e não quero mudar de profissão tão cedo. Não tenho a mínima vontade de fazer outra coisa a não ser o trabalho manual”, conta.
A pandemia ajudou Lucas Salazar a se jogar de vez no mundo da música.
“A pandemia fez com que eu corresse mais atrás disso porque como a gente tem visto emprego hoje em dia está um pouquinho complicado e, como a música no caso é autônoma, é você e sua arte ambulante, então me tirar da zona de conforto foi um pouco até benéfico para mim nesse ponto. Hoje trabalho com o que eu gosto, com o que eu amo”, comenta.
CPAT
Em Campinas, o Centro Público de Apoio ao Trabalhador (CPAT), ligado à Secretaria de Trabalho e Renda, tem sido um instrumento de apoio na busca pela recolocação de profissionais ao promover o encontro das oportunidades com os profissionais que buscam uma vaga de trabalho.
Atualmente, o Centro tem 213 vagas disponíveis em diversas áreas, como ajudante geral, auxiliar de cozinha, consultor de vendas, eletricista, entre outros.
Além disso, estão disponíveis 6491 vagas em cursos de qualificação profissional gratuitos em diversas áreas. As capacitações serão realizadas nos meses de maio e junho em parceria com o Sebrae, Senai, Senac, Embelleze, Faculdade Anhanguera, Universidade Mackenzie e Softex.
Mais detalhes e inscrições estão disponíveis no site https://cpat.campinas.sp.gov.br/.