Os impactos devastadores e desafiadores para a mídia global, com as rápidas transformações digitais, impuseram a quem pensa e faz jornalismo uma série de dilemas e dúvidas. Poucas certezas puderam acalmar a aflição de quem vive deste ofício. Vilipendiado pela desinformação, o jornalismo enfrentou – e segue encarando – o difícil modelo sustentável de negócio.
Produzir jornalismo de qualidade exige investimento, tempo, curadoria, experiência, conhecimento, ética e muito suor.
Buscar o equilíbio financeiro é vital para a sobrevivência. Lançar-se ao mar da internet, em busca de cliques e audiência a qualquer preço, pode, num primeiro momento, seduzir como o canto da sereia. Essa melodia entorpece e incentiva a que publishers e produtores de conteúdo façam o combo do desastre anunciado: posts sem amparo do rigor, pressa por ganhar do concorrente e um sensacionalismo digital que esvai-se com rápida análise de maior inteligência.
Assim como o mercado, de forma geral, seleciona o joio do trigo, no jornalismo os leitores e internautas sabem diferenciar os veículos que produzem informação de qualidade. Não é fácil sobreviver a este ambiente predatório, mas o único caminho para se diferenciar é, realmente, manter a política editorial assentada em valores inegociáveis, como verdade, respeito, tolerância, diversidade, zelo e empatia.
Não se faz jornalismo à base do compadrio e de relações pouco republicanas; faz-se jornalismo com a soma de todos os afetos e com a necessária vocação para produzir conteúdo que impacte a vida das pessoas de forma positiva.
É neste sentido que a cerimônia de premiação do Prêmio Feac de Jornalismo, na última sexta-feira (1), em Campinas, reforçou o único caminho possível para a profissão. O coquetel foi uma injeção de energia e entusiasmo. O jornalista é o profissional que narra as histórias. Ele deve manter-se discreto e não ser o protagonista da notícia. No Prêmio Feac, porém, o protagonismo é o jornalista que desbravou a boa história, que soube transformar a entrevista num conteúdo atraente, na mídia que fosse.
Essa potência de transformar a história em impacto social estava evidente na cerimônia, devidamente retratada pelos gestores de dois atores vitais para o momento do jornalismo regional: a Fundação Feac e a Fundação Educar.
Ambas carregam consigo a visão de que valorizar o jornalismo profissional é mantê-lo vivo contra as turbulências contemporâneas, sejam os percalços naturais do negócio, sejam os ataques antidemocráticos, sejam as intempéries do mundo digital, notadamente aquelas que desvirtuam a verdade e lançam a desinformação como principal ativo de leitura.
É por isso que quem faz jornalismo de qualidade mantém uma certeza inabalável: combater o bom combate é o único caminho para oxigenar o mercado e oferecer à sociedade o melhor da profissão. Sem rodeios, sem vigarices, sem meias palavras.
Marcelo Pereira, editor-chefe do Hora Campinas, é jornalista formado pela PUC-Campinas. Tem especialização em Jornalismo de Qualidade, em Jornalismo Latino-americano e em Fact-Checking