O tema de nossa reflexão de hoje é sobre aqueles “gurus” da autoajuda que prometem mundos e fundos para fazer com que as pessoas tenham uma vida de sucesso. Tudo o que vou expor nas linhas a seguir é com conhecimento de causa; porque já fui iludido por esses “gurus”.
Bom, não é muito difícil de ‘mapear’ como funciona esse sistema de promessas muito presente na internet e em livros de autoajuda. Geralmente pegam e enumeram em casa, nos bastidores, a demanda em que querem atuar, o famoso “nicho”, o público-alvo.
Pensando de um modo geral, esses “gurus” colocam no papel os reais problemas que as pessoas enfrentam; as dificuldades que eu e você passamos em nosso cotidiano, tais como: ansiedade, depressão (cogitando-se até mesmo o suicídio), pressão no trabalho, problemas no casamento, na educação com os filhos, vícios em geral e por aí vai…
São fatores reais que estamos vivenciando em pleno século XXI e com os quais nos identificamos. Isso quebra seu senso crítico gerando assim confiança entre você e o “guru”. A partir dessa demanda, elaboram um conteúdo prometendo mudanças “da noite para o dia”, mudanças extremas em um final de semana.
Reconciliação no casamento, promoção no trabalho, controle da ansiedade, extermínio da depressão, fim dos vícios, ficar rico, tudo isso num final de semana. Dá para acreditar? Pois é, eu acreditei!
Fui vítima, pois os argumentos são bons, são os chamados gatilhos mentais, usam de autoridade, citando exemplos de pessoas renomadas, usam de escassez dizendo que são pouquíssimas vagas: “Ou é agora ou nunca!”.
Usam de prova social, ou seja, depoimentos de pessoas (na filosofia chamamos isso de ‘legitimidade tradicional’). Usam de músicas que alteram seu estado emocional elevando-o, como ‘músicas de balada’, e na hora de tocarem em suas dores emocionais, naquelas feridas que só você sabe quais são; eles apagam as luzes, colocam uma música melancólica e fazem você se emocionar, são bons na persuasão, não duvide disso!
Até tentam lhe definir, definir sua identidade, seu perfil comportamental, dizendo que você é X, Y ou Z. Hoje com meu olhar de filósofo, área na qual sou formado, contesto veementemente todo esse universo da autoajuda, faço menção aqui ao filósofo francês Michel Foucault que disse: “Não me pergunte quem sou, nem me diga para permanecer o mesmo!”, fazendo referência a nossa capacidade de mudança continua, ideia defendida por Heráclito, pensador grego.
Lhe pergunto: como podem generalizar problemas que são singulares? Como podem prometer lhe entregar algo que sequer sabem o que você realmente precisa? As “5 lições para ser um líder de sucesso” não podem funcionar para todos os líderes, pois cada qual tem sua demanda, seus problemas, seus colaboradores.
As “10 estratégias para restaurar seu casamento” não podem funcionar para todos os casamentos, pois cada qual tem lá seus problemas, que originam as brigas e conflitos. E os livros e cursos para ficar rico, milionário? Nossa; esses são os piores! Os únicos que ficam com o bolso cheio são os que escrevem tais livros e organizam tais eventos: os “gurus”.
É no momento da sua fragilidade emocional que eles se aproveitam e vendem de fato o seu produto ou serviço, dizendo que é oportunidade única; de X por apenas Y reais, imperdível. Pronto! Está pago! Agora é esperar acontecer.
E agora que já foi feito o curso, o evento? E agora que li, participei, estudei, mas nada mudou? Ou se mudou, foi apenas meu ânimo e motivação que durou lá uma ou duas semanas no máximo, o que fazer? Bom, é bem provável que você jamais terá contato com esse “guru” novamente para poder reclamar sobre a falta de resultados (ou você tem o whats particular dele?).
Mas sem dúvidas se isso ocorresse, ele olharia nos seus olhos e lhe diria: “Se não funcionou é porque VOCÊ não se dedicou; VOCÊ quem não aprendeu; quem não soube colocar em prática o meu conteúdo, porque comigo funcionou, afinal eu sou seu “guru”. A responsabilidade pela falta de resultados é única e exclusivamente SUA!”, argumento 100% consequencialista dos filósofos John Stuart Mill e Jeremy Bentham.
Portanto, minha querida leitora, meu caro leitor, cuidado com charlatões que se aproveitam de sua vulnerabilidade. Penso humildemente que não existem fórmulas mágicas para mudar uma vida em um final de semana, e vou além: não há fórmulas genéricas que funcionam para todos, afinal sua vida é sua e de mais ninguém. Um abraço.
Thiago Pontes é filósofo e neurolinguista (PNL)