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E depois do vestibular? – por Luis Felipe Valle

Entre livros, sonhos e ilusões, a pior barreira não são as provas

Luis Felipe Valle Por Luis Felipe Valle
11 de novembro de 2023
em Colunistas
Tempo de leitura: 6 mins
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Charles Chaplin (esquerda), em cena do filme Tempos Modernos (1936) -Foto: Divulgação

Charles Chaplin (esquerda), em cena do filme Tempos Modernos (1936) -Foto: Divulgação

Atravessando a maratona de vestibulares que acompanha o encerramento do ano letivo, a juventude brasileira vive momentos de ansiedade e pressão na escolha entre os muitos caminhos possíveis para o futuro. Olhar para o cenário econômico pós-pandemia, com condições de trabalho cada vez mais precarizadas e instabilidades decorrentes de tensões internacionais, como a guerra da Ucrânia e o massacre na Palestina, torna o desafio de projetar possibilidades ainda mais desafiador.

Principalmente para aqueles que precisam ajudar na composição da renda familiar cada vez mais cedo, é frequente a dolorosa decisão de deixar de lado seus sonhos e expectativas de realização pessoal para tornar-se o que o mercado exige que sejam: mão-de-obra. Disponível, barata, eficaz e obediente, mais precisamente.

Segundo dados da OCDE, IBGE e Ministério do Trabalho e Emprego (2023), dos 207 milhões de habitantes do Brasil, 17% são pessoas jovens, que têm entre 14 e 24 anos. Desse grupo, 36% não estudam e nem trabalham de forma remunerada.

Embora a situação contemple herdeiros acomodados, que julgam estudos e trabalho dispensáveis, a maior parte dessa população é formada por pessoas que vivem em situação de vulnerabilidade socioeconômica e afeta principalmente as meninas e mulheres que, desde cedo, são forçadas a abdicar de seus projetos de vida para assumir a função não remunerada, invisibilizadas e desvalorizada de cuidadoras – da casa, dos pais, dos irmãos, do marido.

A análise estatística da situação escancara o machismo e o racismo estruturais: 60% da população jovem que não estuda e não tem trabalho remunerado são mulheres, e 68% dessa juventude é formada por pessoas de pele preta e parda, que também contempla a maioria dos jovens que têm empregos informais, como entregadores de aplicativo. Além disso, as consequências da perversa Reforma Trabalhista de 2017 e da algoritmização da vida, abrangendo as relações de trabalho, rebaixam e camuflam diferentes formas de exploração econômica, vendidas para a população como momentos de lazer e entretenimento, interação social e empreendedorismo.

De jogos de azar, sites de apostas e esquemas fraudulentos de investimentos à hiperexposição da vida íntima e venda de conteúdos eróticos, estratégias cada vez mais sofisticadas e nefastas aprisionam os jovens entre realidades e virtualidades, usando telas e Inteligência artificial para coletar dados, vender anúncios e condicionar a opinião pública às vontades que emanam dos que lucram com a espetacularização e mercantilização da vida.

Se, uma ou duas décadas atrás, o sonho da maioria dos estudantes era ingressar numa universidade pública para cursar medicina, direito, engenharia, ou conseguir uma bolsa para estudar no exterior, a ideia que se alastra hoje é a de poder copiar o estilo de vida de influencers virais que, geralmente, além de desprezar a importância dos estudos, vendem ilusões baseadas numa concepção rasa e superficial da própria existência.

Embora haja exceções, os conteúdos mais consumidos e acessados com frequência se resumem a sexualização do corpo, ostentação do consumo, reafirmação de discursos de ódio e intolerância, e uma ladainha interminável de reclamações e lamentos diante da competição por engajamento, aprovação e validação de uma legião de jovens enredados pela farsa motivacional que leva a um beco sem saída de inação, fragilidade emocional, narcisismo e frustrações.

O encantamento por desbravar o mundo, conhecer pessoas e lugares diferentes, aceitar o desafio de desenvolver novas habilidades para enfrentar problemas com competência e afinco, de forma colaborativa e empática, tem sido substituído pela lógica imediatista e individualista das microrrecompensas fabricadas pela neuroengenharia digital. Horas e horas com os olhos grudados nas telas, recebendo estímulos sensoriais que estimulam a produção descontrolada de dopamina, viciando usuários e usuárias na impressão de prazer e satisfação que serve como fuga da realidade complexa, contraditória e incontrolável do mundo externo ao smartphone.

