Toda alteração ao meio ambiente, pode aumentar as doenças e a redução da qualidade de vida. Em alguns locais, a relação entre as doenças e a falta de saneamento (água, esgoto, drenagem e resíduos) é clara. O Saneamento baseia-se no cuidado com o espaço onde vivemos, prevenindo todos os fatores que podem prejudicar o nosso bem-estar físico, mental ou social. As doenças relacionadas a água são a segunda maior causa de mortalidade infantil no mundo, atrás, apenas, das infecções respiratórias.
Cerca de sete crianças morrem a cada dia no Brasil vítimas de diarreia, cenário que pode ser alterado com investimentos em saneamento básico, principalmente no fornecimento de água de qualidade. Especialistas em saúde pública estimam que ao investir R$ 1,00 em saneamento, são economizados R$ 4,00 no tratamento de doenças.
As doenças relacionadas a falta de coleta de esgoto ocorrem devido o contato da população com água, vetores de doenças e alimentos contaminados pelos dejetos humanos. Os impactos relacionados a falta de saneamento básico, também conta com a parcela de culpa da má gestão dos resíduos sólidos; diversas doenças são transmitidas devido à ausência de coleta e de disposição corretas do lixo, que atraem ratos, baratas, moscas, mosquitos, pulgas, carrapatos, escorpiões, lacraias, que encontram, no lixo, alimento, abrigo e condições adequadas para a sua proliferação.
A falta dos serviços de saneamento em regiões adensadas, nos obriga a ter maior atenção nas áreas onde a habitação é inadequada, pois possui relação direta com o ambiente degradado, ou seja, tais impactos atingem as populações mais carentes diretamente, mas seus efeitos são sentidos por toda população.
Os impactos ambientais não respeitam os limites cartográficos dos bairros, cidades e regiões.
O impacto da falta de saneamento varia de acordo com as regiões do Brasil e os grupos sociais, sendo necessário apontar caminhos para a formulação de políticas públicas que visem o desenvolvimento de programas perenes que nos permitam controlar doenças endêmicas, doenças transmissíveis relacionadas ao saneamento inadequado, a poluição atmosférica, a habitação insalubre, os desastres urbanos e o clima.
São doenças relacionadas à falta do saneamento:
1- doenças de transmissão através das fezes: diarreias, cólera, salmonelose, infecções intestinais bacterianas, doenças intestinais por protozoários, doenças intestinais por vírus, febre tifoide, hepatite A, teníases, cisticercose, etc.;
2- doenças transmitidas por vetores: dengue, chikungunya, zica, febre amarela, leishmanioses, malária, doença de chagas, esquistossomose, leptospirose, etc.;
3- doenças relacionadas com os cuidados higiênicos: conjuntivites, doenças da pele, micoses, etc.
As medidas para prevenir tais fatores que prejudicam o nosso bem-estar, além de serem latentes e prementes, são velhas conhecidas dos engenheiros e técnicos, ações muitas vezes simples, porém sem a devida atenção.
Ações para a prevenção das doenças relacionadas à água potável:
♦ Implantar sistema de abastecimento e tratamento da água, com fornecimento em quantidade e qualidade para consumo humano, uso doméstico e coletivo;
♦ Proteger de contaminação os mananciais e fontes de água;
♦ Abastecimento de água preferencialmente com encanamento no domicílio;
♦ Prover melhorias sanitárias domiciliares e coletivas;
♦ Reservatório de água adequado com limpeza sistemática;
♦ Eliminar o aparecimento de criadouros de vetores com inspeção sistemática e medidas de controle (drenagem, aterro e outros);
♦ Dar destinação final adequada aos resíduos sólidos;
♦ Controlar vetores e hospedeiros intermediários.
Ações para a prevenção das doenças relacionadas ao esgotamento sanitário:
♦ Abastecimento de água (implantação e/ou ampliação de sistema);
♦ Imunizações;
♦ Qualidade da água/desinfecção;
♦ Instalações sanitárias (implantação e manutenção);
♦ Esgotamento sanitário (implantação e/ou ampliação de sistema);
♦ Higienização dos alimentos.
Ações para a prevenção das doenças relacionadas ao adequado processamento do lixo:
♦ Gestão da coleta;
♦ Operação do transbordo;
♦ Destinação correta dos resíduos secos e orgânicos;
♦ Controle de infestação de insetos.
Sempre ouvimos que o saneamento básico não se desenvolve, pois é obra enterrada e assim não é politicamente de interesse. Entretanto, a falta de planejamento e de investimento neste campo trouxeram os problemas para a superfície.
Precisamos cobrar ações concretas no país e que sejam aplicadas imediatamente para que deixemos de lado os impactos negativos e passemos a promover o cuidado ao ser humano, ao meio ambiente, e consequentemente, à qualidade de vida e saúde pública.
Carmino Antonio De Souza é professor titular da Unicamp. Foi secretário de saúde do estado de São Paulo na década de 1990 (1993-1994) e da cidade de Campinas entre 2013 e 2020
Deputado Fausto Guilherme Longo é parlamentar italiano eleito como representante da América Latina no Congresso da República Italiana.