Único clube do interior campeão brasileiro, o Guarani encantou o País no dia 13 de agosto 1978, com uma geração recheada de craques como Careca, Zenon e Renato. Todo torcedor bugrino que viveu a época ou acompanha partidas desse time pela internet jamais esquecerá dos heróis comandados pelo técnico Carlos Alberto Silva. Apesar das homenagens e do reconhecimento aos atletas que participaram da conquista, um deles acabou esquecido no tempo: o ex-volante Mavile Pina.
Formado nas categorias de base do Alviverde junto com Careca, o jovem de 19 anos sentou no banco de reservas na estreia no Brasileirão daquele ano, na derrota por 3 a 1 para o Vasco, no Brinco de Ouro. O jogador não chegou a entrar na partida, mas estava inscrito na competição e teve essa única participação na campanha.
“Era para eu ter começado como titular nessa partida, mas fiquei na reserva do Manguinha. Ele foi substituído no primeiro tempo pelo Edson, que acabou improvisado na posição de volante. No final do primeiro tempo, o Carlos Alberto Silva me chamou e disse para não ficar preocupado que eu teria mais oportunidades. O objetivo dele naquele jogo era não me queimar, já que estávamos no início do campeonato”, relembra o ex-atleta.
Mavile sofreu séria lesão no joelho na semana seguinte e não teve mais nenhuma outra oportunidade de entrar em campo até o final do torneio. Na prática, o ex-volante é considerado um dos vencedores do Brasileirão de 1978, porém, até hoje não recebeu a medalha do primeiro lugar, muito menos a faixa de campeão ou qualquer homenagem do clube do seu coração.
“A gente sabe que infelizmente isso ainda não aconteceu, mas é um sonho que tenho de um dia ser homenageado e reconhecido por participar desse título. Eu fiquei no banco, estava inscrito, participei do início, mas depois mudou a diretoria e acho que as pessoas nem sabiam que eu estava no Guarani”, detalha o ex-jogador.
“As fotos que foram tiradas de campeão brasileiro, eu também não estou presente, pois estava fazendo tratamento no joelho”, diz Mavile.
Entre as muitas mágoas que leva, há uma que poderia ter sido facilmente reparada. “As fotos que foram tiradas de campeão brasileiro, eu também não estou presente, pois estava fazendo tratamento no joelho. Aquela foto poderia ter marcado meu nome, mas fiquei de fora. Estou com 62 anos e seria uma marca maravilhosa para ser homenageado. Gostaria muito que eles me reconhecessem também. Sempre vesti essa camisa com muita raça e sou muito grato ao Guarani por tudo que fez por mim. Eu adoro Campinas e adoro o Guarani. É o clube do meu coração, que iniciei minha carreira e deu a oportunidade de eu jogar”, declara-se Mavile, que atualmente mora em São José dos Campos, cidade onde nasceu no dia 13 de fevereiro de 1959.
Zenon
Destaque do título brasileiro de 1978, Zenon recorda-se da passagem do ex-jogador pelo Guarani. Além disso, o ídolo bugrino valoriza as qualidades do companheiro e faz questão de destacar que, apesar de não ter recebido a medalha nem as homenagens, Mavile é campeão brasileiro de 1978.
“Ele faz parte daquele grupo do título brasileiro. Mavile é campeão brasileiro pelo Guarani”, garante Zenon
“Tenho lembranças do Mavile, que era cabeça de área, camisa 5, jogador que marcava muito bem e tinha um passe muito bom, só que infelizmente dentro do Guarani não teve muitas oportunidades. Primeiro porque tinha o Flamarion, depois surgiu Manguinha, daí ele começou a brigar por posição com Manguinha e Flamarion. Em 1977, chegou o Zé Carlos, que também era um fenômeno, e o Mavile acabou tendo poucas oportunidades no time do Guarani. Mas ele faz parte daquele grupo do título brasileiro. Mavile é campeão brasileiro pelo Guarani. Depois, não acompanhei muito sua trajetória, mas tivemos uma convivência de três ou quatro anos no Guarani”, enaltece o ídolo alviverde.
Manguinha
Também companheiro de Mavile no Guarani, Manguinha guarda com carinho os momentos com o ex-jogador e o compara ao volante Clodoaldo, campeão com a Seleção Brasileira na Copa do Mundo de 1970. “Ele era um volante que lembrava muito o Clodoaldo. Também comparo ele ao Marcos Paulo, que era um grande jogador e acabou sofrendo com lesões, pois eram muito parecidos e aguentavam correr mais. Mavile era um excelente marcador, tinha uma qualidade técnica para fazer as jogadas e corria com elegância. A gente tinha a impressão de que ele corria nas pontas do pé”, elogia.
“Lembro que fui titular no primeiro jogo de 1978 contra o Vasco e me machuquei. Considero Mavile como campeão e não sei porque não mandaram a medalha para ele. O Guarani não formava somente jogadores de futebol, formava atletas e também grandes pessoas como ele. Quero mandar um abraço para o Mavile e espero que em breve, passando essa pandemia, possamos estar juntos”, completa Manguinha, que estava em campo na vitória por 1 a 0 sobre o Palmeiras, o histórico jogo do título brasileiro de 1978.
“O Guarani não formava somente jogadores de futebol, formava atletas e também grandes pessoas como ele”, elogia Manguinha
Carreira
Depois de vestir a camisa bugrina de 1976 até meados de 1979, somando a passagem pelas categorias de base e a equipe profissional, Mavile rodou por clubes como Radium de Mococa, União Barbarense, Corinthians de Presidente Prudente, Esportiva de Guará, Nacional-SP, Foz do Iguaçu e Grêmio Santanence, até retornar ao União Barbarense e encerrar a carreira em 1990.
“Era muito gratificante jogar em um time como Guarani, com uma formação daquela e ser o único campeão brasileiro do interior. Era uma satisfação plena para mim. No meu caso, fiquei mais no Guarani e depois passei pelo interior. O Guarani tinha um time excepcional, a maioria dos jogadores era das categorias de base, então o Guarani fazia um trabalho muito forte na base e veio o resultado que foi o título brasileiro, revelando Careca, Miranda, Mauro, Renato e vários outros jogadores que surgiram ali”, finaliza.