Falar de menstruação ainda é um tabu em nossa sociedade. Mas, este tema está sendo desmistificado dentro da Escola Estadual Tenista Maria Esther Bueno, no bairro Campo Grande, em Campinas. “Em muitos anos dentro do magistério eu notava que em alguns períodos algumas meninas deixavam de ir à escola por conta da menstruação. Elas não tinham acesso e nem dinheiro para comprar absorventes íntimos e isso gerava constrangimento para elas”, destaca o diretor Arnaldo Valentin Silva.
Na escola em que atua, o diretor resolveu, após conversar com muitas mulheres, incrementar o Programa Dignidade Íntima do Estado de São Paulo. Ele implantou uma máquina que disponibiliza pacotes de absorventes íntimos, mediante a um cartão eletrônico distribuído na escola.
Cada adolescente tem direito a duas fichas mensais, totalizando 16 absorventes, ou seja, dois pacotes. “A máquina foi inspirada nas máquinas de café e refrigerante que existem por aí. Perguntamos para um ex-aluno, que hoje é engenheiro, se ele conseguiria fazer essa adaptação. E, deu muito certo”, conta o diretor.
A máquina fica num lugar mais reservado da escola e a jovem pode retirar o pacote de absorvente no momento que achar mais oportuno, caso ela não queira se expor. Vale destacar que esse assunto ainda pode gerar constrangimento para algumas meninas. Mas, além de superar esse constrangimento, há o desejo de que elas entendam que isso faz parte de uma política pública e que é um direito delas. “As meninas têm comentado que estão se sentindo respeitadas. Além disso temos percebido que isso trabalha a autonomia e a preservação da intimidade delas”, diz.
Os meninos também tiveram acesso a informações, foi recebida uma ginecologista na escola para falar sobre o tema e isso tem ajudado a desmistificar a menstruação. “Eu moro com minha esposa e filha e nunca havia comprado absorvente íntimo. Fui até um supermercado para comprar e acabei tendo uma aula sobre diferentes fluxos menstruais. Essa experiência tem servido para desmistificar muitos tabus, também para mim”, destaca o diretor.
Arnaldo disse que não conhece outros lugares que tenham uma máquina dessas, mas pelo resultado que tem visto na escola, acha que todas as escolas deveriam implantar. “A máquina foi feita de forma artesanal, mas acredito que toda escola e posto de saúde poderiam ter uma dessas”, diz.
Pobreza menstrual é coisa séria
A higiene menstrual é um direito humano reconhecido pela Organização das Nações Unidas (ONU) desde 2014, mas está longe de ser uma realidade. Para se ter uma ideia da seriedade do assunto, uma em cada quatro adolescentes no Brasil não tem acesso a absorvente durante o período menstrual e quase 30% das mulheres jovens já deixaram de ir às aulas por isso. O que pode estar subdimensionado, porque geralmente as jovens nessa situação escondem o motivo de faltar à aula.
O termo pobreza ou precariedade menstrual trata da condição de diversas meninas adolescentes e mulheres que vivem em situação de vulnerabilidade social e econômica. Ou seja, é a falta de saneamento básico e itens de higiene pessoal, entre eles o absorvente descartável.
Uma das consequências desse tipo de desigualdade social pode ser refletida na educação, visto que muitas meninas deixam de ir à escola no período menstrual.
Kátia Camargo é jornalista e nem sempre a menstruação foi um tema natural dentro da sua família e sabe o quanto desmistificar o assunto é libertador. Escrever sobre o tema a fez se lembrar do documentário Absorvendo o Tabu, disponível na Netflix e que ganhou o Oscar de Melhor Documentário em Curta-Metragem. Vale muito a pena assistir.