Cortar, costurar, alinhavar, pregar botões, desmanchar, arrematar são cenas muito comuns para quem exerce o ofício de costureira. Mas, ganham um sentido todo especial, quando a roupa tem como protagonista um bebezinho que está prestes a desembarcar por aqui. Desde 2012, essa é a rotina das amigas Ana Maria Plaça, Elizabeth Zinzani, Isabel Fornazieri, Marta Candeias, Sileide Quitéria e Vitória Pádua, que se conheceram na Celuca – Casa Espírita Luz do Caminho e formam o grupo Abelhinhas de São Francisco. É da máquina de costura e da união de muitas mãos que nascem enxovais que são doados para mães que não teriam condições de comprar.
Mesmo em meio à pandemia elas não pararam a produção e o trabalho em equipe continua firme e potente. Os encontros, que eram presenciais, tornaram-se virtuais, mas não menos preciosos. E juntas, porém cada uma em sua casa, entregaram, no ano passado, 214 enxovais completos. Aliás, elas contam que nesse período de distanciamento social têm chegado muitos pedidos, devido ao nascimento de novos bebês e também pela falta de condições financeiras de muitas famílias.
O enxoval, preparado pelas Abelhinhas de São Francisco, vai recheado não só de roupas, mas de amor, orações e intenções de boas-vindas para a criança que está chegando. O pacote de afeto conta também com pijamas, mantas, babadores, fronhas, casaquinhos de lã, sapatinhos, toalhas de banho, fraldas, cobertores e lençóis.
Parte dos tecidos, linhas, flanelas que vão se transformar em roupas e cobertores chegam por meio de doações. “Também procuramos incluir outros itens como sabonetes, fraldas descartáveis, xampus, mamadeiras, chupetas e banheiras. E, em alguns poucos casos, conseguimos até berços e carrinhos seminovos”, conta Ana Maria Plaça.
A equipe que compõe o grupo das Abelhinhas de São Francisco faz questão de destacar que não está sozinha na jornada; existe uma rede de apoio muito maior que contribui para que os enxovais cheguem os mais completos para as famílias. “A produção é artesanal, por isso não damos conta de atender a muitos pedidos que nos chegam, mas sempre tentamos fazer o nosso melhor”, diz.
Inspiração veio da tia
Foi Neide, tia da Ana Maria, que a inspirou a começar a fazer os enxovais para mulheres em vulnerabilidade social. “Desde criança observava a minha tia na máquina costurando peças para bebês. Ficava encantada ao ver o quanto aquelas peças traziam alegria e esperança”, lembra Ana. E em 1990 ela decidiu seguir os passos da tia, na costura e nas doações de peças para bebês. “Em 2012 nasceu o nosso grupo, Abelhinhas de São Francisco”, diz.
Ao entregar os enxovais, as Abelhinhas percebem o quanto esse gesto pode ter um significado profundo para quem recebe. “Em alguns casos, o fato de ver o enxoval preparado para o filho ajuda a promover um encontro com a criança antes mesmo do nascimento e isso é tão bonito. Nos emocionamos muito com cada história que escutamos. Nem sempre são gestações desejadas, algumas são bem doloridas, frutos de estupro e enxergamos a força dessas mulheres. Outras pessoas sofrem de privações básicas. Não têm o que comer em casa e, às vezes, têm outros filhos que também precisam de muitas coisas”, diz.
Mas mesmo diante do sofrimento humano elas fazem questão de lembrar das inúmeras vezes que viram a emoção e o brilho nos olhos dessas futuras mães. “Isso nos motiva a seguir em frente. E vamos aprendendo o quanto cortar, alinhavar, costurar proporcionam a união e a cooperação, em nós e nos outros”, diz Ana Maria.
Kátia Camargo é jornalista e ficou emocionada quando, no meio da conversa, foi convidada a fazer um tour virtual pela oficina de costura das Abelhinhas de São Francisco. O espaço a transportou para lembranças do quartinho de costura de sua mãe, onde até 2012 (antes dela morrer), nasceram muitas roupinhas de bebês!