Quando sozinho, tenho um “estilo” mental curioso, que me faz lembrar o da psicóloga e zootecnista americana Temple Grandin, que fala consigo mesma silenciosamente e visualmente, ou então se move pelo espaço mental atravessando o espaço físico. Conheço pouca gente que consegue se embriagar em ideias mirabolantes, mas aterriza no mundo real, sã e salva, como ela.
Minha esposa costuma usar um olhar familiar, objetivo e funcional; eu tendo a um olhar sonhador experimental. E, quando brinco, estou ensaiando um drama complexo na minha cabeça, desenhando linhas de um algoritmo.
No seu livro recente, Pensamento Visual: Os Presentes Ocultos de Pessoas que Pensam em Imagens, Padrões e Abstrações, Temple Grandin, 75 anos, explica que sua mente está cheia de imagens detalhadas, que ela pode justapor, combinar e revisar com verve e precisão.
Ela é autista e sofreu muita exclusão quando criança e jovem. Mas um belíssimo professor a fez acreditar em sua capacidade de raciocinar e, como não podia ser tocada por pessoas, inventou a máquina do abraço, que acabou sendo a sua forma de entrar em comunhão com os outros.
Grandin, uma behaviorista animal e engenheira agrícola da Universidade Estadual do Colorado, trabalhou na concepção de elementos de matadouros e outras estruturas agrícolas; quando encarregada de estimar o custo de um novo sistema, ela olha para seus planos e depois os compara em sua mente com imagens que recorda de projetos passados.
Apenas pensando visualmente, ela pode estimar com precisão se o novo processo custará o dobro ou três quartos do custo de um anterior.
Eu tenho muito orgulho de ter trabalhado com ela em 1980, no primeiro projeto dela no Brasil, para criar um tipo de gado único, exportado 100% para os EUA. Foi um super aprendizado.
Após o início da pandemia, ela leu muito sobre como os medicamentos podem ajudar nossos corpos a combater a Covid-19; enquanto lia, ela desenvolveu uma analogia visual detalhada na qual o corpo era uma base militar sob cerco.
Pensando em tempestades de citocinas – eventos em que o sistema imunológico se torna superativado, causando inflamação fora de controle – ela não conceituou a ideia em palavras. Em vez disso, ela escreveu: “Eu vejo os soldados do meu sistema imunológico enlouquecendo. Eles ficam confusos e começam a atacar a base e ativá-la. Precisamos de mais RNA como bombeiros”. Essa descrição é certeira e mostra também a forma de ela enxergar e concretizar os desafios do mundo por imagens visuais.
Para saber mais detalhes da história dela recomendo assistir ao TED que ela fez em 2010: O Mundo Precisa de Todos os Tipos de Mentes, clicando no link : https://www.ted.com/talks/temple_grandin_the_world_needs_all_kinds_of_minds?language=pt
Luis Norberto Pascoal é empresário, empreendedor e incentivador de projetos ligados à educação e à sustentabilidade. A Fundação Educar Dpaschoal é um dos pilares de seu trabalho voltado ao desenvolvimento humano e social.