Como professor de filosofia, me considero alguém muito observador, detalhista, cético e crítico. Passei a me perguntar nesses últimos finais de semana se a pandemia serviu para alguma coisa? Pergunta que surgiu após reparar na corrida desenfreada da massa para com a busca de entretenimento e diversão como se não houvesse um amanhã. O discurso que ouço é de que as pessoas não aguentavam mais ficar presas em suas casas nos últimos dois anos, mas recordo que já adentramos na pandemia nesse espírito. Finais de semana com ambientes de entretenimento 100% lotados, praias 100% lotadas, shoppings em final de ano 100% lotados, Carnaval e suas festividades 100% lotadas, ou seja, me parece que o argumento não se sustenta, é contraditório.
Dias antes da pandemia tudo estava literalmente entupido de pessoas, e ninguém havia passado por esse “confinamento” que a quarentena solicitou. É como se tivessem soltado um gado que estava preso há dois anos, sem comida e ao abrir da porteira a maioria esmagadora saiu correndo buscando sanar tal fome, fome de quê?
A expressão “gado” é forte, eu sei, é provocante, tal como sugere a filosofia. O intuito é levar à reflexão: precisa ser assim? Viver como se não houvesse amanhã? Geralmente há, e com ele vêm às consequências de uma rotina de vida desenfreada.
Não sei se sou quadrado em ter essa visão, mas é a que tenho; me sinto fora do jogo, observando-o e nessa posição fica mais fácil enxergar cada detalhe. É estranho também perceber que a massa se expressa como se tudo estivesse caro, alimentos, combustível, mas conseguem dinheiro para gastar por aí, com coisas que não precisam… Essa conta não me parece fechar.
Não há dinheiro para comprar carne, pois está cara, não há dinheiro para abastecer o veículo, pois está caro, mas há dinheiro para viagens na praia em feriados, para ir a baladas, para a compra do ingresso do Carnaval. A felicidade se inicia na sexta à noite e dura até domingo à noite com litros e mais litros de bebidas alcoólicas (talvez para se esquecer da rotina, funcionando como um dopante).
Sem falar que estamos no mês de Novembro, mês que infelizmente não tem seu devido reconhecimento quando nos lembramos que é dedicado à prevenção do câncer de próstata, mas é 100% lembrado, pela massa, como sendo o mês da Black Friday.
É um mês onde, usando de instrumentos da psicologia, linguagem hipnótica e gatilhos mentais fazem com que você e seus familiares comprem coisas que não precisam, com o dinheiro que não tem. Estou errado? Espero que sim.
Toda essa reflexão tem teor reflexivo e é um convite à reflexão, espero que você reflita sobre o “efeito manada”; onde todos fazem o que a maioria faz; vão onde a maioria vai, unicamente para “tapar o sol com a peneira”, como diria minha saudosa vó dona Angelina. É como se precisassem se sentir pertencentes a um coletivo, pois caso contrário, se sentiriam (e tornam-se de fato) excluídos pela/da sociedade.
Pense como você gerencia sua vida, seus desejos e suas atividades. O seu caminho é você quem faz e trilha, as consequências é você quem as colhe.
Thiago Pontes é filósofo e neurolinguista (PNL)