No interior da caverna digital paira dentre inúmeras emoções o desejo. Desejamos o que não temos, por vezes somos motivados por inúmeros fatores: inveja, privilégios, fama, dinheiro, reconhecimento, poder e por aí vai… Pois muito bem, gostaria de convidar você minha querida leitora, meu caro leitor a, junto a mim, nos debruçarmos nessa temática à luz da proposta pragmática do filósofo italiano Nicolau Maquiavel. Você vêm comigo? Ótimo, pois então, mãos à obra!
Maquiavel muito mais do que um filósofo propriamente dito fora um consultor, aquele que dava dicas e sugestões para o monarca, no caso; o príncipe (título de uma obra famosíssima dele, obra essa que ele mesmo nunca escreveu muito menos leu, pois foi obra póstuma escrita por aqueles que com ele conviviam). Tendo esse fato em mãos, vamos dar sequência a nossa reflexão.
Para Maquiavel o que realmente era necessário ao príncipe para este se manter no poder era fazer de tudo, pois o que realmente importava era o foco, a finalidade (o que em grego chamaríamos de telos), o desfecho.
O príncipe queria se manter no poder como monarca governando a população, isso poderia ser feito de inúmeras formas, é claro que para ele é muito mais vantajoso ser amado, idolatrado, defendido pela população, mas é muito mais eficaz que o temam; que se sintam intimidados por ele.
Há uma frase atribuída a Maquiavel que diz respeito a essa proposta filosófica chamada de pragmatismo que é “Os fins justificam os meios” (ou as “consequências” justificam os meios).
O que seria o fim nesse caso monárquico é: manter-se no poder. O que, ou melhor, quais seriam os meios para isso: tudo (com ou sem ética). Pronto, mas você aí lendo isso poderia me perguntar: “- Mas professor Thiago, o que Maquiavel e o pragmatismo têm a ver com a caverna digital?”, pois vamos fazer tal ligação a seguir, venha comigo.
Para Maquiavel nosso estado de natureza (nossa essência) é de seres desejantes, desejamos o que não temos e temos ambição por querer sempre mais e mais… Uma vez que, segundo Maquiavel, estamos em contato com o mundo globalizado pela internet, estamos ali, reféns do desejo de ser como o outro, de ter o que ele, o que ela tem.
Talvez e/ou certamente ter e/ou ser mais do que o outro. Uns desistem em meio ao caminho, outros até pensam em dar o primeiro passo, mas desistem, aí sobram aqueles indivíduos que tem um foco, uma meta: ser, ter, custe o que custar. Pronto! O pragmatismo maquiaveliano está exposto e inserido hoje. Uma teoria que fora desenvolvida em meados de 1.500 se faz atual, percebeu?
Se ainda não percebeu posso citar um exemplo: filtros em fotos; para ser mais bem visto, afinal vale tudo para ser tido como bonito, como linda, fotos fakes, montagens, recorte da realidade que no fundo são falsas e desproporcionais tais como as sombras da caverna digital.
Percebeu agora? Sabe aquela foto da pessoa em Paris com a torre Eiffel ao fundo?
Pois é, nem sempre a pessoa que está lá, que fez a viagem se encontra no hotel 5 estrelas que ela tanto disse que estaria, talvez esteja no fundo de um quarto dormindo no chão, mas é claro que isso não é postado, assim como na vida boa de fulano ou cicrana não cabem fotos dela chorando, fracassando, errando, se cortando, tudo por não conseguir o que quer…
Como você encara tal reflexão pragmática maquiaveliana? Reconhece-se nela?
Para terminar, recordo-me de uma aluna na graduação esteticamente bonita que adentra na sala de aula as 19h revolta e esbravejando. Uma colega pergunta o que houve e ela expôs que estava com raiva, com ódio, porque postara uma foto de biquíni e jurava que iria ter 500 curtidas, mas só obtivera 300… Triste não é mesmo?
Pois é, será que estamos caminhando nessa direção, refém de uma falsa realidade? Reféns de referências distorcidas tais como as sombras na parede da caverna digital? Reflita sobre. Um grande abraço.
Thiago Pontes é filósofo e neurolinguista (PNL) – Instagram @institutopontes_oficial