A frase de um cartaz afixado na parede de um centro espírita chamou a atenção do casal Silvia e Ranieri Dias: “Que tal ser família acolhedora para uma criança?” Este era um convite do Sapeca (Serviço de Acolhimento e Proteção Especial a Criança e Adolescentes), o ano era 1998 e eles já eram pais de Arthur, então com 1 ano. Não demorou muito para que o casal fosse atrás de informações sobre o projeto e logo eles se tornaram uma das primeiras famílias acolhedoras de Campinas. Até 2016, passaram pela casa do casal oito crianças, em diferentes momentos e idades.
No dicionário, acolher tem um bonito significado: oferecer ou obter refúgio, proteção ou conforto físico, abrigar, amparar. Para Silvia e Ranieri isso vai muito além, pois a ação de acolher trouxe a oportunidade de ‘servir amando’ ou ‘amar servindo’ como gostam de destacar.
O primogênito Arthur facilitou muito como anfitrião de cada criança que chegava, Gustavo foi o primeiro da turma, e, na época os dois tinham cerca de 2 anos. “Eles se enturmaram rapidamente. Eu achei tão bonito ver que já no primeiro dia de aula um pegou na mão do outro e entraram para a escola, sem sofrimento, sem choro. Nós sempre fomos muito sinceros com cada criança que passou por nossa casa. Falávamos que éramos tios e não pais. Contávamos que eles iam passar um período conosco e quando fosse o momento voltariam para os seus pais ou familiares. Alguns ficaram seis meses, outros dois, três, até quatro anos. Isso variava bastante”, lembra.
Quando perguntei a Ranieri como fica a cabeça e o coração quando as crianças vão embora, ele me respondeu com tranquilidade que, por estarem preparados, se sentem com o dever cumprido.
“Nos preparamos para que isso fosse algo natural na nossa vida, sem ser mais um sofrimento para a criança e nem para nós. Sabíamos que o processo era chegar, permanecer e retornar. O acolhimento familiar nas gerações passadas sempre foi algo natural, agora que se tornou incomum. Tanto que os meninos que passaram pela nossa casa, e hoje têm 23, 24 anos, quando podem ou querem nos visitam, passam o final de semana conosco. Criamos laços que vão muito além de morar juntos. São laços de amor que sempre vão nos unir”, conta.
Surpresas que a vida reserva
Hoje a família de Sílvia e Ranieri conta com cinco filhos: Arthur, o primogênito, Daniel, Jadson, Vitor e André que chegaram por meio da adoção. Cada um desses meninos, por motivos variados e tudo dentro da lei, acabou se tornando filho do casal.
Para a alegria dessa família, que sempre gostou de casa cheia, recentemente Silvia e Ranieri se tornaram avós de Alexia, de cinco meses, filha de Daniel.
O casal não faz mais parte do programa Família Acolhedora desde 2016, mas sabe a importância desse projeto na vida de cada uma das crianças acolhidas, por eles e por tantas outras famílias.
Kátia Camargo é mãe do Marcos Thiago, que chegou aos cinco anos na vida dela e do marido Luis por meio da adoção. Mas, ela acredita, que somos todos adotados, por nossa família, nossos amigos e nossos amores.