Como funciona o processo de escrita e ilustração de um livro? Como se tornar um autor ainda na infância ou na adolescência? Como é ter o poder de contar histórias a partir da forma como se enxerga o mundo? Na última quarta-feira (4), três meninos atendidos pela Casa da Criança Paralítica (CCP), de Campinas, lançaram suas primeiras obras.
Enzo Nicolas Zambelan dos Santos, de 10 anos, é o autor de Quem é o Godzilla; Nicolas Henrique Daida de Oliveira, de 8 anos, escreveu Garden of Banban; e Yuri Ribeiro Martins, de 15 anos, deu vida ao livro A Fúria dos Mobs.
O projeto foi desenvolvido durante as atividades do setor de Pedagogia da entidade. Segundo Regina Ito, coordenadora pedagógica da CCP, a tiragem ainda é pequena, pois cada criança recebeu 10 exemplares impressos, mas será possível imprimir mais unidades sob encomenda.
No dia do lançamento, os autores até participaram de um momento de autógrafos, com a presença de familiares, colaboradores da CCP e amigos.
“Nosso objetivo com o lançamento é valorizar o trabalho produzido por nossos pacientes, apresentando a criatividade e o desenvolvimento pedagógico de cada um. Eles focaram em temas que lhes são importantes, o que os incentivou a escrever e ilustrar seus livros”, observa Regina.
Para o escritor mirim Enzo Nicolas Zambelan dos Santos, escrever o livro trouxe muita alegria. “Quando assisti ao filme do Godzilla, me apeguei muito a ele e tivemos a ideia de escrever no computador. Foi emocionante, deu muito trabalho e levou bastante tempo para ficar pronto, mas foi muito legal fazer esse livro”, disse. Enzo também contou que pretende escrever outros livros. “Pretendo lançar outro livro em 2025 e já tenho até o tema: Quem é o Godzilla 2. Mas vou esperar passar pelo menos um ano para dar tempo das pessoas conhecerem meu primeiro livro”, explicou.
Conheça o perfil dos autores e suas obras através dos depoimentos das pedagogas que os acompanham:
“Enzo Zambelan nasceu em 10 de fevereiro de 2014, tem diagnóstico de Dermatomiosite e recebe atendimentos de fisioterapia, terapia ocupacional, pedagogia e informática adaptada. Ele escreveu o livro com o intuito de trabalhar a leitura e a escrita utilizando recursos tecnológicos. Durante os atendimentos, Enzo sempre enfatizou sua paixão pelo Godzilla. Foi então que utilizei o personagem como um recurso para trabalhar a Língua Portuguesa. Ele se mostrou entusiasmado e disposto a escrever”, diz a pedagoga Lariane Florio.
“Nicolas Daida estuda no 2º ano do ensino fundamental, sempre gostou de desenhar e pintar personagens e heróis. Ele é muito esperto, ativo e adora explorar o novo. Durante os atendimentos realizados na Casa, enfrentei muitos desafios em relação ao conteúdo pedagógico. Então, uni o gosto e o interesse do Nicolas por personagens, e ele escreveu esse livro. Dessa forma, trabalhamos a escrita, a leitura, a atenção, a concentração, a criatividade, entre outros aspectos importantes para o desenvolvimento pedagógico. Os resultados foram muito positivos e foi gratificante ver, a cada terapia, o entusiasmo e a evolução dele”, afirma a pedagoga Juari de Mattos.
“Quem conhece Yuri Ribeiro Martins experimenta um privilégio sem tamanho! Diagnosticado aos dois anos de idade com Distrofia Muscular de Duchenne, esse adolescente tem como uma de suas paixões o desenho. Por isso, em nossas terapias no setor pedagógico da Casa, percebendo que o momento de alta se aproximava — já que Yuri não precisaria mais de apoio — tivemos a ideia de realizar algo diferente, um projeto que valorizasse essa grande paixão, produzindo uma releitura do livro A Fúria dos Mobs. A ideia principal foi canalizar sua energia criativa na produção dessas ilustrações tão lindas e únicas, nas quais ele colocou muito amor e dedicação”, diz a pedagoga Mayara Pingueiro.
Quer saber mais sobre o trabalho da Casa da Criança Paralítica e como ajudar?
Fundada em 17 de janeiro de 1954, a Casa da Criança Paralítica (CCP) oferece atendimento especializado gratuito a crianças, adolescentes e jovens com deficiência física nas áreas de fisioterapia, fonoaudiologia, terapia ocupacional, médica, odontológica, psicologia, nutrição, serviço social, pedagogia e tecnologia assistiva, além de orientação às famílias. Desde 2018, a CCP realiza adaptações e consertos de cadeiras de rodas na Oficina Locomover, que agora também produz órteses e próteses gratuitamente.
Ao longo de 70 anos de atividades, cerca de 18 mil pessoas já foram atendidas pela instituição, que foi escolhida como uma das 100 melhores organizações não governamentais do Brasil, recebendo o Prêmio Melhores ONGs 2022, realizado pelo Instituto Doar em parceria com O Mundo Que Queremos e apoio da Ambev.
Uma das principais fontes de renda da instituição é o Bazar do Sonho, onde é possível doar itens como roupas, acessórios, móveis pequenos, livros, brinquedos, utensílios domésticos, eletroeletrônicos e eletrodomésticos em bom estado de conservação. O Bazar possui duas unidades: a primeira e mais antiga está localizada na Rua Pedro Domingos Vitalli, 160, no Parque Itália, onde também está o Sebo do Sonho. A segunda unidade está na Avenida Baden Powell, 1126, no bairro Nova Europa. Ambas oferecem produtos de qualidade a preços acessíveis e funcionam de segunda a sexta-feira, das 8h às 17h. Aos sábados e feriados, das 8h ao meio-dia.
Quem tiver interesse em adquirir os livros pode entrar em contato com a Casa da Criança Paralítica.
Kátia Camargo é jornalista e ao conhecer a história lembrou da música do Toquinho, O Caderno, pois muitas histórias começam a nascer pelo papel e ganham vida e cor para quem as conta ou escuta: