Quem diria que pneus reciclados, cordas feita de garrafas plásticas recicladas, que possuem resistência à luz ultravioleta, árvores frondosas escolhidas a dedo para suportar peso, muita pesquisa e estudo sobre segurança voltariam a dar vida, reunir amigos, vizinhos, famílias e até atrair pessoas de lugares distantes na Praça Lafayette Arruda Camargo Filho, no Parque São Quirino, em Campinas.
Por lá, Elson Dias da Silva, 61 anos, já construiu 23 balanços, uma gangorra de corda, duas escadas de corda e três tirolesas (uma para bebês, outra para crianças de até 40kg e uma para adultos). Elson conta que a ideia de construir balanços partiu de uma cena do cotidiano dele. Geralmente ele passeava com a neta Ravena no entorno da praça e sentia falta de um lugar para ela se divertir.
Quando resolveu começar a fazer balanços na praça batizou o projeto de Ravena Balanço. “O primeiro que fiz foi pensando na minha neta e nas outras crianças pequenas. Busquei construir algo muito seguro e que fizesse a alegria dos pequenos. E hoje observo o quanto as pessoas estão aproveitando melhor o espaço na praça, levam os filhos para se divertirem. O espaço ganhou mais vida”, conta.
Depois vieram os outros balanços e as tirolesas. Junto chegaram mais equipamentos de segurança como roldana de aço, mosquetão, manilha, sapatilha grampos e muito estudo. “Procuro pegar galhos mais grossos, longe da rua, calçada ou obstáculos que possam levar a impactos”, pontua. Ele também teve que aperfeiçoar algumas técnicas, aprender sobre nós, tensão de ruptura. “O pneu é macio, mas usar com prudência ajuda a reduzir pequenos incidentes”, destaca o idealizador.
Para os grandinhos
Elson conta que tem chamado a sua atenção o quanto esse projeto está fazendo bem para o público adulto. Ele conta que os balanços altos, que suportam até 1 200 kg, têm feito muito sucesso. “Percebo que as pessoas resgatam a sua criança interior, um tempo sem tanta preocupação, elas resgatam boas lembranças da infância, dão risada e aproveitam o espaço da praça pública com alegria e bastante respeito. Percebo que isso cria um pertencimento das pessoas com o espaço. Elas passam a cuidar mais do que é nosso, do coletivo”.
O idealizador diz que o projeto Ravena Balanço tem feito vaquinhas virtuais no perfil do Instagram para bancar novos balanços e equipamentos.
“Meu sonho é que esse projeto se expanda, aconteça em outras praças, pois onde tem crianças, árvores e brincadeiras, tem vida e alegria”, diz. Elson é PHD em solos, mas também se formou técnico agrícola, zootecnista e mestre em nutrição animal. “O Ravena Balanço é uma forma que encontrei de devolver para a sociedade tudo o que tive a oportunidade de aprender e continuo aprendendo na minha jornada”, destaca.
Kátia Camargo é jornalista e até hoje gosta de balançar. Quando falou com Elson, que é avô da Ravena e inspirou o projeto, lembrou do texto de Rubem Alves que fala da importância do balanço para adultos também: “Balançar é o melhor remédio para depressão. Quem balança vira criança de novo. Razão por que eu acho um crime que, nas praças públicas, só haja balancinhos para crianças pequenas. Há de haver balanços grandes para os grandes! Já imaginaram o pai e a mãe, o avô e a avó, balançando? Riram? Absurdo? Entendo. Vocês estão velhos. Têm medo do ridículo. Seu sonho fundamental está enterrado debaixo do cimento. Eu já sou avô e me rejuvenesço balançando até tocar a ponta do pé na folha do caquizeiro onde meu balanço está amarrado!”