Campinas acaba de perder uma referência literária e educacional. Rubem Costa, jornalista, escritor e educador, morreu nesta manhã de quarta-feira (2), aos 102 anos. Era provavelmente o mais longevo produtor de conteúdo literário em atividade no Brasil. Produziu crônicas e manteve-se lúcido, com a ajuda da filha Bete, com quem morava, até antes de sua internação, na Santa Casa de Valinhos. Debilitado, mas não prostrado, Rubem Costa estava com uma pneumonia. Antes de deixar o apartamento para o leito hospitalar confidenciou para a filha que só podia agradecer pela vida que teve, que era grato por tudo que fez e mandou lembranças aos amigos.
Amigos que são centenas, talvez milhares, que cativou ao longo de sua jornada.
Era presidente emérito da Academia Campinense de Letras (ACL), colegiado que ajudou a transformar e a colocar como entidade protagonista da cultura em Campinas e região, de forma efetiva, não apenas protocolar.
O sepultamento de Rubem Costa será nesta quinta-feira (3) no Cemitério da Saudade, às 10h30. O velório será aberto às 7h30.
Rubem Costa era viúvo e deixou três filhos: Bete, Ivan Sérgio (falecido em 1993) e José Roberto Costa, advogado. Com José Roberto, aliás, o pai viveu uma jornada de quase três décadas na advocacia. A biografia do acadêmico, obviamente, vai sempre reforçar a sua veia literária, resgatando as obras e o legado que deixou para as letras.
Mas Rubem exerceu papel de relevância no mundo do Direito, e o filho José Roberto teve o privilégio e a gratidão de tê-lo como mestre também neste ofício. “Tenho orgulho de tê-lo como sócio de 1975 a 2000 no escritório de advovacia”, recorda José Roberto, ressaltando a figura sempre irretocável no caráter e impecável nas orientações. “Era, além de tudo, um iluminado”, resume o filho José Roberto.
Homenagem da filha
A filha Bete Costa Grinaboldi publicou várias homenagens ao pai em seu Facebook. Uma delas o Hora compartilha aqui:
“E o velho de barbas brancas, de longe avistou sua jangada, que devagar foi chegando. Ele, já cansado, partiu, retornando à Casa do Pai….
Homem forte, espírito evoluído, Viveu, sofreu, lutou, venceu, conquistou, amou a todos e teve uma partida honrosa….
Deixou um legado maravilhoso na educação, literatura e advocacia.
Por onde passou, deixou sua marca, conquistando tudo o que promovia.
Foi nosso grande pilar…Nosso grande amor, nosso grande pai.
Partiu tranquilo, ao encontro de minha mãe querida.
Descanse pai e abrace seus amores que há muito te aguardam…
Amamos muito você”
Dário Saadi divulga nota
O prefeito de Campinas, Dário Saadi, lamentou a morte do jornalista, escritor e educador Rubem Costa, presidente emérito da Academia Campinense de Letras (ACL). “Meus sentimentos à família, aos amigos e aos seus admiradores. Costa era referência nas áreas literária e educacional. O jornalista mantinha até recentemente sua agenda ocupada com a produção de crônicas e participação na ACL”, escreveu o prefeito.
Quando tudo começou
Rubem Costa nasceu em Campinas no início do século passado, em 22 de abril de 1919, um ano depois do fim da Primeira Guerra Mundial. Filho de Rubem e Olívia, menino pobre, mudou-se para Amparo aos 5 anos. Na adolescência, aos 16 anos, contraiu tuberculose e superou.
Jovem, mirou o jornalismo e as letras. Começou seu ofício de jornalista bem cedo, fundando e dirigindo o jornal O Estudante, quando estava na Escola Normal, hoje Carlos Gomes, Centro de Campinas. Fundou também a Revista Palmeiras, da qual foi redator. Tudo isso nos anos 30.
Devido à precocidade de suas iniciativas jornalísticas, e seu notório talento para as letras, foi eleito, aos 18 anos, presidente da Rede Jornalística Estudantina de Campinas. Naquela época, já integrava o corpo de redatores do jornal Diário do Povo, fundado em 1912. O veículo saiu de circulação 100 anos depois, em 2012, quando estava sob o controle do Grupo RAC, após ter sido adquirido da família Quércia em 1996.
Caminho para a Educação
O ingresso no Magistério acontece em 1943, em Amparo, como professor de Língua Portuguesa. Foi diretor de escolas oficiais de grau médio no estado de São Paulo. Nos anos 60, começa uma trajetória como dirigente de ensino. Primeiro, como inspetor do Ensino Secundário e, depois, em 1969, como diretor da V Divisão Regional de Educação, com sede em Campinas.
Nos anos 70, também formado em Direito, abriu seu escritório e atuou na defesa do funcionalismo público.
Letras, crônicas, livros
O acadêmico Rubem Costa passa a ocupar assento efetivo nas agremiações literárias a partir da década de 70. Em 1971, é um dos fundadores da Academia Campineira de Letras e Artes (CCLA). Dois anos depois, é eleito membro titular da Academia Piracicabana de Letras.
Desde então, trilha um caminho de muita produção intelectual, com crônicas regulares em jornais de Campinas, entre eles o Correio Popular, e publicação de livros. A lista é vasta. Sua última obra publicada, em 2019, é O Velho de Longas Barbas Brancas, da Pontes Editores, um livro de contos.
Com a pandemia da Covid-19, passa a viver recluso com a filha Beth, num apartamento em Campinas. Mas segue sua inquietude intelectual, pensando, elaborando ideias e produzindo crônicas. O Hora Campinas publicou duas delas, A Jangada e o Vento e A Ira Enjaulada, ambas em agosto último.
Na entrevista, o escritor, jornalista, cronista e professor Rubem Costa foi auxiliado por sua filha na conversa por plataforma virtual. Rubem manteve-se sempre atento. Lúcido, deixou uma mensagem que resume a sua história de intelectual longevo e persistente: “um homem jamais pode deixar de pensar e produzir”.
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