Começa na próxima semana em Dubai a Conferência do Clima, COP-28. Como aconteceu anteriormente com a Guerra na Ucrânia, tudo indica que a Guerra na Faixa de Gaza pode repercutir negativamente na COP-28, no sentido de esvaziamento das negociações pela urgência de redução de gases-estufa que estão agravando as mudanças climáticas.
A principal polêmica em Dubai será sobre o clamor de cientistas e ambientalistas para que seja definido um calendário para a eliminação do uso dos combustíveis fósseis. Sem a eliminação de petróleo,carvão e gás não há possibilidade de redução das emissões de gases-estufa e, sem isso, não há qualquer chance de se evitar o aquecimento global como está acontecendo.
Tudo indica que 2023 será o ano mais quente da história, segundo as agências que monitoram o clima global. Os efeitos estão cada vez mais visíveis, como nos recentes eventos climáticos extremos no Brasil, da seca histórica na Amazônia às seguidas enchentes no Sul e onda de calor recorde em vários estados.
Há uma grande expectativa sobre a posição do Brasil em Dubai, onde mais uma vez será intenso e ativo o lobby dos fósseis e dos negacionistas do clima. Negacionistas que acabam de ganhar reforço, com a eleição de Javier Milei na Argentina. Que tristeza Argentina, mas essa é outra história. Ou não, porque uma posição retrógrada do novo presidente pode prejudicar uma necessária articulação dos países sul-americanos em vários assuntos, inclusive no clima.
Mas voltando ao Brasil em Dubai, que aliás não deveria sediar um evento desse, considerando ser grande produtor de petróleo e, portanto, com importante contribuição para o atual estado de coisas.
O Brasil chega à COP-28 na encruzilhada, entre os compromissos que o presidente Lula assumiu na campanha eleitoral em 2022 pelo fim do desmatamento na Amazônia (maior causa das emissões de gases-estufa em território brasileiro) e os fortes interesses para que o país continue investindo forte na exploração de petróleo, por exemplo.
Há um grande embate no momento na Petrobras, com o atual presidente Jean Paul Prates defendendo maior investimento em fontes renováveis, como a energia eólica off-shore, nas plataformas da empresa em alto mar, e os segmentos que querem adiar o quanto podem esses investimentos. O Brasil vai perder muito se adiar maior investimento em renováveis como eólicas, solar e biocombustível e a Petrobras perderá a oportunidade de ser um player importante na transição energética global, que é inevitável apesar do lobby dos fósseis.
Um passo importante dado pelo governo Lula foi retomar as metas anteriores de redução das emissões de gases-estufa pelo Brasil. Essas metas tinham sido reduzidas no governo de Jair Bolsonaro, no que foi chamado de “pedalada climática”. Agora o governo brasileiro retomou as metas originais, de 1,3 giga toneladas de dióxido de carbono equivalente em 2025 e 1,2 GtCO2e em 2030.
Essas metas são perfeitamente possíveis de ser alcançadas e, melhor, podem ser aprimoradas, como defendeu na manhã desta quinta-feira, 23 de novembro, em Brasília, o Observatório do Clima, ao divulgar a nova edição do Sistema de Estimativas de Emissões de Gases de Efeito Estufa, com os dados de 2022.
Na avaliação dos especialistas do Observatório do Clima, apenas o cumprimento da promessa do presidente Luiz Inácio Lula da Silva de zerar o desmatamento em todos os biomas em 2030 daria ao Brasil a chance de ter uma meta de corte de emissões quase duas vezes mais ambiciosa que a atual. Com o desmatamento zero até 2030, as emissões brasileiras naquele ano seriam de 685 milhões de toneladas, um número 43% menor do que a meta atual, de 1,2 bilhão de toneladas.
Enfim, para o Observatório do Clima, o Brasil pode sim indicar oficialmente metas mais ousadas de redução de suas emissões, o que teria um impacto relevante nas negociações que serão feitas nas próximas COPs, como a COP-30, que acontecerá em Belém, em 2025, quando o país pode chegar como um efeito líder mundial contra as mudanças climáticas.
As cartas estão na mesa. A participação do Brasil em Dubai será um sinalizador de como o governo federal e outros atores vão atuar nos próximos anos. As vítimas das enchentes no Sul e outros eventos climáticos extremos com certeza merecem uma posição mais firme do país, em sua necessária contribuição para os esforços planetários frente às mudanças climáticas cada vez mais intensas e devastadoras.
José Pedro Martins é jornalista, escritor e consultor de comunicação. Com premiações nacionais e internacionais, é um dos profissionais especializados em meio ambiente mais prestigiados do País. E-mail: [email protected]