O estímulo dopaminérgico excessivo, além de viciante, desregula os parâmetros de autocontrole e percepção de situações prazerosas que decorrem de outras interações, como um abraço, um beijo, ou a sensação de dever cumprido depois de estudar ou praticar exercícios físicos. Tudo parece difícil, cansativo, sem graça e entediante. Há interferência, também, na produção de outros hormônios, como cortisol, serotonina e noradrenalina, trazendo perturbações ao sono, aumentando níveis de estresse e redução na capacidade de manter o foco ou a atenção em atividades que exigem mais concentração, sem recompensas imediatas.

 

Os jovens têm ficado horas e horas com os olhos grudados nas telas, recebendo estímulos sensoriais que estimulam a produção descontrolada de dopamina, viciando usuários e usuárias na impressão de prazer e satisfação que serve como fuga da realidade complexa. Foto: Freepik

Nessas condições, como planejar dois, três anos de preparação para os vestibulares e, depois, mais quatro ou cinco anos de estudos numa universidade exigente, tendo que conciliar estudos e trabalho, para, aí sim, poder exercer a profissão escolhida buscando realização e satisfação num cenário cada vez mais competitivo e desumanizado? A psicopolítica se manifesta no atual estágio do neoliberalismo pelo esvaziamento das relações afetivas e a completa mercantilização do tempo, objetificando e reduzindo as pessoas a métricas de engajamento, produtividade e desempenho.

Ao mesmo tempo em que a juventude está deixando de desenvolver qualidades e habilidades fundamentais, como disciplina, perseverança, resistência e consistência, oportunistas que lucram com o medo, a insegurança, a desconfiança e a fragilidade socioemocional estão afirmando, cada vez mais, seu domínio e influência sobre adolescentes e jovens com defasagens cognitivas, comportamentais, psicológicas e educacionais.

Casos frequentes de depressão, ansiedade, estafa, exaustão, transtornos compulsivos e um mal-estar generalizado com relação ao futuro e à própria vida são sintomas desse engenhoso sistema de controle alienante, incapacitante e muito eficaz, além de lucrativo, para quem o opera.

Movidos por necessidades financeiras, pelo desejo de aceitação social e promessas de felicidade instantânea, não há grandes perspectivas de melhora quando é preciso abandonar sonhos para se encaixar em espaços de exploração econômica e padronização sociocultural.

Os vestibulares, embora formatado com critérios bastante questionáveis de seleção e exclusão, ainda funcionam como uma espécie de bússola de parametrização das matrizes curriculares da Educação Básica. Diante da descabida reação da bancada ruralista ao acusar o ENEM 2023 de doutrinação ideológica, fica claro que a desvalorização da criticidade e da criatividade, censurando discussões e debates que exponham problemas a serem resolvidos e soluções a serem criadas, se revela vital para a manutenção da lógica de conformismo e rejeição a qualquer subversão do conservadorismo, mesmo diante de crises terminais como as que vivemos.

Como almejar a materialização das transformações sociais, política e culturais de que esses tempos tanto carecem quando a ordem do dia é perder a vida para ganhar a vida trabalhando em troca de recompensas intangíveis, voláteis, e remunerações injustas, insuficientes ou até mesmo inexistentes?

Pouco adianta ter aprovação no vestibular se o Ensino Superior funcionar como uma extensão da adolescência para quem deseja manter-se na mesma situação, confortável e acomodado, encarando a vida como uma lista de tarefas a cumprir para alcançar a próxima fase ou abrir o baú do tesouro . Por outro lado, a reprovação nos exames não significa o fracasso fatal e irreversível, sobretudo se a experiência servir como catalizador de mudanças de comportamentos e ampliação de perspectivas sobre escolhas e caminhos possíveis.

A quem tem o privilégio de decidir que caminho trilhar nessa nova empreitada, que se inicia (ou que se reinicia) com os vestibulares, a provocação de buscar algo que vá muito além de dinheiro ou status é mais do que necessária!

Para isso, é preciso, antes, reconhecer-se sujeito e olhar com criticidade para as complexas estruturas que condicionam nossas decisões. Esse é o papel da educação libertadora, que não está nas dancinhas do tik-tok, nos joguinhos de aposta e nem nos discursos motivacionais de adoração ao dinheiro.

No passo em que estamos, como já previa Charles Chaplin, em Tempos Modernos (1936), a juventude, frequentemente associada à esperança e à inovação, poderá seguir reduzida a mão-de-obra autômata, infeliz e incapaz de expressar e exercer seu papel de protagonismo na construção de realidades que possam não só, como diz Ailton Krenak, adiar o fim do mundo, mas devolver sentidos mais humanos e significados mais profundos à vida.

 

Luis Felipe Valle é professor universitário, geógrafo e mestre em Linguagens, Mídia e Arte

Tags: colunistasEducaçãoestudantesformaçãoHora CampinasjovensLuis Felipe ValleuniversidadeVersões e subversõesvestibular
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