O ano bem começou, minha querida leitora, meu caro leitor. Já passamos da primeira quinzena do mês de Janeiro. Lhe pergunto, e agora? Essa pergunta me fez lembrar o poema intitulado “E agora José” de 1942 escrito por Carlos Drummond de Andrade: “E agora, José? A festa acabou; a luz apagou, o povo sumiu, a noite esfriou, e agora, José? Está sem mulher, está sem discurso, está sem carinho, a noite esfriou; o dia não veio; o bonde não veio; o riso não veio, não veio à utopia e tudo acabou e tudo fugiu e tudo mofou, e agora, José? Sozinho no escuro. sem parede para se encostar, sem cavalo preto que fuja a galope, você marcha, José! José, para onde?”
Troque o nome José pelo seu, e se faça tais reflexões a partir dessa virada de ano, a partir de tudo o que você mesmo se prometeu, como você avalia essa primeira quinzena do ano? Já desistiu de tudo o que se propôs? Já vestiu a capa de vítima da sociedade, da cultura? Já perdeu o encanto das festividades e dos vários “amigos” da farra?! E agora? Início de ano, tendo que lidar paradoxalmente com o novo (por ser um novo ano) e com o velho, o de sempre, já que os relacionamentos são os mesmos, o emprego é o mesmo, as críticas são as mesmas, as dores as mesmas, as angústias… E por falar em angústia, quero aqui trazer uma forma tradicional no Brasil de entretenimento que já perdura por 23 anos; o Reality Show. O mais famoso que conhecemos, que não preciso aqui citar nome, você deve muito bem saber de qual me refiro.
Uma vez que não se sabe para onde ir, uma vez que se está sem um Norte, sem uma direção, atolado na mesma rotina que nos consome, é natural que se busque alternativas de entretenimento para fugirmos da angústia e do desânimo da vida. Uns buscam em atividades físicas, outros em jogos, outros em séries e outros entram de cabeça nesse reality show, inclusive assinam a TV paga para acompanharem 24 horas por dia para ver cada detalhe. Como bem disse, é uma “fuga”, uma tentativa de fazer o tempo passar e esperar que o final de semana chegue logo…
Não condeno ninguém que a isso recorra, em tal entretenimento há sim muita manipulação, há sim muita influência de como se deve agir, como se deve comportar, embasado no politicamente correto, como ser aceito e idolatrado, como ser cancelado, se visto com bons olhos acaba sendo um bom objeto de estudo.
Nesse reality show há de tudo, há vários perfis comportamentais, que se fazem representar uma parcela da população, que com isso provoca o engajamento popular de quem assiste ao programa, há um misto de emoções, de torcida, de amor, de ódio, vontade de estar lá, seja pra jogar o jogo, seja pra fazer algo que você considera que esteja faltando, pra dizer algo que precisa ser dito…
O “show da realidade”, o show da vida, que no fundo quem o produz está mais preocupado com engajamento, audiência, lucro, marketing e tanto faz quem ganhe. Aliás, lhe pergunto o que você faria com o bendito prêmio? Saberia administrá-lo? Mudaria de cidade, de país? Ajudaria seus familiares? Acha que apareceriam os falsos amigos? Há muitos ganhadores, na verdade, a maioria que já perderam todo o prêmio, gastando-o com empreendimentos que faliram.
Sintetizo nossa reflexão de hoje amarrando as duas temáticas trabalhadas nessa nossa reflexão: virada de ano e a busca por algo (como o reality show) para preencher o vazio existencial tanto exposto por nomes da filosofia existencialista, como Jean-Paul Sartre, pensador francês. Você é uma dessas pessoas que precisa ser refém de algum entretenimento?
É uma dessas pessoas que torce pelo final de semana chegar, os feriados, as férias, a aposentadoria ou consegue viver o hoje, mesmo com suas limitações, buscando apreciar os detalhes e a oportunidade de aprender com os desafios?
E agora José, e agora você, para onde ir? Fica o convite a reflexão. Um grande abraço.
Thiago Pontes é filósofo e neurolinguista (PNL) – Instagram @institutopontes_oficial