Eis que em algum momento da vida nos encontramos numa situação delicadíssima, surreal, situação essa na qual a maioria dos amigos torna-se colegas, situações em que os milhões de seguidores somem, se afastam, situação na qual você literalmente chega ao fundo do poço. Pois bem, o tema de nossa reflexão é sobre esse fundo em particular, no qual cada um tem o seu; fundo único e singular. Refletiremos sobre a impossibilidade de, mesmo estando lá no fundo do poço do outro, não conseguir sentir a dor dele (a). Topa vir comigo para pensar sobre tal tema cada dia mais recorrente? Então vamos lá!
Há correntes da psicologia que usam da empatia para com o próximo, defendem que basta você oferecer um ombro amigo, um minuto de atenção, uma palavra de conforto que a situação de dada pessoa ameniza, torna-se mais leve. Porém, há outras linhas da filosofia que defendem justamente o inverso: somos seres solitários e não há quem possa sentir o que estamos sentindo (dor e/ou sofrimento) isso é particular de cada um e ponto final!
Kierkgaard filósofo dinamarquês diz que a angústia somos nós e que cada um tem a sua em particular. Heidegger filósofo alemão diz que a solidão é o estado do ser humano, cada um está por si só no mundo e não há quem possa sentir a dor do próximo. O filósofo Schopenhauer defende a solidão como um componente fundamental para a felicidade, não apenas estar só, mas em bastar a si mesmo. De qualquer modo, é também na solidão que se alcança a verdadeira liberdade. Você considera que uma pessoa que chegue ao fundo do poço esteja livre? Há quem possa experienciar o que ela esteja sentindo? Na suposta divisão de sentimentos há uma descarga do excesso de angustia de quem se encontra no fundo do poço?
Há outro grande nome da filosofia alemã chamado Nietzsche, ele disse certa vez que “Não venha roubar minha solidão, se não tiver algo mais valioso para oferecer em troca”. Aqui já percebemos a singularidade de cada pessoa e de cada problema, a singularidade dos impactos de determinado problema na vida de alguém e do modo com que tal pessoa reage.
O ponto é: ao chegar no fundo do poço, você consegue acolher alguém que tenta lhe ajudar? Cabem mais pessoas nesse fundo ou é única e exclusivamente seu? Sermões e oratórias bonitas preenchem um vazio existencial?
Talvez todos nós venhamos a ter um poço, com determinada profundidade e que a partir dele há quem não o visite há anos, ou muito pelo contrário, quem faça morada lá no fundo. O que pode vir a acontecer é alguém ou um grupo de pessoas estenderem as mãos para retirarem fulano ou sicrana de lá, mas o fundo do poço é um local privado, apertado, exclusivo de cada um. Eu tenho o meu poço, vez em quando vou até o seu fundo, demoro minutos, horas, dias, semanas, meses lá no fundo, mas retiro tal tempo para refletir sobre os fatos em questão e acabo por me surpreender com aqueles que estendem as mãos, sem julgar, para tentarem me retirar de lá, em sua maioria são pessoas que menos expectativas depositávamos.
O fundo do poço é um lugar temido pelas pessoas, porém lá no fundo pode se encontrar uma grande professora chamada “vida”, ela que anda de mãos dadas com outro professor; o “silêncio”, este último lhe priva de julgamentos alheios sem lhe expor a fofocas inférteis.
Um poço fundo, tão fundo, tão fundo que mesmo que digam que sabem como é tal fase, que mesmo que digam que sabem como é se sentir assim ou assado, lá no fundo do fundo não sabem, pois as experiências da vida são singulares, únicas, particulares, são fatos que só acontecem com você, que só ocorrem comigo e que não existe tabela pronta para se oferecer superação contra tal realidade.
Uma única dica desse que vos escreve: fuja de quem tem respostas prontas para uma vida feliz, fuja daqueles que acham que sabem como é estar no seu fundo do seu poço, pois o seu é seu e de mais ninguém!
Esteja sim por perto com a mão estendida, de vigia, mas não ache que isso bastará, há dores que necessitam ser sentidas; há fundos de poços que precisam ser pisados e deles extraído experiência de vida. Você aí, já chegou ao fundo do poço? Foge dele? Aprendeu com ele? Há pessoas que acham que foram seus heróis por terem dado um sermão pra ti? Como é sua relação com seu poço em particular? Limpa-o? Visita-o com frequência? O tem como referência, contendo nele histórias desagradáveis que lhe marcaram como pessoa?
Reflita sobre você e seu poço, não tenha pressa, tenha sim curiosidade em lidar com essa suposta realidade pessoal/ individual e crescer com ela e suas interpretações. Um grande abraço.
Thiago Pontes é filósofo e neurolinguista (PNL)