Eu tinha seis anos e minha amiga da creche, tinha cabelo loiro, olhos azuis e pele branquinha. Como éramos muito próximas, e eu sempre a achei muito bonita, pois ela era como a maioria dos desenhos infantis representavam, comecei a questionar minha mãe do por que de não ser tão bonita quanto ela (na minha mente de uma criança negra que não se via representada).
Foi desse questionamento que minha mãe teve uma iniciativa extremamente acolhedora que me toca até hoje. Ela resolveu conversar com a minha professora, a Júlia. Contou toda situação para ela e então tomaram a decisão de incluir histórias infantis de pessoas negras nas aulas.
Assim foi o meu primeiro contado com o livro ‘Menina Bonita do Laço de Fita’, escrito por Ana Maria Machado. Abro parênteses na história para contar que é o livro da minha vida até hoje!
Sinto um carinho enorme por toda história que sei que representa muitas outras meninas. Uma historinha linda de um coelho branco que pergunta para a sua amiga que tem pele negra, como ela faz pra ser assim tão bonita e pretinha. Durante o livro esse coelho sempre elogia a pele da ‘Menina bonita do laço de fita’.
O que pode parecer algo simples, mudou a forma que eu me enxergava antes e até hoje me faz refletir sobre a importância da representatividade negra em todas as fases da vida. Arrisco dizer que precisamos nos sentir representadas, principalmente na infância, que é quando nossa mente está se desenvolvendo.
Recentemente, com 15 anos assisti ao filme ‘A Pequena Sereia’ e ainda é tão tocante e importante quanto vejo alguém que se parece comigo, com os meus irmãos e com a família, numa animação.
Ver uma pessoa negra nas telas ou exercendo a profissão que tanto deseja, muda a forma como nos vemos, é inspirador e mágico!
Espero que no futuro, ao exercer a minha profissão dos sonhos, atenda crianças negras e desejo ser também uma inspiração pra elas, como hoje várias figuras negras são pra mim.
Quem quiser conferir a animação inspirada no livro ‘Menina Bonita do Laço de Fita’, pra se sentir mais perto da minha história, basta clicar neste link: https://youtu.be/UhR8SXhQv6s
Giovanna Quésia, 15 anos, acaba de ingressar no Ensino Médio e está cursando enfermagem no Cotuca. Apaixonada por arte, ela pinta quadros e até a parede do seu quarto. Seu artista favorito é Vicent Van Gogh e tem uma tela que reproduziu dele chamada Noite Estrelada.