Guerra e paz. Tanto já foi escrito e nunca nada se resolveu. E a Rússia quer a Ucrânia de volta. Vai querer a sua história ou o petróleo ucraniano? E tanto faz como tanto fez e o santo é de barro e o andor tem de ser levado com muito carinho. E o nome de tamanho cuidado é diplomacia. E o maluco Bolsonaro foi meter o seu bedelho na encrenca.
E a vergonha do alheio me assombra mais uma vez.
E o tempo é o senhor da vergonha. E assim é o senhor presidente da república e seus apaniguados. E o canto da guerra russa nos confins ucranianos nos envergonha tanto e quanto. E Bolsonaro foi lá conversar com o presidente russo para tratar do que exatamente? Não sei e me envergonho só de saber que ele gastou um bom dinheiro do erário para não fazer absolutamente nada.
Estou envergonhado há muito tempo. E mais ainda com o Lula trazendo o Alckmin debaixo do sovaco. Vai feder lá na frente. Assim como já fedeu anos atrás.
Apenas me faço eleitor idiota e assim idiota vou levando as minhas sete décadas de vida. Fui bom nisso. Só errei quando juntei minha alma à tua, o Sol não pode viver perto da Lua. E Lula não ilumina nada, lanterna moral apagada, e dele não virá alguma coisa que preste. E a situação é se ficar o bicho come e se ficar o bicho pega. E assim pretendo ficar e enfrentar o cachorro cara a cara, seja lá quem for. Com ou sem focinheira.
Já bati de frente com muito pau mandado. E eu não tinha nem lá meus vinte anos. Admiro-me ter chegado aos setenta e cinco anos e sem pensar na banguela, na surdez de um ouvido e em uma dor que me visita, às vezes, em duas costelas quebradas. Cicatrizes cívicas são para sempre, penso eu. E vou levando o que me tenho de vida com a bengala da minha memória.
Tudo certo ou tudo errado, fiz o que tinha de fazer. Chato é lembrar dos amigos perdidos naqueles tempos de comunhão, da cadeia, da paulada, da tirania, da doidice de generais – meu Deus, digo agora, eles frequentavam catedrais, oravam, e, depois, mandavam torturar e matar. Todos os que mandaram matar estão mortos. E eu sigo vivo.
E não me importo em olhar para trás e sentir algum rancor. E apenas sigo a minha sina de andador de calçadas, de praças, de ruas, de pequenos gestos de boa gentileza, um bom dia aqui, outro acolá, um ajudar de sacola, um apenas seguir de sempre procurar um lugar para descansar pernas cansadas e voltar para casa.
A melhor luta é ter conhecimento do lugar e voltar. Hoje tenho lugar e propósito. E escrevo para lembrar que os meus caminhos são pedras fincadas sob meus pés. Eu e as pedras. Eu e os meus caminhos. E os meus neurônios estão em mim, ainda. E assim devo honrar orações a esse moço Bolsonaro, um desejo qualquer cristão, uma piedade pela sua pouca cristandade. E nem é pela rima pobre, pois, nem o Supremo Deus, bem sei, dela não dará risada. Então é isso.
Zeza Amaral é jornalista, escritor e músico