Os últimos dias foram de muita polêmica no Brasil sobre como o país vai continuar se posicionando frente a uma das mais graves crises já enfrentadas pela humanidade, a emergência climática. Enquanto o país chegou à COP-28 em Dubai com números promissores sobre redução do desmatamento na Amazônia, maior fonte nacional de emissão de gases de efeito-estufa, o noticiário foi “poluído” pelo fato de o governo Lula ter aceito integrar a OPEP +. Ou seja, será observador na organização que reúne os maiores produtores e exportadores de petróleo, justamente uma das principais causas do agravamento das mudanças climáticas.
Neste cenário, permanece a dúvida sobre se o Brasil de fato vai tentar ser líder global da transição energética ou se continuará investindo em combustíveis fósseis como o petróleo, aliás como o mundo em geral. Entretanto, nesta terça-feira, 5 de dezembro, novos dados sobre o estado da Educação no país mostram uma questão provavelmente ainda mais grave: a nova geração de brasileiros, que vai lidar diretamente com o aprofundamento das mudanças climáticas, está de fato preparada para a magnitude desse tema, além de outros de enorme gravidade, como a crise da biodiversidade e a influência cada vez maior da Inteligência Artificial na vida humana etc etc?
Essa dúvida é retomada diante da divulgação dos resultados da edição de 2022 do Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (PISA, na sigla em inglês), pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). O PISA é uma prova internacional, promovida a cada três anos pela OCDE, com estudantes na faixa de 15 anos, com foco a cada edição em uma área do conhecimento: Leitura, Matemática ou Ciências. A edição de 2022 teve como foco Matemática, embora também fossem feitas avaliações sobre as outras áreas. Outro foco em 2022 foi o Pensamento Criativo, conforme a tendência do PISA em também avaliar outras competências consideradas fundamentais para o século 21.
O PISA sempre gerou controvérsia. Ele recebe críticas porque acaba sendo uma comparação entre países que na prática não deveriam ser comparados, isto é, entre países em desenvolvimento como o Brasil e os países em estágio mais avançado de desenvolvimento, como os da Europa ocidental.
No Brasil, como se sabe, a educação pública enfrenta enormes dificuldades, o subfinanciamento como uma das maiores delas. Não daria para comparar com os citados europeus ou alguns países asiáticos, onde o investimento em educação (voltada para o processo produtivo) tem sido intenso.
Assim, não dá para falar que os resultados do PISA de fato espelham o panorama da educação de um país. Eles devem ser lidos com foco no que avaliam, as competências dos estudantes em algumas disciplinas/habilidades. De qualquer modo, o exame que é rigoroso mostra pistas importantes sobre o que ocorre com a educação nos países avaliados, inclusive o Brasil.
De modo geral, o PISA 2022 mostrou uma queda generalizada na performance educacional em quase todos os países, como um claro reflexo da pandemia de Covid-19.
No caso do Brasil, os números mostraram estabilidade em relação às últimas edições do exame. Números que colocam o Brasil em posição distante da performance da média da OCDE, com as ressalvas colocadas acima.
Em Matemática, o Brasil recebeu a nota 379 em 2022, em comparação com a média de 480 na OCDE. Em Leitura, a média brasileira foi de 410, sendo de 482 na média da OCDE. E em Ciências, a nota do Brasil foi de 403, contra a média na OCDE de 490.
Os resultados mostraram ainda que, em Matemática, 73,7% dos estudantes brasileiros estão na faixa 1 de desempenho, que é a faixa de menor desempenho pelos critérios do PISA. A média na OCDE de estudantes nessa faixa 1, em Matemática, é de 31,1%. Na prática, isto quer dizer que mais de 70% dos estudantes brasileiros não conseguem resolver problemas simples de Matemática na faixa dos 15 anos, aquela que corresponde aos alunos no primeiro ano do Ensino Médio.
O PISA 2022 revelou que somente 1% dos estudantes brasileiros estão nas faixas 5 e 6 em Matemática, aquelas de maior proficiência pelos critérios do exame da OCDE.
Na média dos países da OCDE, 9% dos alunos estão nas faixas 5 e 6 em Matemática. Em Leitura, 2% dos estudantes brasileiros estão nas faixas 5 e 6, contra a média de 7% na OCDE. Em Ciências, 1,2% dos estudantes brasileiros estão nas faixas 5 e 6, em relação aos 7,5% em média na OCDE.
Alguns dados do PISA 2022 fornecem informações relevantes sobre fatores que incidem sobre a educação no Brasil. Por exemplo, no quesito segurança, 19% dos estudantes brasileiros não se sentem seguros no trajeto de casa para a escola, contra a média de 8% na OCDE. Além disso, 10% dos brasileiros não se sentem seguros na sala de aula, contra 7% na média da OCDE. É evidente ser fundamental uma política de segurança, de corte humanista, relacionada às escolas brasileiras, como contribuição à melhoria da Educação.
Outro dado importante é que cerca de 22% das meninas e 26% dos estudantes brasileiros declararam ser vítimas de bullying algumas vezes por mês. Na OCDE, a média é de 20% para as meninas e 21% para os meninos. Também é evidente que a questão do bullying precisa ser melhor compreendida no Brasil, pela definição de ações concretas de enfrentamento, também como parte da busca da qualificação do ensino e aprendizado.
Mais uma informação que chama a atenção do PISA 2022 é que 80% dos estudantes brasileiros participantes do exame admitiram se distrair com o uso de celulares em algumas aulas de matemática, contra a média de 65% (igualmente alta) nos países da OCDE.
Claro está que o uso de celulares/smartphones representa um importante desafio para as salas de aula no Brasil e no mundo em geral. Respostas a esse e outros dilemas, de incidência direta no processo de ensino e aprendizado, ainda estão em aberto, com certeza.
Em suma, o PISA 2022 confirmou o que já se sabia. O Brasil ainda tem muito o que caminhar na qualidade da Educação. Um retrato mais fiel será propiciado na edição de 2025, quando o universo de alunos brasileiros participantes deverá subir dos atuais 11 mil para quase 40 mil.
Em 2024 termina o prazo de dez anos do atual Plano Nacional de Educação. Praticamente todas as 20 metas estabelecidas em 2014 não serão cumpridas em sua integridade. O PNE de 2024-2034 terá que ser muito mais ousado, muito mais contundente, para que o Brasil de fato caminhe para um estágio educacional mais condizente com os desafios do século 21. E que desafios. O PISA 2022 foi só um indicativo de que é preciso fazer muito mais para que as atuais e futuras gerações estejam melhor preparadas para enfrentar os graves dilemas atuais e aqueles que ainda estão por vir, a emergência climática entre eles.
José Pedro Martins é jornalista, escritor e consultor de comunicação. Com premiações nacionais e internacionais, é um dos profissionais especializados em meio ambiente mais prestigiados do País. E-mail: [email protected]