Denúncias de assédio e violência sexual contra o diretor espiritual da Associação Espiritual de Umbanda Pai Tajubim (AEUPT), em Campinas, foram apresentadas por ao menos quatro vítimas. Domingos Forchezatto foi afastado de suas funções no último dia 29, segundo informou a AEUPT, em nota. A Associação dos Religiosos de Matriz Africana de Campinas e Região (Armac) confirmou ao Hora Campinas, nesta quinta-feira (14), que denúncias contra outros líderes espirituais de diferentes instituições de Campinas foram apresentadas na esteira do caso envolvendo Domingos Forchezatto.
O Hora Campinas procurou o diretor espiritual para que ele apresente sua versão sobre as denúncias, mas não obteve retorno até o momento. Todas as ligações para o celular de Forchezatto estão caindo direto na caixa postal.
O nome de Domingos consta do comunicado oficial da AEUPT (veja abaixo).
O caso se desenrola há cerca de 15 dias, a partir das denúncias apresentadas por duas advogadas constituídas como representantes das quatro vítimas. As informações sobre as denúncias vieram a público nesta quinta-feira (14), por meio da cobrança de coletivos femininos de Campinas sobre medidas investigativas e posicionamentos das instituições envolvidas no caso, além de garantias da preservação da identidade e segurança das denunciantes. As denúncias estão sob investigação.
Domingos Forchezatto, que incorpora o guia Pai Tambaú, é também Babalaô do Terreiro Pai Tajubim – posição mais alta na hierarquia. A associação foi fundada há 71 anos. Domingos assumiu como líder espiritual da associação em 1991.
A fundadora da Armac, Edna Lourenço, também confirmou que após o vazamento das denúncias, ao menos três mulheres a procuraram para denunciar informalmente assédios de líderes espirituais de outros terreiros. “O que nós queremos é a apuração das denúncias e a preservação da instituição, uma instituição com 71 anos não pode acabar, o Pai Domingos não tinha esse direito”, afirmou Edna. “Estive lá ontem para dar um apoio àquelas mulheres. Essa magnitude sexual, esses homens que são líderes de terreiro, o que eles trazem para essas mulheres é muito grave. Elas são assediadas, são violentadas e se calam.”
Comunicado
Em comunicado oficial, o Terreiro Pai Tajubim informou que “o Diretor Espiritual, Domingos Forchezatto, foi afastado de suas funções desta casa desde a data de 29/06/2022, e permanecerá afastado até a devida apuração dos fatos, pelas autoridades competentes”. Semanalmente, cerca de 500 pessoas são atendidas espiritualmente no terreiro, que possui perto de 300 médiuns.
“Os religiosos estão indignados, e com razão. Estou preparando uma nota pública da Armac (Veja abaixo), enviando ao terreiro o que a Armac exige de posição para continuarmos sendo parceiros e também preparando o lançamento de uma campanha contra o assédio sexual”, detalhou Edna.
“Respeito e dignidade sim, assédio não” é o nome da campanha que a Armac lançará em parceria com a OAB. “Recebi outras denúncias. A Armac não compactua com crimes sexuais, de maneira alguma. Vou ouvir outras mulheres que têm denúncias a fazer. Vamos apurar, punir os culpados, cobrar medidas e preservar as instituições”, confirmou.
Nota divulgada pela Armac:
“Nós, do Conselho de Religiosos da ARMAC, manifestamos nossa indignação e repudiamos veementemente a cultura do machismo presente na sociedade brasileira, bem como qualquer atitude da prática de crime de assédio sexual e assédio moral, racismo, homofobia, intolerância/racismo religioso.
Ressaltamos que a Instituição deve enfrentar a apuração dos fatos com transparência de ações sem se descuidar das garantias do devido processo legal e de legalidade preservando as garantias constitucionais e que, para tanto, deve possibilitar imediato acolhimento, preservação e apoio para as vítimas, principalmente dos seus direitos e garantias individuais.
Lembramos ainda que as condutas narradas pelos denunciantes constituem crime de assédio sexual previsto no Código Penal. Por isso, se faz necessário que os casos sejam investigados com seriedade pelos órgãos responsáveis e, se comprovados, que haja a devida punição, conforme define a Lei.
Além disso, ressaltamos que a ARMAC recebeu nesta semana outras denúncias de assédio sexual, e muitas vezes as mulheres não denunciam, por medo e pela magnitude sexual imposta por homens que são líderes/dirigentes espirituais; o medo as impede de utilizar os canais de atendimento com procedimentos estabelecidos para casos de violência sexual.
Toda nossa Diretoria se coloca à disposição para todo apoio necessário, tanto no que se refere ao incentivo a novas denúncias, como para o apoio psicológico e de garantias de direitos respeitados.
Reiteramos nossa luta por respeito às mulheres, seja no trabalho ou em todos os lugares em que ela quiser estar, direito de ir e vir e pelo bem viver, saudáveis e seguros, pelo fim da violência contra a mulher e a devida punição para aqueles que violam a integridade física, sexual e moral das mulheres.
Basta! Não irão nos calar! Mexeu com uma mexeu com todas!“