nvadido e colonizado por Portugal nos anos 1500, explorado pelo Reino Unido durante a Revolução Industrial europeia, refém dos EUA durante o século XX, o Brasil, essa gigantesca potência global em desenvolvimento, continua buscando caminhos para consolidar-se como referência política, econômica e social no sistema-mundo do século XXI, enquanto lida com problemas estruturais internos, principalmente ligados a desigualdades sociais, racismo, narcotráfico e exploração socioambiental.
Maior país em população, área e PIB na América Latina e no Hemisfério Sul do planeta, principal país do Mercosul, bloco econômico criado em 1991, o Brasil é a letra B do grupo chamado de BRICS, composto também por Rússia, Índia, China e South Africa (África do Sul) – que agora deve expandir-se e incluir Argentina, Arábia Saudita, Emirados Árabes Unidos, Irã, Egito e Etiópia. Juntos, esses países somam mais da metade da população mundial, responsáveis por um terço do Produto Interno Bruto da economia global, representando centralidades políticas e econômicas na América Latina, África e Ásia.
Considerando apenas o Brasil, há que se destacar que as maiores reservas de água doce do planeta estão aqui, em aquíferos e bacias hidrográficas, que irrigam florestas onde se encontra a maior biodiversidade da Terra e gigantescos campos agrícolas que alimentam grande parte do mundo. Além disso, a presença de recursos minerais importantes, como ferro, bauxita, manganês, nióbio, fosfatos, petróleo, e de grandes empresas de infraestrutura e financiamento de projetos, como Petrobras, Eletrobrás, Vale, Banco do Brasil, BNDES e Itaú, nos coloca em evidência ao pensar sobre a industrialização de países em desenvolvimento.
O mais potente acelerador de partículas da atualidade está no Brasil, em Campinas (o Sirius) e o nome da biblioteca central da Unicamp homenageia um dos maiores físicos do século XX – o brasileiro Cesar Lattes.
De Vital Brasil, Oswaldo Cruz e Carlos Chagas a Zilda Arns, Nice da Silveira e Miguel Nicolelis, nosso país também se destaca na produção científica na área da saúde. Santos Dumont, Roberto Landell e João Gurgel nos colocam na lista dos inventores que possibilitaram avanços consideráveis nos meios de transporte e das telecomunicações.
Se formos falar em artistas, escritores e compositores, a lista é interminável! Tarsila, Portinari, Djanira, Rosana Paulino, Di Cavalcanti, Anita Malfatti, Machado de Assis, Drummond, Suassuna, Clarice, Cecília Meireles, Jorge Amado, João Cabral de Melo Neto, Lima Barreto, Mario Quintana, Monteiro Lobato, Guimarães Rosa, Castro Alves, Adélia Prado, Conceição Evaristo, Paulo Freire, Darcy Ribeiro, Milton Santos, Carlos Gomes, Villa-Lobos, Cartola, Bezerra da Silva, Chico, Caetano, Gil, Toquinho, Vinícius, Elis, Tom Jobim, Belchior, Pixinguinha, Luiz Gonzaga, Dominguinhos, Alceu Valença, Zé Ramalho, Chico Science, Cazuza, Raul Seixas – e tantas outras pessoas que engrandecem a cultura brasileira dentro e fora do país!
Nos esportes: Pelé, Garrincha, Zico, Senna, Guga, Ronaldo, Falcão, Marta, Cesar Cielo, Gustavo Borges, Éder Jofre, Popó, Hortência, Magic Paula, Oscar Schimdt, Tande, Giba, Sheilla Castro, Ana Moser, Daiane dos Santos, Sarah Menezes – apenas alguns entre incontáveis atletas brilhantes levando o Brasil a pódios internacionais.
Embora o Brasil não seja uma potência militar, o que nos tira do radar do intervencionismo da OTAN, nossa postura diplomática é mundialmente reverenciada pela defesa do diálogo democrático na resolução de conflitos.
Da mesma forma, ainda que estejamos longe de alcançar uma democracia verdadeiramente popular, participativa e representativa, as lutas protagonizadas por movimentos sociais e lideranças de grupos marginalizados serve como inspiração para outros países que também sofrem com o legado perverso do colonialismo, agravado pela persistência da lógica neoliberal globalizada.
Outros caminhos são possíveis a partir do Sul global!Seguir a ordem de submissão ao eurocentrismo, ao imperialismo estadunidense ou mesmo aprofundar uma relação de dependência com a China, seria abrir mão do inquestionável potencial que nosso país possui para exercer papel de liderança.
Um papel que pode (e deve) ser desempenhado não através da força militar, da coerção política, do assédio econômico ou da dominação cultural, mas demonstrando a força e a eficiência da construção democrática a partir da solidariedade, do respeito às diversidades e da substituição do paradigma de exploração-acumulação-competição pelo de preservação-equilíbrio-cooperação.
E cabe a nós, povo brasileiro, materializar esse destino, por mais desafiador que seja, ou abandoná-lo na prateleira das utopias.
Luis Felipe Valle é professor universitário, geógrafo e mestre em linguagens, mídia e arte.